O Banco do Brasil (BB) negocia a compra de um banco estrangeiro para entrar no mercado de varejo dos Estados Unidos. O plano é adquirir apenas a infraestrutura física do banco, que tem 14 agências no mercado americano em locais com grande concentração de brasileiros e sofreu fortes perdas com crédito ‘subprime’ durante a crise financeira internacional.
A vantagem de comprar um banco já existente é que, dessa forma, o BB não precisaria da autorização do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, para entrar no maior mercado do mundo. O Fed só teria que aprovar a aquisição da instituição, um procedimento bem mais simples.
"Não temos interesses nos ativos dos ‘players’ com os quais estamos negociando. Alguns estão oferecendo a rede física. O BB compraria apenas a carcaça, a infraestrutura dos bancos", informou o presidente do banco, Aldemir Bendine, em entrevista exclusiva ao Valor. Se a operação de compra for consumada, o banco alvo da cobiça do BB, disse ele, sairá "a preço de banana".
Por causa das restrições legais tanto do mercado acionário brasileiro quanto do americano, onde ações do BB são negociadas, Bendine não revelou o nome da instituição com a qual está negociando.
Essa não é a única opção do Banco do Brasil nos EUA. No início de 2008 o banco pediu autorização ao Fed para abrir um banco de varejo no mercado americano e uma empresa de remessas de valores. Até o momento, saiu apenas a autorização para a criação da subsidiária de remessas – a BB Money Transfers, que funciona desde junho deste ano.
Para entrar de forma competitiva num segmento que é bastante pulverizado, o Banco do Brasil contratou correspondentes bancários e adotou o sistema POS (as maquininhas de cartões de crédito) para fazer as transferências em tempo real diretamente para as contas dos beneficiários das remessas no Brasil.
Por causa da crise mundial, o Fed tem concentrado esforços para forçar o saneamento dos bancos americanos, onde se originou a crise com créditos ‘subprime’, evitando a entrada de novos participantes no mercado americano. Também em função da crise, o BB teve que revisar seu plano de negócios. Se o pedido for aprovado, o banco abrirá seis agências em cinco Estados: Nova Jersey, Nova York, Flórida, Massachusetts e Connecticut.
Além disso, o BB planeja estender o número de correspondentes bancários para alcançar o maior número possível de residentes brasileiros nos EUA e fechar convênios com bancos americanos para captar depósitos. "O que estamos começando a aprender é que não basta ter uma agência e achar que com isso vamos alcançar os brasileiros que estão lá fora.
A ideia, portanto, é, além de ter a nossa própria rede de agências, estender o modelo de correspondente bancário e até fazer parcerias com bancos locais para, pelo menos, colher depósitos. Para sacar, não há problema porque há terminais de ATM em todo o território americano e a rede é integrada", explicou Bendine.
O avanço da rede de varejo no exterior faz parte de um agressivo plano de internacionalização do BB. A estratégia, segundo Bendine, é expandir os negócios lá fora a partir de três "vetores": a existência de comunidades de brasileiros no exterior, a transnacionalização de grandes companhias e a expansão das relações comerciais do país com o mundo. Onde houver uma dessas condições, o BB fincará a sua bandeira.
O mercado americano reúne as três características e, por isso, será prioritário no plano de expansão. O BB já é o banco brasileiro com maior presença internacional. Está em 23 países com 44 dependências, entre agências e escritórios de representação.
A experiência de varejo mais exitosa é a do Japão, onde vivem cerca de 350 mil brasileiros. De olho nessa comunidade, o banco investiu no segmento de varejo nos anos 90, conquistando 150 mil clientes.
A principal característica do cliente brasileiro no exterior é fazer poupança. "O grande sonho dele, na realidade, é voltar para o país, com uma condição econômico-financeira melhor para tocar o resto da vida aqui", disse Bendine.
Agora, o BB quer replicar em outros locais a experiência japonesa. Nos EUA, estima-se que vivam cerca de 1,4 milhão de brasileiros. A segunda maior comunidade está no Paraguai, com 450 mil pessoas. A terceira, no Japão, e a quarta, em Portugal, com 220 mil imigrantes brasileiros. Há ainda comunidades representativas, disse Bendine, na Espanha e na Itália.
Fonte: Valor Econômico / Cristiano Romero, de Brasília