Dias atrás, as duas principais autoridades da área econômica, os ministros Guido Mantega e Henrique Meirelles, anunciaram um plano para conter a remuneração variável dos banqueiros. "A intenção é evitar que os executivos do sistema financeiro assumam riscos que depois sejam negativos para o País, para o setor público e para o próprio sistema financeiro", explicou Meirelles a uma plateia de empresários, na manhã da terça-feira 2. "Isso faz parte de um plano mundial de controle do sistema financeiro", reforçou Mantega, no mesmo encontro.
A proposta do governo, que foi disponibilizada no site do Banco Central, impediria o pagamento dos bônus totalmente em dinheiro. Os ganhos seriam divididos da seguinte forma: 50% em ações, 40% diluídos num prazo de três anos e apenas 10% sob livre escolha da instituição financeira. Em tese, a preocupação de Mantega e Meirelles é até coerente, diante do que aconteceu no mundo em 2009, conforme a revista.
Na Europa e nos EUA, bancos como UBS, Merrill Lynch, Citibank e Bank of America sofreram prejuízos bilionários porque havia um incentivo perverso. Como os ganhos dos executivos estavam atrelados a resultados de curto prazo, eles eram estimulados a fazer apostas de altíssimo risco. Resultado: os bancos quebraram, os governos injetaram trilhões no sistema financeiro, mas muitos executivos continuaram com suas mansões, aviões e iates. Um escândalo moral que levou governantes como Barack Obama, nos EUA, e Nicolas Sarkozy, na França, a iniciar uma cruzada contra os bônus dos banqueiros.
Esse mesmo discurso também foi encampado pelas autoridades econômicas do G20, o grupo das 20 nações mais ricas do mundo, no qual o Brasil tem tentado exercer um papel de protagonista.
A Federação Brasileira de Bancos, comandada por Fábio Barbosa, limitou-se a afirmar que os bancos seguem uma política conservadora de bonificação, assim como práticas rigorosas de controle de risco.
Para a Contraf-CUT, esses bônus milionários contrastam com a política de remuneração para os bancários. Na campanha salarial de 2009, por exemplo, a greve travou a manobra da Fenaban de reduzir a Participação nos Lucros e Resultados (PLR). Os banqueiros queriam distribuir menos recursos para os trabalhadores, principais responsáveis pelos lucros astronômicos dos bancos.
Fonte: Contraf-CUT com Revista Istoé Dinheiro