O Bradesco e o Santander fazem parte de uma lista de 101 empresas com proposta de remuneração com base no desempenho de 2010, mesmo que a saída de parte dos recursos do caixa ocorra apenas em 2011. Segundo reportagem publicada nesta segunda-feira, 12 de março, pelo jornal Valor Econômico, os executivos dos bancos e demais empresas podem ganhar R$ 2,44 bilhões neste ano. O montante supera em 45% o total de R$ 1,68 bilhão pago pela mesma amostra em 2009.
Além dos bancos, a lista também inclui pesos pesados como Vale, AmBev, Gerdau e Telefônica, que já divulgaram os valores efetivamente pagos no ano passado.
Tirando da conta a empresa naval OSX, de Eike Batista, que distorce os dados para cima por seu valor muito elevado, o total previsto para ser pago aos executivos soma R$ 2,09 bilhões. Mesmo com esse ajuste, o aumento anual será de 25%. Os gastos da OSX com remuneração são vultosos, superando R$ 340 milhões, mas compostos quase inteiramente por opções de ações que serão exercidas ao longo de dez anos ou em caso de venda da companhia. A atração de talentos é considerada ponto crucial dos negócios de Eike Batista.
Ainda dentro da amostra das 101 empresas, 76 previram aumentar os gastos com diretoria e conselhos em 2010. Dentro desse subgrupo, 51 orçaram um montante pelo menos 15% maior com executivos e conselheiros.
Entram no levantamento não apenas os salários fixos como também benefícios e estimativas para bônus, participação nos lucros e pagamento atrelado a ações. A leitura dos especialistas sobre os números é que as empresas pagarão mais neste ano por causa da expectativa de vendas e lucros maiores, acompanhando o crescimento da economia.
"Parte da remuneração dos executivos é variável e depende dos resultados das empresas. Como se prevê que em 2010 as companhias terão um resultado melhor, é natural que se aumente os pagamentos também", explica Alcides Leite, professor de finanças da Trevisan, lembrando que em 2009 a economia brasileira ficou estagnada e que neste ano a previsão é de crescimento entre 5% e 6%.
Dos cerca de R$ 760 milhões a mais que serão pagos aos executivos em 2010, R$ 480 milhões referem-se ao que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) classifica como remuneração variável ou pagamento baseado em ações.
O cenário positivo para a economia também aumenta o valor absoluto previsto para ser pago em ações, já que o preço mais alto esperado para os papéis influencia o cálculo das estimativas desse benefício. Também pesa nas fórmulas tradicionalmente usadas para definição desse montante o comportamento passado na bolsa. Como 2009 foi um ano de recuperação, isso se reflete nas projeções.
A empresa da área de tecnologia da informação Totvs explica que essa é uma das razões para que o valor previsto para ser pago à direção da empresa tenha subido para R$ 39,8 milhões em 2010, ante os R$ 27,9 milhões de 2009. "Nos últimos 12 meses a ação subiu muito", explica José Rogério Luiz, vice-presidente executivo e financeiro. Só em 2009, a ação teve alta de 225%. Tirando o impacto das ações, não houve aumento na previsão orçamentária para remuneração.
Além do pagamento em ações, o aumento no total de diretores de 31 para 35 também contribui para a mudança nos valores da Totvs. Ao explicar o elevado número de dirigentes estatutários, Rogério Luiz diz que isso se deve às crenças da companhia aplicadas na gestão de recursos humanos, de estimular os profissionais a compartilhar e se empenhar pessoalmente nos planos estratégicos do negócio.
Também entre as empresas que aumentarão de forma importante os pagamentos neste ano aparece a mineradora Vale. A companhia prevê R$ 78 milhões para direção e conselhos em 2010, uma alta de 68% em relação ao ano passado. Procurada, a empresa não explicou o motivo da elevação.
Nos dados enviados à CVM, aparece um salto de R$ 3,9 milhões para R$ 23,5 milhões no pagamento baseado em ações da mineradora. A alta na cotação do papel pode ter determinado parte da diferença, como no caso da Totvs Há ainda previsão de pagamento de R$ 7,4 milhões para três diretores que deixaram a Vale nos últimos dois anos. Em 2009, o pagamento a dois desses ex-executivos consumiu R$ 2,98 milhões em recursos.
Entre as empresas de menor porte também haverá aumento de remuneração. A incorporadora Inpar prevê gastar R$ 10 milhões com remuneração em 2010, quase três vezes o total pago no ano passado. Em nota, explica que a decisão "está alinhada com sua política de retenção de profissionais qualificados e experientes" e cita que o setor imobiliário está "cada vez mais competitivo" e em expansão.
Em relação à competição por profissionais, algumas companhias abertas temem que ela seja exacerbada após a abertura dos dados de remuneração dos executivos, levando a uma inflação de salários, como se verificou em experiências internacionais.
Para a sócia-líder da área de gestão de pessoas da KPMG, Patricia Molino, no entanto, esse risco existe apenas para as empresas que estiverem muito descoladas dos seus pares. Isso porque, segundo ela, as companhias já possuem informações sobre quanto o mercado paga em cada setor.
Na opinião da especialista, o que explica a previsão de aumento de gastos com executivos em 2010, além do otimismo com o crescimento do país, é uma correção em relação à remuneração internacional. "O Brasil vinha com uma diferença negativa em relação a outros países na questão da remuneração", afirma. Para ela, com o Brasil entrando na rota de investimento global, as empresas precisam passar a competir nos mesmos patamares também nesse quesito.
Fonte: Valor Econômico