O Bradesco anunciou nesta semana seu lucro no primeiro trimestre de 2009: R$ 1, 723 bilhão, uma queda de 9,6% em relação ao resultado do mesmo período de 2008. O desempenho foi considerado "fraco" pelas análises divulgadas pela imprensa e acena como argumento do banco para redução ou estagnação nos ganhos dos bancários, especialmente no caso da Participação nos Lucros e Resultados.
Mesmo considerando que um ganho de quase dois bilhões de reais possa ser lamentado, há explicações claras para esse comportamento nos ganhos da instituição financeira que não passam por "dificuldades" da empresa, mas opções de sua diretoria que não podem ser descontadas dos ganhos dos trabalhadores.
Uma delas está no conservadorismo da empresa, o mesmo comportamento que diminuiu os efeitos da crise financeira mundial nos bancos brasileiros e os deixou em boa situação em comparação com seus rivais de outros países. A prova disso está no balanço da empresa, mais precisamente na trajetória do item "Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa". Trata-se de recursos reservados pelo banco para cobrir possíveis "calotes" de tomadores de empréstimo. Essa reserva não é considerada como lucro pelo banco.
Um estudo da sub-seção do Dieese da Contraf-CUT, no entanto, mostra que as provisões do banco cresceram mais do que o índice de inadimplência efetiva no país. Como mostra o gráfico acima, a provisão subiu de R$ 8,1 bilhões em março de 2008, para R$ 10,26 bilhões em dezembro do mesmo ano e, em março de 2009, atingiu R$ 11,42 bilhões. Enquanto isso, a inadimplência se moveu bem menos, de R$ 4,35 bilhões em março de 2008 para R$ 6,19 bilhões no mesmo mês deste ano.
"A diferença entre os dois valores é crescente, o que mostra, no mínimo, um excesso de zelo do banco", avalia Elaine Cutis, diretora da Contraf-CUT e funcionária do Bradesco. "Com isso, o lucro líquido ‘oficial’ do banco diminui e derruba a PLR dos bancários, que são os grandes responsáveis pelo bom desempenho da empresa em meio a essa crise", acrescenta.
Marca internacional
O lucro de R$ 1, 723 bilhão divulgado pelo Bradesco para o primeiro trimestre de 2009 não é a única boa notícia recebida pelo banco recentemente. Um ranking internacional divulgado há alguns dias coloca a empresa como a única brasileira a entrar na lista das cem marcas mais valiosas do mundo. O banco ficou em 98º lugar, com valor de sua marca estimado em US$ 6,57 bilhões.
"A situação do Bradesco não é de se lamentar, ao contrário. O banco continua crescendo em meio a uma crise mundial que afetou de forma expressiva seu setor de atuação em todo o mundo. Não há motivo para não o repartir esses ganhos com os bancários, na forma de salários, PLR, auxílio-educação e outras reivindicações", afirma Geraldo Ferraz, diretor da Contraf-CUT e funcionário do Bradesco.
O ranking BrandZ Top 100 é organizado anualmente desde 2007 pelo jornal Financial Times, pela consultoria Millward Brown Optimor e pela empresa de pesquisas Datamonitor. O primeiro lugar foi ocupado pelo Google pela terceira vez.
Fonte: Contraf-CUT