Membro da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o mercado das apostas esportivas no Brasil, a CPI das Bets, o senador e atual presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) Humberto Costa (PT-PE), avalia que o país ainda não está preparado para lidar com os impactos sociais, econômicos e de saúde pública decorrentes da popularização das apostas em jogos online.

Em entrevista exclusiva à Fenae, entidade que segue em alerta para o impacto das apostas online no país, o parlamentar critica a atuação das empresas do setor e defende medidas mais rigorosas, como restrições à publicidade e o fortalecimento das políticas de prevenção e tratamento da dependência. “Precisamos tratar esse problema como tratamos o cigarro. É uma dependência, uma doença, que precisa de atuação do Estado”, afirma.

Confira os principais trechos da entrevista:

Fenae: A popularização das apostas online tem gerado uma série de preocupações, especialmente em relação ao aumento dos casos de vício. Na sua avaliação, o Brasil está preparado, do ponto de vista legal e de saúde pública, para enfrentar essa nova realidade?

Humberto Costa: Os problemas gerados por essa verdadeira febre das apostas são muitos, desde ilegalidades, mesmo após a regulação, até questões de saúde pública. Vemos espaços para lavagem de dinheiro e acobertamento de outras atividades criminosas. É uma questão muito grave, inclusive do ponto de vista de saúde pública, pois há uma dependência de satisfação individual, algo que acontece como as drogas. Acredito que o país, apesar de ter promovido a regulamentação, não está aparelhado, nem adequadamente preparado para fazer uma regulação como deveria ser. Me preocupa, inclusive, porque a aposta ilegal continue viva. Mesmo as que estão aí, reconhecidas e legalizadas têm braços no campo das apostas clandestinas. E, do ponto de vista de saúde pública, eu também acho que nós precisamos nos preparar melhor para lidar com esses casos, tanto na prevenção, com campanhas educativas, especialmente para jovens, quanto no tratamento, estruturando nossos serviços para atender pessoas dependentes.

Fenae: O senhor acha que a publicidade das apostas online deveria sofrer restrições mais severas?

Humberto Costa: Com certeza. É uma atividade que gera dependência, então precisa ser controlada em vários aspectos, inclusive no aspecto preventivo, especialmente com campanhas educativas que devem acompanhar os jovens nas escolas. Mas também com publicidade, campanhas públicas de esclarecimento quanto aos problemas gerados por isso. Precisamos de campanhas educativas nas escolas e na sociedade, com participação dos ministérios da Saúde e da Educação. Defendo que a publicidade de apostas seja tratada como fizemos com o cigarro, que é uma dependência muito grave e que conseguimos reduzir bastante no Brasil. Isso é papel do governo, da academia e da sociedade. A restrição da publicidade que busca estimular as pessoas é uma das formas de evitar que sejam estimuladas a continuar apostando.

Fenae: O senhor acredita que as empresas do setor estão, de fato, cumprindo seu papel na prevenção ao vício?

Humberto Costa: De forma alguma. Elas escondem a sete chaves quanto gastam com publicidade, mas sabemos que patrocínio de clubes de futebol, patrocínio de eventos esportivos e culturais são altíssimos. São coisas que acontecem livremente e cujos gastos correspondem a um valor muitíssimo maior do que aquele que está previsto para campanhas de esclarecimento, para a conscientização das pessoas. Se vai jogar, pelo menos que jogue minimamente com algum tipo de controle, sendo advertido por várias coisas. E isso, nem de longe, essas empresas têm feito.

Veja o vídeo:

Fonte: Fenae