Crédito: Jailton Garcia
Nelson Karam, economista do Dieese, faz análise de conjuntura no 23º Congresso do BB
Rede de Comunicação dos Bancários (*)
É necessário distribuir renda
A economia brasileira cresceu 2,7% em 2011, o que para Nelson Karam é insuficiente para gerar a quantidade de empregos que o país precisa. O Brasil já possui a sexta economia do mundo, mas a renda é muito concentrada. "Enquanto no Brasil a renda per capita é de US$ 14 mil, nos EUA é de US$ 45 mil. Precisamos de uma economia forte e uma renda distribuída de forma menos desigual", afirmou o economista do Dieese.
Karam abordou o movimento de confronto do governo com o sistema financeiro, segundo ele tardio, para que os juros abusivos sejam reduzidos a fim de alavancar o crescimento econômico, o que é defendido há bastante tempo pelo movimento sindical. "A taxa real de juros aplicada no Brasil é de 3,4% ao ano. É uma taxa muito elevada se comparada à Europa e aos Estados Unidos, que praticam taxa de juros real negativa", afirmou Karam.
Segundo o economista do Dieese, é fundamental repensar as altas taxas de juros praticadas no país, que transferem parte da riqueza nacional para o sistema financeiro. "É necessário reduzir ou estancar o conjunto de riquezas sem contrapartida real gerada pelo rentismo, que é a financeirização da economia em busca da especulação e de uma boa taxa de juros. A transferência da riqueza para a produção abre a possibilidade real de colocar a economia brasileira numa rota de crescimento mais sustentável."
Para Karam, é preciso fortalecer o mercado interno para alavancar o crescimento brasileiro. "O Brasil desvia R$ 200 bilhões por ano para pagamento de juros e serviços da dívida. O valor é três vezes o orçamento da educação e duas vezes o da saúde. Se nenhuma ação for tomada, acabaremos repetindo o crescimento do ano passado de 2,7%, que é insuficiente para pensar o país numa base menos desigual e concentrada", concluiu o economista.
Chororô dos bancos
Na avaliação de Nelson Karam, os bancários precisam reagir no sentido de desconstruir o discurso das instituições financeiras de que a queda de juros e do spread bancário e as alterações nas regras da caderneta de poupança inviabilizarão a concessão de aumento real de salário na Campanha Nacional deste ano. "Os bancários precisam apontar para as instituições financeiras que elas precisam se reposicionar", analisou.
Segundo o economista do Dieese, o papel dos trabalhadores será mostrar que o chororô dos bancos por conta da redução dos ganhos fáceis com a especulação financeira pode ser compensado com o aumento da concessão do crédito produtivo. Para ele, as instituições financeiras podem aumentar suas margens de lucros com a elevação do crédito. "Extremamente benéfica, a medida, além de compensar uma possível perda de ganhos das instituições financeiras, impulsionará a economia brasileira, com a criação de mais empregos e aumento da circulação de capital".
Durante sua análise, acompanhada atentamente por mais de 300 bancários e bancárias de todo o país presentes ao Congresso, Karam reforçou que o desenvolvimento do país passa, necessariamente, pela redução dos juros. "A margem do spread bancário praticada pelo Brasil é de 28%, uma dos maiores do mundo. Incentivadas pelo governo, as medidas tomadas recentemente sobre o assunto vão na direção de abrir mais espaço para a economia brasileira e é assim que deve ser. É preciso que se mexa nessa estrutura para que o Brasil avance de fato", destacou.
Reuniões de grupos
O 23º Congresso prossegue neste sábado 16 à tarde com reuniões de grupos sobre os seguintes temas:
1 – Remuneração e condições de trabalho;
2 – Saúde e Previdência;
3 – Organização do movimento;
4 – Banco do Brasil e o SFN.
A Comissão de Empresa dos Funcionários do BB, que assessora a Contraf-CUT nas negociações com o banco, sistematizou as propostas aprovadas nos eventos preparatórios, a fim de identificar e organizar os consensos e as polêmicas. Também foram analisadas as sete teses inscritas, verificando igualmente os pontos convergentes e os divergentes, a fim de facilitar os debates.
O Congresso termina no domingo com a plenária final.
(*) José Luiz Frare, Júnior Barreto e Rodrigo Couto