"O pior da crise econômica já passou, mas não podemos perder o momento para avançar nesse debate", diz a fonte.
A avaliação é de que Brasil, Índia, Rússia e China têm peso econômico suficiente para "forçar" uma reforma em instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, mas que, para isso, precisam de "coordenação, de empenho".
O subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty, embaixador Roberto Jaguaribe, disse que existe uma "pressão crescente" na esfera internacional de que a reforma do sistema "não seja necessária".
"Temos uma preocupação em levar adiante as reformas necessárias para evitar que a crise se repita. Precisamos consolidar esse processo, porque alguns países já estão achando que (as reformas) não sejam importantes", disse o embaixador.
Citando estimativa do Fundo Monetário Internacional, Jaguaribe disse que os Brics serão responsável por 61% do crescimento econômico mundial, no período de 2008 a 2014.
A sigla Bric foi criada em 2001 pelo banco de investimentos Goldman Sachs, em um artigo sobre as potências econômicas do futuro, e acabou sendo abraçada pela diplomacia dos quatro países.
A cúpula dos chefes de Estado, inicialmente prevista para sexta-feira, foi antecipada a pedido do presidente da China, Hu Jintao.
O líder chinês, que ficaria em Brasília até a manhã de sábado, antecipou sua partida para a noite desta quinta-feira devido aos fortes terremotos que atingiram a província de Qinghai, no noroeste da China.
Moeda
Sobre a discussão quanto a uma moeda que sirva de alternativa ao dólar, Jaguaribe disse que o assunto continua sendo analisado pelos quatro países, mas "ainda em nível técnico".
O tema dominou a 1ª cúpula dos Brics, em junho passado, depois que o governo chinês apontou a "primazia" do dólar americano como um dos responsáveis pela disseminação da crise.
De acordo com Jaguaribe, os quatro emergentes têm "fortíssimo interesse" na manutenção do equilíbrio na área financeira, mas a discussão sobre uma nova moeda será feita "sem pressa".
Segundo o embaixador, os representantes dos Brics estão preocupados em promover uma substituição do dólar que seja "imperceptível" e "sem especulação".
"Inventar jogadas que vão gerar marolas não faz parte dos planos de nenhum dos países envolvidos", disse Jaguaribe. "Não estamos pensando em uma mudança rápida", acrescentou.
O assunto, segundo ele, não será incluído na pauta formal de debate dos chefes de Estado, estando restrito a um seminário, promovido pelo Banco Central do Brasil, com técnicos das instituições dos quatro países.
‘Ponto forte’
Segundo o Itamaraty, o "ponto forte" da coordenação entre os Brics têm sido as áreas financeiras e econômica, com conversas "frequentes" entre Bancos Centrais e Ministérios da Fazenda dos quatro emergentes. "E a expectativa é de que o foco siga sendo esse", disse uma fonte do Ministério.
Por sugestão do Brasil, a reunião de chefes de Estado é precedida por uma série de eventos paralelos. Além de empresários dos quatros países, representantes dos respectivos bancos de desenvolvimento e de bancos comerciais também se reúnem em Brasília nesta semana.
Uma fonte do Ministério da Fazenda disse à BBC Brasil que o governo brasileiro, principalmente, sente-se "incomodado" com a "ausência" de bandeiras de bancos brasileiros em outros países em desenvolvimento.
"Estamos discutindo com nossos pares nos outros três países uma forma de estimular a presença dessas instituições nesses países, o que facilitaria em muito o comércio", diz o representante da área econômica.
A avaliação do governo brasileiro é de que as instituições brasileiras, apesar de fortes no mercado nacional, não estão acompanhando a "nova dinâmica das relações comerciais entre os países do Sul".
Fonte: BBC Brasil