Revista Exame
O Brasil tem condições de não sofrer contágio caso a situação de outros países se agrave, afirmou o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, em entrevista à revista Exame. “O Banco Central sempre espera pelo melhor e se prepara para o pior”, disse.
Ele chamou a atenção para o fato de a dívida externa hoje responder por uma pequena parte das reservas internacionais. E que a dívida de curto prazo do país “é bastante moderada”.
Outra ação citada por Tombini para tornar o país mais resistente foi o trabalho para conter a expansão dos empréstimos no mercado interno. “Em 2011, falava-se em bolha de crédito ao consumo. Recentemente, a inadimplência caiu.”
O dirigente do BC afirmou ainda que a instituição vai ajustar seus instrumentos com o objetivo de trazer a inflação para baixo e manter a alta dos preços sob controle. Ele notou que o BC acumulou reservas internacionais e que pode fazer uso desse “colchão” para suavizar os ajuste e reduzir o impacto da depreciação da moeda brasileira sobre o lado real da economia.
Questionado sobre quando a inflação atingirá o centro da meta, de 4,5%, Tombini evitou uma resposta direta e afirmou que o objetivo do BC é “sempre 4,5%”, até que o Conselho Monetário Nacional (CMN) defina um novo valor.
Na entrevista, ele reafirmou que “quanto maior o esforço fiscal, melhor”, mas observou que quem define isso “é o governo”. “Os objetivos fiscais dos últimos anos ajudaram a criar condições propícias para o desenvolvimento da economia”, disse.
“Podemos enxergar este momento como uma oportunidade de nos ajustar e aumentar a produtividade da economia”, afirmou.
O presidente do BC comentou ainda que o déficit em transações correntes é financiável apesar das mudanças no cenário internacional, lembrando que quase 80% do déficit em 2013 fora financiado por investimento estrangeiro direto (IED).
“Nossos dados mostram que começamos bem o ano, atraindo investimentos”, disse Tombini, acrescentando que o déficit em conta corrente “não tira o sono do Banco Central”.
Tombini afirmou ainda que o Brasil tem agora uma “excelente oportunidade” para aproveitar a recuperação da economia mundial e do comércio externo a fim de exportar mais.
O dirigente do BC observou também que “não se pode confundir ajuste com fragilidade”, ao explicar o recente aumento da volatilidade dos mercados. “Os preços relativos dos ativos financeiros, como as moedas e as taxas de juro, precisam se ajustar. Faz parte do processo”, afirmou.
À revista Exame, ele explicou que há uma mudança de cenário global em curso, com a perspectiva de melhora nos países avançados, especialmente nos Estados Unidos, que gera a revisão para cima da perspectiva de crescimento da economia mundial e também do fluxo de comércio entre países. Essa mudança, diz, “é positiva e beneficia os países emergentes”. Durante o período de transição, como o atual, “há muita volatilidade”.
