Estudo da FGV mostra que a classe média não pára de crescer, enquanto o número de pobres diminui. Mas, para grande parte da imprensa, isso não é notícia – São Paulo – A crise financeira internacional não atingiu a grande maioria dos brasileiros. Os mais pobres não pararam de subir na escala social e a classe média brasileira continua a crescer mesmo após o agravamento das turbulências, em setembro passado.
Os dados são do estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas e organizado pelo economista Marcelo Néri. O levantamento aponta que o movimento de ascensão dos mais pobres, no Brasil, não foi interrompido com a turbulência na economia mundial e que a classe média emergente continua crescendo nas seis principais metrópoles do país (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre). Néri mostra que a classe média (C) cresceu 3,7% em 2008, representando, em dezembro, 53,8% da população. Mesmo após o agravamento da crise, em setembro, houve um crescimento de 1,24% até dezembro. Esse crescimento tem sido engordado pelos ex-integrantes das classes D e E, que continuaram encolhendo comparado aos anos anteriores. Enquanto 6,79% da classe D migrou para classes mais altas, na classe E, esse percentual chegou a 8%.
Já as classes A e B, as mais altas da pirâmide social brasileira, fazem o movimento para baixo desde o agravamento da crise financeira internacional em setembro do ano passado, caindo 0,65% no período compreendido até dezembro.
Marcelo Néri ressaltou a importância das políticas públicas de transferência de renda e injeção de demanda pública em momentos como este. Ele citou como exemplo o programa Bolsa Família que, segundo ele, atende 25% da população brasileira. Na opinião do economista, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) é outra ferramenta importante no amortecimento da crise na economia do país, além de melhorar a logística local.
"O PAC é um plano que talvez não fizesse muito sentido quando ele foi lançado como um plano de aceleração do crescimento, porque a economia estava muito aquecida, e hoje em dia é visto quase como um New Deal americano (programa de aquecimento econômico do presidente americano Franklin D. Roosevelt implementado entre 1933 e 1937) numa época em que comparações com a grande depressão americana (de 1929) começam a se tornar mais comuns. Então, é meio como se o Brasil criasse um New Deal antes que a depressão fosse anunciada", disse Néri.
"Aqueles que acham que o Brasil estava com sorte, alguns anos atrás (conforme diz a imprensa e a oposição para desmerecer o crescimento continuado dos últimos anos), que sorte temos agora, porque é como se tivéssemos um bilhete de loteria, um seguro que não sabíamos que tínhamos", completa o economista.
Furo – A notícia parece um furo de reportagem do Sindicato dos Bancários, mas não é. O fato é que grande parte da imprensa resolveu esconder o resultado do estudo realizado pela FGV, divulgado na última quarta-feira, dia 11. Nenhum dos grandes jornais deu chamada de primeira página para o estudo da FGV. A cobertura limitou-se a notas escondidas e curtas nas páginas internas. A maioria dos telejornais ignorou o estudo.
"O levantamento da FGV é uma ótima notícia que interessa para a grande maioria da população brasileira e que poderia acalmar o pânico que muitos querem ver crescer. Mas o fato de as classes mais pobres estarem em plena ascensão social durante a maior crise financeira das últimas décadas não é notícia para grande parte dos veículos de comunicação. A imprensa tem coberto a crise com um noticiário catastrófico, que cria o clima ideal para demissões e rebaixamento de salários, enquanto que, na realidade, a crise não se instalou para muitos brasileiros", afirma Luiz Cláudio Marcolino, presidente do Sindicato.
Fonte: Seeb-SP/ Fábio Jammal Makhou