A Caixa Geral de Depósitos (CGD), controlada 100% pelo governo português, está reduzindo o ritmo de concessão de novos empréstimos em dólar ao Brasil, ao mesmo tempo em que, com sobra de capital no mercado interno, procura aumentar o crédito em reais. "Com a alta de nossos custos de captação por causa da crise de dívida na Europa, perdemos competitividade para fazer empréstimos em dólar para companhias brasileiras", diz o presidente do conselho da instituição financeira no Brasil, Rodolfo Lavrador, também membro do conselho administrativo da matriz em Portugal.
 

"Esperamos que isso seja uma situação temporária", disse a presidente executiva no Brasil, Deborah Stern Vieitas. Os empréstimos em dólar da CGD a empresas do Brasil somam de US$ 600 milhões a US$ 700 milhões, mas são contabilizados fora do país e não usam o capital em reais.

No mercado interno, no primeiro ano inteiro de atuação como banco de atacado no Brasil, a CGD teve lucro líquido de R$ 11,1 milhões em 2010. Seus ativos foram a R$ 725 milhões, três vezes o valor do final de 2009. A carteira de créditos mais garantias chegou a R$ 400 milhões.

Com patrimônio líquido que totaliza R$ 413,8 milhões, a CGD tem um índice de alavancagem (Basileia, relação entre o capital e os ativos ponderados pelo risco) superior a 50%. Precisa colocar o capital para trabalhar, ainda mais considerando-se que o lucro de R$ 11,1 milhões não será distribuído, mas incorporado ao patrimônio, reduzindo ainda mais sua alavancagem.

"Precisamos ampliar nossa base de clientes com ativos de qualidade em reais", disse Deborah Vieitas. O banco tem participado até de financiamento de projetos em reais com prazo de vencimento em seis anos, como um parque de energia eólica no Ceará.

 
Segundo Lavrador, a ideia de crescer o capital da CGD no Brasil foi dotar o banco com a capacidade para fazer empréstimos de R$ 100 milhões por grupo econômico. Pela regra do Banco Central, um banco pode emprestar, no máximo, 25% de seu patrimônio líquido por grupo econômico. "Sempre que necessário, ampliaremos o capital no país", diz o executivo. Desde abril de 2009, quando inaugurou seu banco de atacado no Brasil, a CGD já trouxe R$ 529,5 milhões para o Brasil, incluindo os R$ 129,5 milhões para comprar 70% da corretora do banco português Banif.

Para realizar mais empréstimos em reais, o banco pretende reforçar sua captação de recursos no mercado interno, afirma Deborah Vieitas. Além do tradicional Certificado de Depósito Bancário (CDB) comprado por investidores institucionais e até pessoas físicas, a CGD acaba de lançar sua primeira Letra Financeira (LF), de R$ 1,5 milhões e de prazo de vencimento em dois anos, ao custo de 111,25% dos juros do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI). No final do ano passado, o total de captações de recursos no mercado interno da CGD estava em R$ 183 milhões.

O banco foca sua atuação no atendimento a empresas portuguesas e espanholas com presença no Brasil, mas também tem dado especial atenção a grupos brasileiros com negócios em países nos quais tem forte presença – além da Península Ibérica, o grupo atua em diversos países da África, na China e Índia. Tem presença em mais de 24 países. "Vamos abrir bancos de desenvolvimento em parceria com os governos de Angola e Moçambique e isso pode potencializar mais nossa atuação", afirma Lavrador.

Com a aquisição de 70% da corretora do Banif, anunciada em junho mas ainda não aprovada pelo Banco Central, a ideia é crescer sua participação no mercado de coordenação e distribuição de emissões de ações no país, unindo forças com sua rede internacional de distribuição junto aos investidores pessoas físicas e institucionais. Do total de receitas da CGD no Brasil em 2010, de R$ 63 milhões, 30% vieram da prestação de serviços. O banco foi um dos assessores da Portugal Telecom na transação de venda de sua participação na Vivo para a Telefónica e realizou emissões de debêntures para companhias no mercado interno.

Há cerca de dois meses, a CGD abriu uma área de gestão de recursos de terceiros para pessoas físicas "qualificadas", que queiram investir valores superiores a R$ 300 mil. O responsável é o português João Botelho, que já trabalhava na CGD e foi realocado.

O banco planeja ainda comprar uma gestoras de recursos que atue também com clientes institucionais. "Olhamos algumas empresas, mas até agora não encontramos nenhuma com a perenidade e rentabilidade esperadas", diz a executiva.

Em nível global, a Caixa Geral de Depósitos teve lucro de ? 250 milhões no ano passado, uma queda de 10% na comparação com o ano anterior. A razão: a desvalorização das ações de empresas, como a Galp e a Portugal Telecom, que a CGD tem em sua carteira. As perdas com essa marcação a mercado chegaram a passar ? 340 milhões.

 
Fonte: Valor Econômico / Cristiane Perini Lucchesi

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