Como parte dos planos para crescer "fortemente" no Brasil, o Santander vai atuar "mais agressivamente" em setores como o mercado de cartões de crédito, afirmou ao Valor o diretor geral do banco, Marcial Portela. "Queremos crescer acima do mercado", anunciou o executivo, um dos mais poderosos do banco espanhol, presidente do conselho de administração do Santander no Brasil, em uma rara entrevista.
O banco, que calcula ter hoje participação de aproximadamente 13% no setor bancário no Brasil, quer chegar ao fim de 2011 com 13,5%, e abrir 600 agências, com a contratação de cinco mil funcionários nos próximos quatro anos. Entre os planos para ampliar o número de clientes, o Santander aposta na parceria anunciada neste mês com a empresa gaúcha GetNet, para credenciamento de lojistas no uso de cartões. "Queremos crescer mais agressivamente que o mercado, pela via de inovação, proporcionando facilidades aos clientes", argumenta Portela. "Por isso lançamos o novo projeto de terminais no comércio."
As declarações do executivo, que tem feito visitas regulares ao Brasil, mas é habitualmente avesso a fotos e entrevistas, confirmam as especulações no mercado de que a recém-anunciada parceira com a GetNet faz parte da estratégia do Santander para atrair clientes entre as pessoas jurídicas credenciadas nas redes de cartões.
Portela prevê crescimento em torno de 5% para o Brasil nos próximos anos. A perspectiva de forte crescimento no mercado do país levou o banco, segundo conta, a tomar a iniciativa durante a crise financeira, em dezembro, quando o Santander informou o Banco Central que duplicaria os recursos à disposição das empresas, de US$ 3 bilhões, para US$ 6 bilhões. "Foi um sinal importante, que levou outros bancos a também ampliar linhas."
Com a associação ainda em análise pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o banco evita dar detalhes sobre o acordo com a GetNet. Portela informa que quer trazer para a estrutura do banco o processamento das operações com cartões, hoje terceirizadas.
O Brasil, onde o banco fez recentemente a maior oferta de ações (IPO) de uma empresa estrangeira na América Latina, com captação de R$ 14 bilhões, passou a ser uma das três principais praças de atuação do Santander nos próximos anos, com Espanha e Reino Unido, confirma Portela.
O Brasil representa, hoje, cerca de 20% das operações do Santander, e continuará mantendo essa percentagem, prevê o executivo. Mas o volume de operações deve crescer, com os planos de expansão mundial da instituição, assegura. "O grupo crescerá bastante nos próximos anos, harmonicamente, em distintos países, e o Brasil será um dos três primeiros países em importância para o grupo, com a Espanha, que é nossa base, e o Reino Unido", diz Portela.
Ele diz que tem sido assediado por ofertas de venda de instituições bancárias, mas que o banco não tem planos novos de compra, além da realizada em 2007, com a aquisição do ABN AMRO, que levou à incorporação do Real no Brasil.
"Com o IPO, as pessoas pensam que temos mais apetite de compra; temos apetite moderado", comenta. "Nosso grande objetivo é crescer organicamente", afirma ele, ressalvando, porém, que não deixará de analisar "se aparecer algum ativo em algum campo que pareça interessante".
Para o economista Juan Carlos Martinez-Lázaro, professor da Instituto de la Empresa Business School, em Madri, a aparente falta de apetite do Santander se explica pelo processo, ainda em curso, de absorção do Real. "No Reino Unido, fizeram o mesmo ao comprar o Abbey; só três anos depois, voltaram às compras, e adquiriram o Alliance & Leicester e o Bradford & Bingley", diz Martinez-Lázaro.
As operações bancárias do Santander na Inglaterra foram um exemplo de sucesso, segundo mostrou o próprio banco ao divulgar, recentemente, os resultados do terceiro trimestre, que mostraram aumento de quase 40% nos ganhos desses bancos nos primeiros nove meses do ano. O lucro de 1,3 bilhão ajudou a compensar as perdas em outros mercados, como o espanhol, e garantiu a manutenção dos ganhos, nos primeiros três trimestres, em cerca de ? 6,74 bilhões.
Portela afirma que o sucesso do IPO não mudará substancialmente o status do braço brasileiro do Santander, cujo presidente executivo, Fábio Barbosa, garante, já tem grande autonomia operacional e administrativa – ainda que ele acompanhe de perto a atuação do banco. "As decisões, quem toma é o Fábio", assegura.
A principal mudança, segundo o dirigente do Santander, foi o aumento da transparência e da "governança", com a incorporação dos membros independentes do Conselho de Administração, o economista José Roberto Mendonça de Barros, Viviane Senna e um terceiro nome, ainda em análise pela CVM, com grande experiência em análise e auditoria.
Fonte: Valor Econômico / Sérgio Leo, de Madri