"A proposta é mais atual do que nunca. Não sei quantos Carlinhos Cachoeiras querem ver para saber que neste sistema atual até o dinheiro do crime organizado tem facilidade de entrar na eleição", afirma o relator da Comissão, deputado Henrique Fontana (PT-RS).
"(O Caso Cachoeira) dá uma força para o projeto, porque mostra com mais clareza que, além do abuso de poder econômico feito de maneira legal, que torna desequilibrada a eleição, o sistema de financiamento atual é uma espécie de paraíso para o crime organizado e para o dinheiro da corrupção entrarem para dentro da política", complementa.
Fontana já está com o texto pronto há meses, mas não consegue colocar em votação. Na quarta-feira (18), houve uma reunião que o petista qualifica como difícil e disputada. "Um grupo de deputados que se opõe ao financiamento público procura usar um conjunto de manobras obstrutivas. Hoje, inventaram uma nova: a posição de que se fizesse uma votação preliminar sobre sistemas eleitorais, de forma genérica, antes de se apreciar o relatório", relata. Com o impasse, não se votou nem uma coisa nem outra.
"Quarta-feira que vem irei para um novo embate. Colocarei em votação em todas as sessões, até ser votado", avisa Fontana. "Como faz vinte anos que o país precisa de uma reforma política, não posso me apavorar por dez semanas a mais ou a menos", diz.
Entre os parlamentares que têm feito manobras obstrutivas, se destaca o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que tem sido uma espécie de líder dos defensores do financiamento privado. "Ele está acostumado a fazer campanhas caras, então tem medo de campanhas mais igualitárias", alfineta o relator da comissão.
Fontana relata que o PMDB não está todo fechado com Cunha. O deputado Alceu Moreira (RS), por exemplo, apoia o financiamento público.
Para os defensores do financiamento público, o lado positivo das reiteradas obstruções é que são um forte indício de que os adversários da proposta temem ser derrotados. "Aqueles que, de fato, querem derrotar o relatório estão sentindo que nós temos maioria na comissão. Por isto criam alternativas para impedir a votação", aposta Fontana.
Durante a sessão de quarta-feira, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire, fez aparte para complementar o que defendia Fontana. "O financiamento público de campanha é a saída para escândalos como o que o país está assistindo, da ligação do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o Estado brasileiro", afirmou.
Freire reforçou que o escândalo ajuda a votar o financiamento público de campanha. "Esta CPI vai tratar, dentre outros fatos, da questão do financiamento ilícito de campanha. É um bom momento para você refletir sobre como enfrentar este crime, como enfrentar os processos de corrupção que daí derivam", disse.
Fonte: Felipe Prestes – Sul21