As chuvas que atingiram a região serrana do Rio de Janeiro na madrugada de quarta-feira 12 deixaram pelo menos 350 mortos até esta quinta-feira 13, em uma das maiores catástrofes recentes do país. As cidades mais atingidas foram Teresópolis, com 114 mortes, e Nova Friburgo, com 107, incluindo três bombeiros. Petrópolis registrou outros 18 óbitos, principalmente no distrito de Itaipava.
Em Teresópolis não foi diferente. Queda de barreiras nas estradas, inundações e deslizamentos de encostas provocaram a morte de pelo menos 114 pessoas, deixaram 2 mil desabrigados e até 75 mil consumidores ficaram sem luz depois que a enxurrada derrubou a linha de transmissão da distribuidora Ampla que abastece a cidade. No início da noite, 23 mil clientes ainda estavam sem energia.
Bombeiros, concessionárias de serviços públicos e cidadãos que tentavam ajudar no resgate de feridos encontravam dificuldades para chegar aos locais de desabamentos. O número de mortos na tragédia podia aumentar justamente por essa dificuldade de acesso a vários locais atingidos por deslizamentos e inundações. Para ajudar no deslocamento de equipamentos e pessoal, o Ministério da Defesa autorizou a Marinha a atender o pedido de auxílio feito pelo governo estadual. A Marinha aceitou ceder dos helicópteros para auxiliar o transporte de equipamentos e pessoal da Defesa Civil para as áreas atingidas.
A região mais afetada de Petrópolis foi o Vale do Cuiabá, área que recebe enxurradas sempre que chove forte na serra de Teresópolis, por meio da estrada que liga as duas cidades. É nesse vale onde estão as casas de veraneio da família Gouvêa Vieira, entre elas a do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira.
A família alugava uma casa que foi completamente destruída pelas águas das encostas. Morreu o ex-executivo do mercado segurador Armando Erick de Carvalho, sua mulher Kitty, e a filha, a estilista Daniela Conolly, com o marido e o filho e a babá da criança. Também morreram os três sobrinhos de Daniela, filhos do irmão da estilista, o economista Erick Conolly, diretor da Icatu holding. Sobreviveram apenas três pessoas, a mulher, o sogro e a filha mais velha de Erick.
Em Nova Friburgo, foi registrado, das 9 horas de terça-feira até as 9 horas de ontem, um índice pluviométrico de 182,8 mm – o índice esperado para janeiro inteiro era de 199 mm. Desde o começo do ano, as chuvas acumuladas na cidade são de 366,8 mm, 84% a mais do que a média do mês. Em Teresópolis, o volume de chuva registrado nas mesmas 24 horas chegou a 124,6 mm. Com isso, as chuvas acumuladas no mês chegaram a 219 mm – o esperado para todo o período era entre 140 e 200 mm.
Entre as concessionárias de serviços públicos nas três cidades, o maior problema foi mesmo o corte do fornecimento de energia. Ampla e Energisa não deram prazo para o restabelecimento da energia em Teresópolis e Nova Friburgo, respectivamente. A Ampla desligou no fim da tarde 14 mil clientes em Areal, depois que a subestação foi inundada. A companhia ressaltou, além da queda da linha de transmissão e da inundação da subestação, que 26 postes foram soterrados por um deslizamento de terra ocorrido em um trecho de dois quilômetros na estrada que liga Teresópolis a Nova Friburgo.
Já a Energisa foi obrigada a cortar toda a energia de Nova Friburgo e Sumidouro depois que três subestações foram inundadas. No início da noite, a previsão do diretor presidente da companhia, Gabriel Alves Pereira Junior, era de que apenas 10% dos consumidores do Nova Friburgo tivessem a energia religada ainda ontem, enquanto Sumidouro, com 5 mil clientes, estaria com o fornecimento restabelecido hoje. Ele não deu previsão para a volta do fornecimento a todos os clientes de Nova Friburgo.
As empresas de telefonia também tiveram problemas com a chuva. Nova Friburgo ficou praticamente sem contato com o exterior durante todo o dia, dependendo apenas de alguns telefones fixos que eventualmente funcionavam e de rádios amadores.
A presidente Dilma Rousseff vai sobrevoar hoje a área atingida pelas chuvas. Desde ontem o governador Sergio Cabral mantém contato com o governo federal e o Ministério do Planejamento anunciou que serão liberados R$ 700 milhões para ajudar os Estados atingidos por chuvas, principalmente o Rio de Janeiro. Ontem, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, sobrevoou a região, acompanhado do secretário de Estado da Casa Civil, Regis Fichtner, e do subsecretário executivo de Obras, Hudson Braga.
Os moradores e os governantes têm motivos para se preocupar, já que as chuvas devem continuar atingindo a região até sábado. "Existe naturalmente um corredor de baixa pressão atmosférica vindo de Minas Gerais e que favorece a intensificação das chuvas na região serrana do Rio, na divisa com Minas. Uma frente fria vinda do sudeste, que já atua em Minas, Goiás e São Paulo é a que agora está no Rio", explicou Marlene Leal, meteorologista do Inmet.
Fonte: Valor Econômico, com agências de notícias