Meirelles defendeu também o mesmo modelo para a Petrobras e o Banco do Brasil. “A Caixa está sendo preparada para isso, com o novo estatuto e etc. Com o tempo, podemos até pensar, sim, em abrir o capital, começar a vender participação privada”, afirmou.
Em nota, o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas disse que a declaração de Meirelles só vem corroborar o que há tempos é denunciado pelos movimentos sindical e social, por intermédio de suas entidades.
“Acho que o ex-ministro se esqueceu que foram esses movimentos, junto com a mobilização dos empregados e da população, que por duas vezes conseguiram derrubar a transformação da Caixa em sociedade anônima”, diz na nota a coordenadora do comitê e representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa, Rita Serrano, lembrando que “há outra estratégia de privatização em curso na CEF, que é a venda de ativos do banco, como as Loterias Instantâneas (a Lotex), cujo leilão deve ocorrer em julho”.
Segundo a dirigente, no início de 2016, quando a privatização das Loterias Instantâneas entrou em discussão, o governo esperava arrecadar aproximadamente R$ 4 bilhões, mas, como não houve interessados, baixou a oferta a R$ 450 milhões, de olho nas empresas estrangeiras.
“E assim o Brasil perde duas vezes. Perde nos valores que iriam para investimento social e perde com as divisas”, avalia, acrescentando que até agora só uma multinacional se mostrou interessada. “Na verdade, o governo vai doar essas loterias”.
Uma “doação” que fere de morte os recursos para o desenvolvimento social, como se já não bastassem os cortes promovidos pela PEC do Teto ou os desvios que ocorrerão para subsidiar o diesel.
Só em 2016, as loterias arrecadaram R$ 12,8 bilhões. Cerca de 40% deste valor foram repassados para investimentos em áreas sociais como cultura, esportes, educação, em programas como o Financiamento Estudantil (Fies); na seguridade social e no fundo penitenciário nacional.
Um estudo sobre as loterias, inclusive sob o aspecto jurídico da privatização, está sendo realizado para a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae) e o Comitê, que deverá ser divulgado em breve.
Candidatos de direita defendem privatizações
Além de Meirelles, também o pré-candidato Flávio Rocha (PRB) disse ser a favor do Estado mínimo e defendeu a privatização de uma série de estatais – se Meirelles foi CEO do Bank of Boston e um dos criadores do banco Original, Rocha é dono das lojas Riachuelo.
Outros, como Geraldo Alckmin (PSDB), tentaram tergiversar sobre o tema, mas ele mesmo havia declarado, em fevereiro, que vai privatizar “o que for possível” caso eleito.
O deputado Jair Bolsonaro (PSL), por sua vez, embora mantenha discurso de fachada de só privatizar o que não é estratégico, trabalha com a perspectiva de “privatizar tudo” se eleito, como já afirmou à imprensa seu eventual ministro da Fazenda, Paulo Guedes.
Para Rita Serrano, todos eles fazem parte de um mesmo projeto de desmonte do patrimônio público.
“Por isso é fundamental que nas próximas eleições as pessoas saibam exatamente quais são os interesses que os candidatos representam, tanto na presidência quanto no Congresso. Votar em banqueiros ou empresários, em gente comprometida com o grande capital, é apostar na privatização, e não nos bens, serviços e empresas públicas de qualidade ou nos direitos dos trabalhadores”, aponta Rita Serrano na nota do Comitê.