Funcionários federais fazem parte de grupo acusado pela PF de envolvimento em fraudes e desvio de dinheiro público – (Brasília) Sindicâncias e processos administrativos sobre corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes graves, investigam 745 servidores públicos federais do alto escalão, segundo levantamento da Controladoria-Geral da União (CGU).

Esses servidores são parte de um numeroso grupo de funcionários públicos federais, estaduais e municipais acusados de envolvimento em fraudes e desvio de dinheiro público em 108 das grandes operações lançadas pela Polícia Federal a partir de 2003. Entre os investigados estão desde servidores de comissões de licitação até diretores de poderosas estatais.

O número de servidores ameaçados de demissão por corrupção é bem maior que os 745 funcionários de alto escalão do governo federal investigados pela Controladoria-Geral. Dos 10.357 presos pela Polícia Federal em grandes operações desde 2003, 1.575 são servidores da União, dos estados e municípios. Ou seja, 15,20% do total de presos passaram por cargos ou funções de confiança no governos federal, estaduais e nas prefeituras ou ainda estão neles.

– Se compararmos este número com os relatos de corrupção que temos diariamente, ele é pequeno. Mas, se comparamos isso com uma década atrás, quando não havia essa ação mais efetiva, pode se dizer que 745 servidores investigados são um número expressivo – afirmou Fabiano Angélico, coordenador de Projetos da Transparência Brasil, organização não-governamental especializada em fiscalização de ações contra a corrupção.

O estudo obtido pelo GLOBO indica que as investigações da CGU já resultaram em 97 punições. Foram 69 demissões sumárias e 28 suspensões ou advertências. Ao todo, estão abertos nas três corregedorias da Controladoria-Geral 332 processos administrativos e sindicâncias. Em linhas gerais, a CGU chama para si a responsabilidade sobre investigações mais complexas em que os investigados têm forte influência ou ocupam cargos estratégicos no governo.

– Uma coisa é certa: hoje nenhuma acusação fica sem instauração de sindicância ou processo. Toda vez que a Polícia Federal prende ou acusa um servidor nós abrimos uma investigação interna – afirma Luiz Navarro, ministro interino da CGU.

A onda de sindicâncias e processos contra altos servidores começou com as grandes operações da PF entre 2003 e 2004. A CGU investiga servidores envolvidos em 108 operações da PF de combate à corrupção.

Em alguns casos as provas sobre as fraudes são consideradas tão contundentes que, mesmo com as brechas na legislação, a maioria dos demitidos permanece afastada do serviço público. Pelos cálculos da CGU, hoje a taxa de retorno não passa de 10%. Há alguns anos, demitidos em processos administrativos voltavam à ativa com base em decisões liminares da Justiça.

Entre os demitidos, que não retornaram ao governo nem com influentes padrinhos políticos, estão Antônio Osório Batista e Eduardo Medeiros, dois ex-diretores dos Correios flagrados na primeira fase do escândalo do mensalão. Numa das investigações surgidas a partir do mensalão, a Controladoria-Geral demitiu ainda Adenauer Figueira Nunes, Fernando Bendraglia de Almeida e José Wellington de Moura, ex-diretores da Infraero, que também permanecem fora da administração federal.

Tudo indica que terão a mesma durabilidade as mais recentes demissões assinadas pelo ministro Jorge Hage (CGU) semana passada: do ex- superintendente Nacional de Produtos de Repasse da Caixa Econômica Federal Flávio José Pin e Edilberto Petry, ex-coordenador de Integração de Projetos dos Correios.

O diretor de Comunicação e Imprensa do Sindicato dos Servidores Federais do Distrito Federal, Edison Cardoni, diz que é impossível avaliar se é alto ou não o número de servidores envolvidos em corrupção. Ele argumenta, no entanto, que boa parte dos corruptos entrou na administração pública por indicação política e não por concurso.

Fonte: O Globo / Jailton de Carvalho

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