Cinco mil protestam no enterro do casal de extrativistas assassinados no Pará

Um protesto que reuniu mais de 5 mil pessoas marcou nesta quinta-feira (26) o enterro dos líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, em Marabá, no Pará. O casal foi executado a tiros na terça-feira (24), no sudeste do Estado.

Às 5h, militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outras entidades ligadas à luta na área rural bloquearam uma ponte sobre o Rio Itacaiúnas e uma ferrovia próximo à cidade de Marabá, onde o casal foi sepultado.

 

Durante o protesto, os manifestantes atearam fogo em pneus e pedaços de madeira. Eles só liberaram uma estrada e a ferrovia que dão acesso a Marabá depois da chegada da Polícia Militar. "Foi um ato contra o assassinato [do casal de extrativistas, cujos nomes faziam parte de uma lista de pessoas ameaçadas de morte no estado]", disse a integrante da coordenação do MST no Pará Maria Raimunda Cezar. Entidades como a Via Campesina e a Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri ) participaram da manifestação.

João Cláudio e Maria do Espírito Santo foram mortos a tiros em uma estrada vicinal que leva ao Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira, na comunidade de Maçaranduba 2, a 45 quilômetros do município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará.

A Polícia Federal (PF) foi acionada para investigar a execução dos dois líderes, ligados ao Conselho Nacional dos Seringueiros no município de Nova Ipixuna. Além da PF, o Ministério Público Federal também está acompanhando o caso.

"Se nos calarmos, as florestas gritarão"

A Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou Nota Pública sobre o assassinato dos dois ambientalistas no Pará. "Esta é mais uma das ações do agrobanditismo e mais uma das mortes anunciadas. O casal já vinha recebendo ameaças de morte. O nome deles constava da lista de ameaçados de morte registrada e divulgada pela CPT. O de José Cláudio em 2009 e em 2010, e o de sua esposa Maria do Espírito Santo, em 2010".

Reunida em Goiânia, a CPT lembrou que o casal foi pioneiro na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira no ano de 1997. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros e pressionada por fazendeiros que pretendiam expandir a criação de gado no local.

"Mas nossa indignação aumentou com a notícia, veiculada pelo jornal Valor Econômico do dia de hoje, 25, de que o deputado José Sarney Filho ao ler, em plenário, a reportagem da morte dos dois lutadores do povo, foi vaiado por alguns deputados ruralistas e pessoas presentes nas galerias da Câmara Federal, que lá estavam para acompanhar a votação do novo Código Florestal. Este fato nos dá a exata dimensão de como a violência contra os trabalhadores e trabalhadoras do campo é tratada. Certamente a notícia destas mortes foi recebida com alegria em muitos espaços, pois mais um ‘estorvo’ no caminho dos ruralistas e dos defensores do agronegócio foi removido", denunciou a CPT.

A CPT concluiu o documento parafraseando o Evangelho. "Não podemos nos calar diante desta barbárie, pois se nos calarmos, as florestas falarão (Lc 19,40)".

Fonte: Agência Brasil e CPT

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