O Citigroup Inc., que está sob pressão para se enxugar o mais rápido possível, prepara uma grande reorganização que vai representar um novo passo no sentido de desmantelar-se, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Além de desmembrar sua corretora Smith Barney numa joint venture com o Morgan Stanley, o Citigroup está se preparando para reduzir sua missão a duas áreas, dizem essas pessoas. O conglomerado financeiro nova-iorquino planeja se focar em banco de atacado para grandes clientes corporativos e banco de varejo para pessoas físicas em mercados selecionados ao redor do mundo, disseram ontem pessoas informadas sobre as discussões.

O Citi e o Morgan informaram ontem que chegaram a um acordo para criar a joint venture de corretagem. O Citi ficará com 49% da joint venture, a ser chamada Morgan Stanley Smith Barney, e o Morgan ficará com os 51% restantes. O Citi receberá US$ 2,7 bilhões. Espera-se que a joint venture obtenha economia de custos de US$ 1,1 bilhão.

James Gorman, um dos diretores-gerais do Morgan, será presidente do conselho da nova companhia.

Charles Johnston, que foi mais recentemente diretor-geral da divisão de Gestão Global de Riquezas do Citi nos EUA e Canadá, será diretor-geral.

A transação, aprovada pelos conselhos de ambas as companhias, deve ser fechada no terceiro trimestre.

Os planos praticamente desfazem grandes peças do supermercado financeiro criado quando o Citicorp e o Travelers Group se fundiram em 1998 para formar o Citigroup. A sacudida tem o objetivo de cortar cerca de um terço dos ativos do balanço do Citigroup, hoje em torno de US$ 2 trilhões, segundo uma pessoa a par dos planos da companhia.

Entre as outras empresas em vias de serem cortadas estão operações de financiamento ao consumidor, como a Primerica Financial Services e a CitiFinancial, cartões de crédito emitidos por terceiros e muitos do negócios relacionados a pessoas físicas que o Citigroup tem no Japão. A companhia também planeja reduzir bastante sua atividade de investimento de recursos próprios, também conhecida como "proprietary trading", que vinha consumindo grandes quantidades de escasso capital.

A mudança estratégica deve ser anunciada quando o Citigroup divulgar os resultados do quarto trimestre, dia 22. Uma porta-voz do Citigroup preferiu não comentar, ontem.

Até recentemente, o diretor-presidente do Citigroup, Vikram Pandit, sempre deu apoio ao modelo de "banco universal" da companhia. Mas agora que conselheiros e diretores estão se preparando para um prejuízo operacional de pelo menos US$ 10 bilhões no quarto trimestre e autoridades americanas temem quanto ao resultado de esforços anteriores de reforma, o Citi decidiu que é necessária ação mais drástica, segundo pessoas familiarizadas com a questão.

Enxugar o Citigroup não vai ser fácil nem rápido. A companhia está designando equipes de gestores para lidar com o corte gradual de unidades e outros ativos, mas uma pessoa a par do assunto enfatizou que o Citigroup não planeja fazer uma venda "na bacia das almas". Esforços para encontrar compradores também serão complicados pelas condições incertas do mercado e pela recessão.

O Citigroup já fez algumas tentativas de downsizing. Por exemplo, executivos têm tentado há meses reduzir sua exposição ao Japão, onde a alta da inadimplência está afetando os lucros. O Citigroup também tem procurado há cerca de um ano um comprador para a Primerica, que vende fundos mútuos, seguros e outros produtos financeiros.

O leilão não resultou em venda por causa da escassez de compradores dispostos a pagar o que o Citigroup considera um preço razoável, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

Como parte do novo plano, executivos do Citigroup estão considerando a possibilidade de criar o que é conhecido como "estrutura banco bom, banco ruim", disseram essas pessoas. Sob tal estrutura, o Citigroup iria criar uma nova entidade para abrigar o que ele considera seus negócios principais. A entidade enfrentaria complicações contábeis, e o Citigroup ainda não decidiu sobre essa estratégia, disseram pessoas familiarizadas.

As ações do Citigroup fecharam ontem em alta de 5,36% na bolsa de Nova York, a US$ 5,90 cada.

Fonte: The Wall Street Journal / David Enrich