"As rajadas de fuzil e metralhadora lá no banco foram ouvidas em grande parte da cidade", conta o radialista Márcio Ude. Eram 11h da segunda-feira passada, dia de pagamento no banco. Ao receber a informação da violência do assalto, a rádio da cidade emite um alerta geral: "Quem está na rua se proteja, fiquem em suas casas, não saiam."

"Na hora, te passa um monte de coisa pela cabeça. Ou de ter um conhecido teu dentro do banco, ter alguém da sua família dentro do banco. Cria uma situação de pavor geral", comenta o radialista.

A agência fica no Centro de Nova Mutum, no interior de Mato Grosso. Cercado por fazendas, o município tem cerca de 25 mil habitantes e 23 policiais, somando civis e militares. Logo ao chegar à cidade, oito assaltantes dominaram o policial militar Ildemar Pereira.

"Apontaram para mim o fuzil. E falou: parado, PM. Enfiou a cabeça dentro da viatura, tomou minha arma. Pediu para eu ir no carro deles e um foi na viatura", lembra o policial militar Ildemar Pereira.

As câmeras de segurança registraram o momento exato em que os criminosos invadiram a agência. Usavam máscaras, coletes à prova de balas e luvas.

"Vi o vidro desabando e os bandidos entrando armados. Pôs todo mundo deitado no meio, os homens, principalmente, sem camisa", descreve uma testemunha.

Cerca de 150 pessoas estavam no prédio, inclusive bebês. Pelo menos 60 clientes foram levados para fora do banco. Os reféns serviram de escudo para os assaltantes, que atiraram mais de 20 vezes em direção aos policiais.

"Eles davam tiro na sua frente que chegava a esquentar o seu rosto. Falavam: ‘Ó, vai morrer muita gente, vai morrer muita gente. Funeral hoje vai ser grande. Nova Mutum vai ficar em luto’", conta uma vítima.

Acidente

Os quatro bandidos que ficaram no banco pegaram o dinheiro dos caixas eletrônicos e dos cofres. A quadrilha se preparava para fugir, levando cinco reféns na caçamba da caminhonete. De repente, o imprevisto. O veículo capotou.

Um cliente do banco mostra os ferimentos: "Ele fez o retorno e entrou em alta velocidade na rotatória, mas para fazer ali é muito fechado. A gente pendeu para um lado e acho que por isso a caminhonete virou".

Mesmo com o acidente, os assaltantes deixaram a cidade em outros dois carros.

"A primeira conduta nossa é fazer o cerco, fazer a contenção e preservar vidas, mesmo dando possibilidade de fuga aos assaltantes. Nós preservamos a vida dos reféns", explica o comandante-geral da PM, coronel Antonio Benedito Campos Filho.

O primeiro roubo a banco de Nova Mutum durou cerca de 20 minutos. Os assaltantes conseguiram fugir pela principal avenida do município com quase R$ 1 milhão. Segundo a policia, crime na cidade é algo raro e os moradores nunca viram tão de perto cenas violentas como estas.

"Um assalto desse nível é de cidade grande. Eu estava com a máquina e resolvi filmar. Não parecem cenas reais o que aconteceu na nossa cidade", diz o morador Ray Silva.

Interior é alvo

Segundo a polícia, aconteceram 13 assaltos a banco no ano passado em Mato Grosso. Nove no interior.

"Por que cidades pequenas, medianas? Porque é um aparato policial menor. Eles chegam na região com certa antecedência, fazem um estudo para empreender esse tipo de ação", diz o tenente-coronel Sérgio Coneza.

Foi exatamente o que fez a quadrilha que agiu em Nova Mutum. Durante a perseguição, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar localizou um acampamento, que servia como esconderijo para os assaltantes. O local é de difícil acesso, em uma área de Floresta Amazônica, a 50 quilômetros do município de Nova Mutum.

"Ali dentro tinha fogareiro, tinha roupa, lona, um monte de coisa para eles ficarem acampados ali quantos dias fosse preciso", descreve o delegado Romildo Souza Grotta Júnior.

Na floresta, um dos acusados de participar do assalto foi baleado e preso. Outro morreu. A polícia diz que ele reagiu à voz de prisão. A suspeita é que pelo menos seis assaltantes ainda estejam na mata, de quase cem quilômetros quadrados. Da quantia roubada – R$ 1 milhão -, a polícia recuperou cerca de R$ 750 mil.

"Nos últimos três anos, nós desarticulamos quadrilhas que assaltaram bancos do estado de Minas Gerais, Pará, Goiás, que vinham para o estado de Mato Grosso praticar assaltos", contabiliza o policial Antonio Benedito Campos Filho.

Bancos de cidades pequenas de outros estados, como Mato Grosso do Sul, Tocantins e Maranhão também já foram alvo de quadrilhas.

No interior maranhense, por exemplo, houve três assaltos só este ano.

"O direito de trabalhar com tranquilidade, trabalhar em paz, é um direito garantido na Constituição e deveria ser garantido na prática a todos os brasileiros", pede o presidente do Sindicatos da bancários do Maranhão, Raimundo Nonato Costa.

Gerente morto

Em Itupiranga, município do Pará com 40 mil habitantes, um gerente de banco foi morto em dezembro passado.

"A gente tem que combater esse tipo de violência. A sociedade não pode ficar refém de bandidos como esses", diz o presidente do sindicato dos bancários do Pará, Alberto Cunha.

"É assustador para população isso. Fica como se fosse um faroeste de antigamente, mas a gente está na tentativa de prender o resto", afirma o delegado Romildo Souza Grotta Júnior.

"Da mesma forma que eu nunca imaginava que isso fosse acontecer, a gente nunca sabe quando isso pode tornar a acontecer de novo", comenta um morador da cidade.

Fonte: G1, com informações do Fantástico