Almir Aguiar apresenta ideias do Plano Juventude Negra Viva, do Ministério da Igualdade Racial, em encontro para tratar de conferência nacional sobre o tema
O diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro e secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT, Almir Aguiar, apresentou algumas das propostas do Comitê Juventude Negra Viva, do Ministério da Igualdade Racial, do qual faz parte após ter sido eleito pelos movimentos sociais para a função. A apresentação foi feita durante reunião do Coletivo de Combate ao Racismo da CUT (Central Única dos Trabalhadores), realizada na última quinta-feira (21), em São Paulo.
Entre as propostas estão medidas para coibir a letalidade de jovens negros por ações policiais nas favelas e periferias das grandes cidades.
Dados recentes da Rede de Observatórios da Segurança divulgados neste mês de novembro mostram que uma pessoa negra morreu a cada quatro horas em intervenções policiais registradas em nove estados do Brasil em 2023. Os negros representam quase 90% dos mortos neste tipo de intervenção, segundo o estudo, a maioria jovens.
“Ações estão sendo discutidas em Brasília sobre a violência contra jovens negros no país. Nosso objetivo é diminuir a letalidade na juventude negra”, explicou Almir.
Mercado de Trabalho
O dirigente sindical defendeu ainda um programa para maior inserção dos jovens negros ao mercado de trabalho.
Estudos confirmam que negros e negras têm maior dificuldade para ingressar no mercado de trabalho e, quando conseguem um emprego, ficam nas funções menos remuneradas.
Dados mostrados no encontro revelam que o rendimento médio dos negros é 40% inferior ao dos não negros segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apresentado na reunião. Negros com ensino superior ganham até 32% a menos que os demais trabalhadores com o mesmo nível de ensino, aponta a pesquisa.
A taxa de desocupação da população negra é sempre superior à do restante dos trabalhadores. No segundo trimestre de 2024, a taxa de desocupação dos negros era de 8%, enquanto a dos não negros ficava em 5,5%.
Mulheres Negras
Entre as mulheres negras, a situação é ainda pior: a taxa de desocupação era de 10,1%, mais do que o dobro da taxa entre homens não negros (4,6%).
De acordo com os dados, cerca de um quarto das mulheres negras (24,6%) aptas a compor a força de trabalho disseram que estavam desocupadas ou não tinham procurado trabalho por falta de perspectiva ou ainda estavam ocupadas, mas em situação inferior à que gostariam de ter.
Entre os homens não negros, essa taxa era de 10,1%. Ou seja, mesmo com o mercado de trabalho aquecido, um quarto das mulheres negras enfrentam dificuldades para conseguir uma inserção laboral adequada.
Almir considera urgente também mudanças nas políticas de segurança pública dos estados brasileiros, que confirmam o racismo estrutural.
Políticas públicas
Os participantes do evento defenderam ainda políticas públicas para evitar o uso de drogas; de proteção à liberdade religiosa e contra atos de violência em relação às religiões de matrizes africanas; programas de segurança alimentar e acesso à saúde, educação e moradia de qualidades, entre outras ações, para combater a desigualdade racial no Brasil.
Objetivo do encontro
A secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira, explicou que o encontro nacional do coletivo teve o objetivo de compartilhar com sindicatos e ramos as ações que serão levadas para a conferência.
“Nós do movimento sindical temos que ser uma única voz na 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), que ocorrerá em 2025”, disse Maria Júlia.
Foi debatida ainda a organização da Marcha das Mulheres Negras do ano que vem. A meta é levar 100 mil mulheres negra para para esta marcha, em Brasília, em novembro.
Marina Duarte, vice-presidenta do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR) e representante da União de Negros pela Igualdade (Unegro), lembrou que os três eixos da 5ª Conapir serão democracia, justiça racial e reparação.
“As conferências municipais, estaduais e nacionais serão realizadas pela sociedade civil, as virtuais também”, destacou.
Participaram também do evento, Nuno Coelho, representante dos Agentes de Pastoral Negra (APNs) e dirigentes da Executiva Nacional da CUT, como o Secretário Geral, Renato Zulato, o secretário de Administração e Finanças, Ariovaldo de Camargo, a secretária de Comunicação, Maria Aparecida Faria, a secretária de Formação, Rosane Bertotti e o secretário de Economia Solidária, Admirson Medeiros Ferro Júnior (Greg).
Propostas finais
Na parte da tarde do evento, a ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro, fez uma análise de conjuntura.
“Precisamos avançar nas políticas públicas de promoção a igualdade racial, inclusive as que já estão em vigor para garantir sua efetivação”, afirmou a ex-ministra.
Os delegados do coletivo se dividiram em grupos para apresentar propostas para o 5º CONAPIR.
Foram três grupos com os seguintes eixos: Democracia; Justiça Racial e Reparação, além de 15 propostas.
“Um ponto importante é a urgente revogação da PEC 9, que diminuiu drasticamente os recursos destinados as candidaturas negras, criando obstáculos para as pessoas negras disputarem espaços no congresso nacional”, concluiu Almir Aguiar.
Fonte: Imprensa SeebRio/Carlos Vasconcellos