A Espanha vai acelerar a concentração do seu sistema bancário no rastro da dramática recessão e de créditos podres acumulados principalmente pelas Cajas, os bancos regionais que fazem crédito imobiliário.

No total, 24 das 45 Cajas, com ativos de ? 350 bilhões, têm intenções de consolidação. O Banco de España, o BC do país, espera concluir um "esboço do mapa da reestruturação" até o final de junho.

A taxa de calotes no sistema bancário espanhol quase dobrou desde o ano passado nos empréstimos domésticos, em meio ao colapso do setor de construção e explosão do desemprego, deteriorando a qualidade dos ativos dos bancos espanhóis.

Mas a situação é mista. Santander e BBVA, os maiores bancos do país, absorvem a alta inadimplência na Espanha e no exterior e mantêm forte lucratividade, graças a amplas margens que obtêm em suas operações na América Latina, como nota a agência de classificação de risco Fitch.

O Santander, com ativos totais de ? 1,1 trilhão ao final de 2009, anunciou ontem lucro líquido de ? 2,215 bilhões no primeiro trimestre, uma alta de 5,4% em relação ao mesmo período de 2009. Embora diga que o portfólio de empréstimos não se deteriorou desde dezembro, destinou 2,436 bilhões a provisões, 10,3% a mais do que no mesmo trimestre de 2009, mas inferior à alta de 44% registrada durante o ano.

Por sua vez, o BBVA, com ativos de ? 535 bilhões, anunciou lucro liquido de ? 1,24 bilhão, quase idêntico ao mesmo período de 2009. O banco fez provisões de ? 1,08 bilhão contra inadimplências, 18% a mais do que no ano passado. A taxa de calote é de 4,3%, comparado a apenas 2,8% um ano antes.

Os dois grandes bancos estão em uma situação mais favorável graças à diversificação geográfica. Cerca de 42% do lucro operacional de Santander veio da América Latina em 2009, 42% da Europa continental e 13% da Grã-Bretanha. Para o BBVA, 45% do ganho operacional antes de provisões veio da America Latina – principalmente do México -, 37% do banco de varejo na Espanha e 18% dos Estados Unidos e outras regiões.

Já os outros três grandes – Caja Madrid, Banco Popular Espanol e La Caixa (de Barcelona) -, dependentes da economia espanhola, enfrentam forte pressão com o aumento dos créditos podres e alta do custo de captação de recursos.

Como o Valor revelou ontem, as instituições financeiras espanholas amargam ? 165,5 bilhões de empréstimos potencialmente problemáticos, representando 37,2% da exposição de ? 445 bilhões no setor de construção.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), em colaboração com o Banco de España, estima que os bancos comerciais necessitam de injeção de capital de 5 bilhões e as Cajas, de ? 17 bilhões, caso a situação econômica e a volatilidade nos mercados piorarem.

A Espanha montou um Fundo de Reestruturação Bancária (FRB) que tem atualmente ? 90 bilhões. Para a Fitch, levando em conta os ativos totais de 3,123 trilhões do sistema bancário e capital próprio de ? 190 bilhões, os recursos do FRB podem ser suficientes para cobrir a reorganização do sistema e assegurar a solvência dos bancos espanhóis. Em todo caso, somente um ‘seleto’ grupo de bancos internacionais tem tido acesso a recursos externos. Santander e suas subsidiárias levantaram ? 10 bilhões em 2009 e outros ? 11 bilhões este ano. BBVA fez emissões de ? 6 bilhões no ano passado e 2,7 bilhões este ano.

O custo de captações tinha baixado em 2009, voltou a subir agora por causa do contágio da divida soberana, mas analistas dizem que ainda é significativamente mais baixo do que no auge da crise financeira global.

Fonte: Valor Econômico /  Assis Moreira, de Genebra

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