Com a crise econômica e o aumento do desemprego, que atinge mais de 13 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, as famílias brasileiras estão fazendo dívidas novas para pagar débitos antigos e até para pagar as despesas do dia a dia, como contas de água, luz e supermercado. Para tentar sair do sufoco, vale recorrer a empréstimos bancários, usar o limite do cheque especial e parcelar contas nos cartões de crédito.

O Banco Central (BC) analisou o crédito bancário e revelou que a taxa de endividamento das famílias, em maio – último dado conhecido -, atingiu 23,3% da renda que o trabalhador ganha em um ano. Este é o maior patamar de endividamento dos últimos 14 meses.

Segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) feito em julho, 46% das pessoas que usaram cheque especial entraram no limite nos últimos 12 meses, seja para quitar dívidas, cobrir gastos de emergência e também para pagar as contas básicas. De acordo com a entidade, 20% dos usuários usam o cartão de crédito como extensão da própria renda.

Para o presidente da Fundação Perseu Abramo, economista Marcio Pochmann, os dados refletem a grave crise do capitalismo brasileiro e a inércia do governo do golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP), que não tem propostas para resolver o problema do desemprego e da recessão econômica.

“A economia piorou muito nos últimos dois anos. Caímos numa armadilha recessiva, sem emprego, com um brasileiro a cada três desempregado e a competição acirrada por uma vaga faz os salários serem puxados para baixo, aumentando a exploração do trabalhador”.

“Para cobrir a diferença entre o aumento do custo de vida e a queda do poder aquisitivo, as famílias estão se endividando”, analisa o economista.

A técnica da subseção do Dieese da CUT Nacional, Adriana Marcolino, acrescenta que, com isso, o crédito não está sendo usado para um ciclo produtivo na economia e, sim, para cobrir gastos do dia a dia que deveriam ser cobertos com os salários.

Para a professora da Faculdade de Economia da USP, Leda Paulani, o desemprego e as dívidas das famílias não são prioridades do governo.

“A preocupação deles [os golpistas que usurparam o poder] é entregar tudo o que prometeram ao capital internacional, como o Pré-Sal e as grandes empresas estatais para pagar o golpe de 2016”.

“Esse projeto neoliberal não ganharia uma eleição no país”, diz a professora.

Pochmann tem a receita que a equipe de Temer não tem para tirar as famílias brasileiras desse ciclo de endividamento.

“É preciso que haja uma renegociação das dívidas das famílias com redução das taxas de juros, programas de estímulo ao aumento da produção e do emprego e a redução de impostos para trabalhadoras e trabalhadores que ganham menos, a base da pirâmide social”, sugere o economista.

Mas, os golpistas não estão interessados em desenvolvimento econômico com geração de emprego e renda, na opinião da professora Leda Paulani.

Segundo ela, o crescimento do endividamento, tanto das famílias como do Estado, foi causado pelas políticas econômicas neoliberais implementadas no mundo, que foram encampadas pelo governo golpista de Temer.

A professora lembra que, em 2008, o ex-presidente Lula enfrentou uma das piores crises econômicas do mundo com políticas públicas que estimularam a geração de emprego e renda. Exatamente ao contrário do que faz Temer.

“Para não permitir que a população fosse atingida, o governo Lula concedeu subsídios para alguns setores com alto poder de empregabilidade, como o automobilístico, o de eletrodomésticos, e a construção civil em programas, como ’Minha Casa, Minha Vida’”, ressalta.

A crítica ao modelo neoliberal na economia de Temer também é feita pela técnica do Dieese. Segundo Adriana Marcolino, a lógica neoliberal de cortes nos investimentos públicos, de reajustes salariais menores e os constantes reajustes nos preços do gás de cozinha, nas contas de água e luz e outros derivados do petróleo, acima dos índices da inflação, só aumentam a inadimplência das famílias brasileiras.

“A escolha política desse governo tem promovido para baixo os indicadores econômicos, que se estabilizam, mas não tem fôlego. Um mês melhora um indicador, e no seguinte esse mesmo indicador, piora.”

Indicadores econômicos

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
O volume de vendas de bens duráveis como móveis e eletrodomésticos, que costumam acompanhar a melhora da renda, do emprego e da economia, caiu em março 3,2% na comparação anual. No mês seguinte, houve subida de 5,5%, mas, em maio, ocorreu nova queda de 6,1%.

IBGE (PNAD)
No trimestre encerrado em junho, o desemprego alcançava 12,4%, o que representa 13 milhões de pessoas sem trabalho.

Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio-SP)
O Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) registrou em julho a quarta queda consecutiva. No mês, o indicador atingiu os 86,2 pontos, recuo de 3,9% na comparação com junho. Além disso, 54,1% dos entrevistados disseram que estão consumindo menos do que há um ano.

Fundação Getulio Vargas (FGV)
O Índice de Confiança do Comércio (Icom) da FGV caiu 0,8 ponto percentual em julho, para 88,8 pontos, o menor nível desde agosto de 2017. É a quarta queda consecutiva.

Serasa
No último levantamento divulgado em maio passado, havia mais de 61,2 milhões de brasileiros inadimplentes.

SPC – Serviço de Proteção ao Crédito
Oito em cada dez brasileiros realizaram cortes no orçamento no primeiro semestre deste ano para driblar a crise.

Dívidas de empresas: O Indicador de Inadimplência da Pessoa Jurídica cresceu 9,41% no último mês de junho na comparação com o mesmo período do ano passado. É a alta mais acentuada desde setembro de 2016, quando o indicador havia registrado um crescimento de 9,61%.

Fonte: CUT