"A alternativa para o Brasil na disputa ideológica é a comunicação pública", avaliou o professor Emir Sader, secretário executivo do Conselho Latino Americano de Ciências Sociais (CLACSO), em conferência, nesta sexta-feira, 30, no Fórum Social Mundial (FSM). Segundo ele, a polarização fundamental do mundo não está entre o estatal e o privado, como se tenta passar, mas sim entre o público e o mercantil.
"Eles querem transformar tudo em mercadoria, tudo tem preço. A esfera privada são os valores das pessoas, que a gente prima muito. A deles é mercantil, a nossa não é estatal, é publica. A televisão estatal tem de ser pública. O Estado é um espaço de disputa entre interesses públicos e mercantis", disse.
Sader avalia que a TV pública é um canal para se prestar contas à população, que elegeu o governo de cada país. Serve para informar o que está sendo feito, discutir com o povo e dar a palavra ao povo. "O que a mídia quer é que tudo passe por ela, como a publicidade governamental. O ideal para eles é os EUA, que nem horário eleitoral gratuito tem. Tudo é pago. Financiamento de campanha pública, nada. Tudo tem de passar por eles", destacou.
O professor lembra que a TV pública é mais do que um noticiário de qualidade. É necessário ter lazer, música e esporte, assuntos que despertam o interesse da população e passar outros modos de vida a população para quebrar a ideologia capitalista norte-americana.
"Os EUA estão em decadência, mas o elo mais forte de sua dominação é o ideológico. É o shopping center, o automóvel, o estilo de consumo, é Holywood. Não tem quem concorra com eles. É necessário ser criativo. É uma coisa a criar, é um vazio colocado para nós de criar formas de sociabilidade, humanistas, solidárias, mais criativas e ricas culturalmente senão as pessoas não vão se interessar. Vão buscar esse vazio no consumo, em outras coisas.", destacou ao afirmar que o trabalhador é vitima disso, que vive para trabalhar. Trabalha para sobreviver e que precisa de consciência e lazer.
O professor disse que o Fórum Social Mundial (FSM) não vai ser anticapitalista enquanto o trabalho não for o seu tema central. "Direito ao trabalho, ter carteira assinada, ser um sujeito de direito. A batalha nossa é retomar os temas do trabalho como temas centrais da população no mundo", afirmou.
No debate, que contou com a participação do jornalista Beto Almeida, da Telesul, e da secretária Nacional da CUT, Rosane Bertotti, foi celebrada a confirmação de que será realizada, em novembro, a 1ª Conferência Nacional de Comunicação. "Vamos defender a democratização da comunicação. Vamos apresentar propostas para dizer que tipo de comunicação nós queremos. É um espaço fundamental, porque através dos meios de comunicação podemos chegar a mudanças de outras estruturas", disse Rosane Bertotti.
Ela destaca que o marco regulatório que rege as leis de comunicação do Brasil, além de ser retrógrado, nem é todo regulamentado e não garante direitos elementares da comunicação. "A comunicação é um direitos de todos. Em uma concessão de TV não há formas de você fiscalizar, não tem controle público, seus gerenciadores tratam os assuntos da forma que quiserem, sem controle social, sem se importarem como são tratadas as questões sobre as mulheres, os índios, os negros e os trabalhadores", completou.
Fonte: Elisângela Cordeiro, do Seeb São Paulo