A concentração bancária no Brasil subiu mais um degrau na escala de avaliação do Banco Central, passando de baixa para moderada. Divulgado na semana passada, esse indicador subiu de 0,0903 para 0,1263 entre junho e dezembro do ano passado, numa métrica em que, quanto maior o número, maior a concentração. Segundo o BC, essa alta se deve, entre outros fatores, às fusões e aquisições e à venda das carteiras de crédito dos bancos menores para os grandes.

O presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Luiz Cláudio Marcolino, destaca que a concentração dos bancos no país prejudica a categoria, mas também penaliza clientes e usuários. "Não é só para o emprego dos bancários que as fusões e aquisições no sistema financeiro nacional são prejudiciais. Os clientes também sofrem. A falta de concorrência no setor leva os bancos a cobrar pesadas tarifas e taxas, além de precarizar o atendimento. Se não há disputa no mercado, as instituições financeiras acabam abusando ainda mais dos clientes", comenta Marcolino, destacando que é cada vez mais difícil encontrar uma agência que não faça parte dos dez maiores bancos que atuam no Brasil.

Marcolino ressalta que há anos o movimento sindical bancário ligado à CUT defende a necessidade de regulamentação do Sistema Financeiro Nacional (SFN) como forma de combater a concentração de ativos financeiros nos bancos e de ampliar a fluidez do crédito voltado para o desenvolvimento sustentável, com emprego de qualidade e geração de renda.

Os números do BC

O termômetro usado pelo Banco Central para medir a concentração bancária é o IHH, ou índice Herfindahl-Hirschman, considerado uma das ferramentas mais importantes de análise pelos órgãos de defesa da concorrência. Com a alta registrada no ano passado, o índice rompe a fronteira que separa mercados com baixa concentração dos mercados com moderada concentração.

Além do critério de ativos, o BC calcula o IHH também para operações de crédito e depósitos. No caso do crédito, o IHH subiu de 0,1028 para 0,1315 entre junho e dezembro de 2008, e para os depósitos, aumentou de 0,1057 para 0,1315. Em ambos os casos, o nível de concentração já havia passado de baixa para moderada mesmo antes da crise.

Segundo o BC, pesou no aumento da concentração a aquisição das operações do ABN Real pelo Santander e a compra de dois bancos estaduais (de Santa Catarina e do Piauí) pelo Banco do Brasil. O BC prevê que, neste ano, o índice de concentração se acentue mais um pouco porque há outras operações importantes em curso, que não haviam sido concluídas até fins de 2008. É o caso da fusão entre Unibanco e Itaú e da compra da Nossa Caixa e de metade do Votorantim pelo BB.

Outros números

No ano passado, o BC já havia divulgado outros números que confirmavam o aumento da concentração bancária. No fim de 2007, os cinco maiores bancos que atuam no país detinham 52,32% dos ativos, o equivalente a R$ 1,3 trilhão. No final do ano passado, esses bancos passaram a concentrar 65,72% dos ativos ou R$ 2,04 trilhões. Entre os dois períodos, o volume de ativos concentrado nos cinco maiores bancos cresceu 53,85%.

Atualmente, os dez maiores bancos que atuam no país respondem por 94% das 18,9 mil agências bancárias em funcionamento. Há dez anos, essa proporção estava em 76%. Se considerados apenas os cinco maiores bancos, a concentração chega a 90,1%, contra 57,4% em 1999.

Fonte: Seeb São Paulo com Valor Econômica e Folha

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