A estrutura conservadora do sistema financeiro brasileiro e seu papel de preservação dos bancos frente à crise voltou à pauta nesta quarta-feira, 15 de abril, no seminário internacional sobre o tema que é parte do 2º Congresso da Contraf/CUT realizado entre os dias 14 e 16 de abril, em São Paulo.

O ex-presidente da Confederação Nacional dos Bancários e atual presidente do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), Sérgio Rosa, falou da crise, das contradições do setor e desafiou os dirigentes sindicais a procurar saídas alternativas às funções que os bancos comerciais se recusam a fazer no Brasil. "Podemos fazer a crítica, mas não podemos só ficar no discurso, pois isso não vai resolver o problema. Se a gente quer medidas efetivas, temos que parar de só falar mal e pensar em alternativas", afirmou.

"Diferentemente da maior parte do mundo, a crise não colocou em risco as instituições financeiras no Brasil. A economia brasileira terá capacidade de sair mais cedo da crise, devido ao seu mercado interno, a vários índices macroeconômicos preservados e ao sistema financeiro que permanece sólido" disse Rosa, lembrando que os bancos perderam valor de mercado no país, levados pelo "efeito manada" do mercado, mas não rentabilidade nem capacidade de lucro. "Esse é um atributo importante, mas tem a ver com uma estrutura conservadora dos bancos no Brasil", destacando que as instituições financeiras estão desvinculadas da economia real e distantes do setor produtivo. "São características que criticamos e sobre as quais precisamos refletir, já que foi o que salvou os bancos da crise", salientou Sérgio Rosa, ao dividir os bancos em comerciais e de investimento.

"Banco comercial é a cara dos bancos brasileiros: funcionam aplicando medidas rigorosas de concessão de crédito para permanecer saudáveis. Os bancos de investimento, por sua vez, atuam no mercado de capitais como intermediários e até dando garantia para dívidas privadas no mercado. Nos EUA funciona diferente, de forma totalmente desregulamentada e essa confusão fez com que, num primeiro momento, fosse difícil de avaliar o impacto que a inadimplência no setor imobiliário teria no sistema financeiro americano", explicou Rosa sobre o início da crise financeira internacional. "Aqui isso fica razoavelmente segregado: empresas distintas e capitais distintos administram esses fundos no Brasil. Essa diferença de regulamentação – que chamamos de conservadorismo – protegeu os bancos brasileiros na crise. Mas os defeitos desse sistema para prover recursos continuam sendo evidentes na área de financiamento. Os bancos cobram taxas altas, fazem proteção significativa de seu capital e tornam o crédito inviável para atividade produtiva (um empréstimo paga em torno de 40% a 50% ao ano em juros). É um sistema que trabalha contra a economia real. Nem grandes bancos estatais conseguem lidar com isso."

Para o ex-dirigente sindical, se o país conseguir criar acesso ao crédito para as pessoas que hoje não têm, haverá "um desenvolvimento econômico estupendo". "Fazer com que esse setor desassistido seja atendido pelos bancos, para mim, é uma ilusão. Essa batalha se dá mesmo dentro das instituições oficiais. E experiências com as das cooperativas de crédito complementam isso. Soluções de crédito, poupança à margem do sistema financeiro oficial são bons exemplos para resolver o problema, mas o país tem experiências pequenas em relação a isso", ressaltou. "Todo foco dos grandes bancos é pra fazer o que estão fazendo, raramente vão sair da linha de conforto de analisar o cadastro e emprestar com segurança só com baixo risco." Rosa concordou que a sociedade tem que exigir redução do spread, mais crédito para as linhas já abertas para lidar com o grande desafio que é fazer o dinheiro chegar às mãos das pessoas para o consumo e para as atividades produtivas. "A crise mostrou a centralidade do sistema financeiro no mundo todo. Daí a importância de um debate organizado não só pensando na categoria bancária, mas visando o desenvolvimento futuro do país."

Bancos públicos – São vários os estudos que apontam a importância adquirida pelos bancos públicos na crise, para a atividade do sistema e a estabilidade econômica. "BB, Caixa Federal e BNDES além de se comportarem como porto seguro na crise, tiveram certo grau de elemento anticíclico. O BNDES, por exemplo, aumentou sua carteira de crédito e mostrou a importância da agência de desenvolvimento, a segunda maior do mundo. E o BNDES era muito criticado, classificado como deturpador da economia porque subsídio era visto assim, o mercado é que deveria suprir necessidades".

E, aqui, novamente Sérgio Rosa aponta uma contradição. "BB disse ao mercado que é um banco de mercado. Vive uma contradição entre o antigo governo, que queria torná-lo banco de mercado para tornar sua existência desnessária e privatizá-lo, e a essência de um banco público que precisa estar à serviço da sociedade. Esse é um debate que precisamos fazer. BB quer vender ações na Bovespa, vender ações para o investidor internacional ou atender às políticas nacionais. Essa contradição precisa ser mais bem resolvida."

O presidente da Previ lembrou, ainda, que no mundo inteiro não é mais o sistema financeiro o principal agente para aporte de investimentos, mas o mercado de capitais vinculado aos bancos e que atua à margem: dinheiro de investidores de longo prazo, como fundos de pensão.

Fonte: Rede de Comunicação dos Bancários