A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) participou, nesta segunda-feira (9), da Cúpula Mundial de Dirigentes Sindicais da UNI Global Union, Nyon, na Suiça. Com o tema “O Futuro Mundo Trabalho”, os dirigentes sindicais presentes debateram o futuro do mundo do trabalho e as soluções para seus problemas.

“Há tempos, a UNI estabeleceu a importância de centrar estrategicamente na economia digital e agora passa ao terreno das soluções concretas aos desafios da vida real que teremos pela frente”, explicou Roberto von der Osten, presidente da Contraf-CUT. “A cúpula da Uni e suas afiliadas, incluindo a CONTRAF-CUT, tem formado novas alianças e está trabalhando com organizações globais para empoderar os trabalhadores, proteger seus dados e fazer com que a economia digital seja transparente e responsável”, completou.

O presidente da Contraf-CUT relatou que uma das resoluções foi que o trabalho exercido sobre plataformas digitais, enfatizando que a ideia de que este seria um trabalho autônomo, deve ser desmistificada foi debatido. Já que, efetivamente, as convenções fundamentais da OIT como, exemplo, o direito de organização e de negociação coletiva, devem ser aplicadas a esses trabalhadores. “Estas plataformas aplicam formas de avaliações de desempenho às quais os trabalhadores não têm acesso e podem implicar no desligamento da plataforma. Também não têm acesso aos seus próprios dados coletados, mesmo quando desligados das plataformas.”

Roberto von der Osten enfatizou que, quando o trabalho é com computadores, os trabalhadores dão permissão para capturas de tela e se ele faz uma pausa, por exemplo, para acessar um site de jornal online, a captura de tela indica esta mudança e o trabalhador pode ser penalizado por isso. “É dever de nossas entidades acompanhar estes modelos de trabalho. Devemos levar em consideração o trabalho que é feito sob essas plataformas. O emprego deve ser tratado de uma forma mais abrangente. A mobilidade do capital desestabiliza os locais e formas de trabalho, isto é, as estruturas de trabalho convencional estão mudando. Precisamos maximizar nossa densidade e solidariedade para com esses trabalhadores e criar novas perspectivas sobre como empoderar o trabalho nas plataformas digitais saindo da zona de conforto.”

Mario Raia, secretário de Relações Internacionais da Contraf-CUT, apontou que inteligência artificial ética e proteção de dados também foram discutidos. Questões como a mudança do trabalho para a economia de plataforma, mudança das formas de dominância, redes ao invés de bombas, a concentração de poder e riqueza atuais que não se comparam nem ao Império Romano também entraram em pauta. “Como podemos retomar a naturalidade progressiva para as redes? Utilizar a cultura do trabalho corporativo com organizações maiores e com meios de detenção de riscos. As formas de resolução dos algoritmos atuais ainda apresentam riscos pois em alguns momentos não apresentam um resultado preciso. A tecnologia tem que inspirar confiança aos cidadãos. Deve-se evitar essa fé cega no progresso tecnológico, um processo que nos levará a um destino com: a perda da autonomia pessoal, a perda da habilidade e de empregos, a perda do conhecimento sobre como o mundo funciona.  Devemos trazer para a luta a atual geração de milênios que, embora senão se intitulem atores políticos, todas suas convicções como justiça social, diversidade, igualdade de oportunidades são exatamente as mesmas que inspiram nossas causas no mundo do trabalho.”

Maior Raia informou ainda que as questões da coleta, armazenamento e manipulação de dados também foram tema da seção. “O Big Data é o novo ouro no mundo. Prevê-se que em 2020 cerca de 15 a 20% do PIB Mundial será baseado no fluxo de dados. São dados que não só fornecemos como consumidores, mas também como usuários de um aparelho celular, de um programa de busca, de um mapa num computador. Os trabalhadores devem exigir acesso aos seus dados que, numa empresa, são coletados no recrutamento, no seu dia a dia e são utilizados para promoções, mas também como forma de pressão e controle.”

É aí que entra a parte dos sindicatos na luta para garantir o poder de acesso aos trabalhadores. “Temos de exigir o direito da explicação, o direito de entender porque uma determinada ação foi praticada. Incluir isso nos acordos coletivos, a proteção dos dados dos trabalhadores é condição fundamental para ser incluída nos acordos coletivos. Devemos estabelecer um novo link entre direitos fundamentais e dados fundamentais”, finalizou o secretário de Relações Internacionais.

Rita Berlofa, presidenta UNI Finanças Mundial, contou sobre o Colonialismo Digital, que se iniciou com a constatação de que, assim como os espanhóis e portugueses traziam espelhos para trocar por ouro e outros bens. Atualmente, temos recebido brilhantes – não mais gratuitamente – e que tem um custo ainda maior: a nossa liberdade. “A ideia de que a inclusão digital, colocando todos conectados, faria todos empoderados é uma falácia, além de deixar a dimensão trabalhista fora desse aspecto. É falsa a promessa do Vale do Silício segundo a qual todos podem ser um empreendedor e se tronar um Mark Zuckerberg.”

Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, disse que também foram discutidas a democracia e a liberdade na internet. “São diversas as ações nos bastidores sem a intervenção do Judiciário. O problema não é o que essas empresas fazem na superfície. Estão coletando dados que possam usar no futuro. O Uber, por exemplo, pode ter mais dados sobre as cidades do que as prefeituras. Próximas atividades farão estas empresas mais suficientes que os estados. Num futuro próximo nem poderemos sonhar com uma greve-geral dos transportes públicos. Mas nem tudo está perdido, temos que aprimorar ainda mais o que sempre fizemos: Resistência e ação!”

Fonte: Contraf-CUT