As reduções anunciadas nos últimos dias pelo sistema financeiro não são transparentes, gerando grande confusão para os clientes e até para os profissionais do setor. Em razão disso, a Contraf-CUT está sugerindo ao Ministério da Fazenda, ao Banco Central, à Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e aos órgãos de defesa do consumidor a realização de um fórum nacional em que os bancos possam apresentar seus dados e esclarecer as dúvidas da sociedade.
"Essa ausência de transparência reforça a sensação de que as medidas para reduzir os juros são apenas perfumaria e propaganda enganosa para ludibriar os clientes. Tanto as autoridades monetárias como os bancos têm a obrigação de prestar esclarecimentos à sociedade e dar transparência às suas ações. E nada melhor do que reunir todos num mesmo fórum para apresentar seus dados", diz Cordeiro.
O crédito no Brasil, segundo o Banco Central, cresceu de 24% do Produto Interno Bruto (PIB) em janeiro de 2004 para 48,8% em janeiro de 2012, acompanhando a evolução da demanda interna.
Estudo elaborado pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese) para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) mostra que essa expansão foi "impulsionada principalmente pelo dinamismo do mercado de trabalho" e pela injeção de recursos direcionados a programas do governo federal, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida.
Estudo comparativo do Dieese com base em dados do Banco Mundial, que usa metodologia diferente do Bacen, mostra no entanto que a oferta de crédito no Brasil ainda é muito baixa em relação aos padrões internacionais. O Chile, por exemplo, em 2010 tinha o equivalente a 86,3% do PIB em operações de crédito, a África do Sul 145,5% e os Estados Unidos 202,2%.
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Para o Dieese, a sustentação do crescimento econômico do Brasil passa necessariamente pela expansão do crédito ao consumo e à produção. O estudo aponta, porém, que os juros e os spreads (a diferença entre a taxa de captação e de empréstimo dos bancos) mais caros do mundo praticados pelos bancos no país são a principal barreira para a ampliação do crédito.
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Spread e falta de competição
Segundo o estudo do Dieese, o alto custo do crédito no Brasil deve-se hoje principalmente à ausência de competição e à oligopolização do sistema financeiro nacional, em que os seis maiores bancos (BB, Itaú, Bradesco, Caixa, Santander e HSBC) concentram mais de 80% dos ativos totais e das operações de crédito.
"Quando o sistema financeiro nacional foi aberto aos bancos estrangeiros, na década de 90, o argumento era que isso contribuiria para melhorar a competitividade do setor, barateando os custos para os clientes. Isso não aconteceu. Ao contrário, os bancos estrangeiros cobram aqui spreads, juros e tarifas muito mais altos que em seus países de origem", critica Carlos Cordeiro, da Contraf-CUT.
O spread bancário no Brasil, segundo o Banco Central, é composto por custo administrativo (12,6%), inadimplência (28,7%), compulsório (4,1%), impostos diretos (21,9%) e margem de lucro (32,7%)
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Fonte: Contraf-CUT