Crédito: Roberto Parizotti – CUT
Roberto Parizotti  - CUT
Evento organizado pela CUT ocorre nesta terça e quarta-feira, em São Paulo

O presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, defendeu ações conjuntas das categorias por emprego decente no primeiro painel do Encontro do Macrossetor Comércio, Serviços e Logística, promovido pela CUT, que foi aberto na manhã desta terça-feira (12), no Novotel Jaraguá, em São Paulo. Ele participou da mesa “Crise econômica internacional, economia brasileira, emprego e relações do trabalho no setor terciário”.

“Esse novo espaço de discussão promovido pela CUT fortalece a solidariedade entre os sindicatos e permite aos trabalhadores que participem com unidade e mobilização da disputa pela hegemonia da sociedade”, destacou. O encontro continua nesta quarta-feira (13) com trabalhos em grupos e uma plenária final para encaminhamentos.

Crescimento com desenvolvimento

Cordeiro destacou que o desafio do dirigente sindical é analisar a conjuntura política e econômica e disputar a hegemonia da sociedade. “É indiscutível a importância dos trabalhadores neste processo. Nos últimos dez anos foram criados 10 milhões de empregos no Brasil e somos protagonistas desta mudança”, disse.

No entanto, para ele, é preciso combater as demissões e a rotatividade, como têm ocorrido no Itaú e Santander, e garantir emprego decente. “Não queremos emprego precário, mas sim emprego de qualidade”, salientou. “Saímos da 8ª para a 6ª posição entre os países mais ricos do mundo, porém, ainda não deixamos a posição de 12º país com a pior distribuição de renda do planeta”.

“Precisamos levar a reflexão deste desafio que está colocado e fazer com que o crescimento se transforme em desenvolvimento econômico com gerações de empregos e renda”, apontou o presidente da Contraf-CUT.

“Só teremos emprego decente com a ratificação da Convenção 158 da OIT, que proíbe demissões imotivadas, e com remuneração digna, ambiente saudável e seguro d e trabalho, combate à rotatividade e à terceirização, e igualdade de oportunidades”, enfatizou. Ele criticou os bônus milionários dos executivos e o processo de bancarização via correspondentes bancários, cujo foco é a redução de custos dos bancos.

O dirigente da Contraf-CUT reforçou também a necessidade de uma conferência nacional do sistema financeiro para discutir o papel dos bancos públicos e privados. Ele lembrou que o presidente da CUT, Vagner Freitas, defendeu recentemente essa proposta durante audiência com a presidenta Dilma, que propôs a realização de uma conferência nacional dos direitos dos consumidores.

“É preciso disputar também as políticas públicas e ser referência para os trabalhadores”, apontou. Cordeiro ainda fez uma defesa do SUS e destacou a proposta discutida na reunião preparatória ocorrida na véspera na Contraf-CUT de criação de um observatório do sistema financeiro.

Distribuição de renda

O painel contou também com uma palestra do professor da PUC/SP, Antônio Corrêa de Lacerda, e do presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços da CUT (Contracs), Alci Matos Araujo. O mediador foi o jornalista Luis Nassif.

Lacerda avaliou como positiva a estratégia da CUT em analisar o macrossetor com foco na economia brasileira dentro da crise econômica internacional. Para ele, há uma relação muito forte com o que acontece aqui e no mundo, considerando o espaço que envolve o macrossetor.

O professor disse que “o Brasil está diante de uma grande oportunidade” e ressaltou a importância da queda dos juros que vem sendo feita no país. “Ainda estamos longe do ideal, porém, precisamos aproveitar este momento para colocar o Brasil na rota do crescimento econômico. As taxas de inflação estão próximas com o restante do mundo. Entre os emergentes é de 5%, em todo o mundo é de 4%, e no Brasil é de 6%”, analisou.

“Precisamos valorizar a redução dos juros e repassá-la ao tomador final, que é o consumidor. O crédito no país já representa 50% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto há cerca de seis anos representava 25% do PIB”, explicou.

Lacerda defendeu também a melhoria na qualidade do emprego, a fim de distribuir renda e combater a precarização no mercado de trabalho. Ele explicou que entre a década de 1940 e 1970 o país crescia numa média de 7,5% ao ano, porém, a população crescia cerca de 3% ao ano.

“Na atualidade, a população cresce em torno de 1% ao ano, o que permite ao país manter a condição de crescimento entre 3,5% e 4% ao ano e continuar inserindo novas pessoas ao mercado de consumo e cidadania, com o foco voltado para melhores oportunidades, mesmo que este seja um processo que leve um pouco mais de tempo”, frisou.

Para Lacerda, o Brasil consegue crescer mesmo num período de crise, com melhoria no emprego, renda, qualidade, democracia e liberdade de expressão, com matriz energética limpa. “Este é o debate que precisamos fazer, e não nos pautarmos pelo que está sendo conduzido pela grande mídia”, disse.

Nassif, enquanto mediador do painel, aproveitou para destacar o processo de comunicação vivido no país, mostrando a importância da internet e das redes sociais. Antes, segundo ele, toda a pauta política passava pela avaliação da grande mídia e assim era definido o que era ou não relevante. “Porém, com a internet, a força da grande mídia vem gradativamente sendo reduzida”, declarou.

O presidente da Contracs ressaltou que o comércio e serviços representam 70% do PIB. Ele defendeu que os problemas enfrentados pelo setor devem ser enfrentados em conjunto pelas categorias do macrossetor, destacando a terceirização, a rotatividade, as desigualdades e o descaso com a saúde. “Por isso, é importante o trabalho decente”, frisou Alci.

Abertura

Além de Cordeiro e Alci, participaram da mesa de abertura o presidente e o secretário-geral da CUT, Vagner Freitas e Sérgio Nobre, respectivamente, a diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores Vigilantes (CNTV), Regina Cruz, o presidente da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Franklin Gonçalves, o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes (CNTT), Eduardo Guterra, e a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira.

“Este encontro não deve se restringir a discussões sindicais, que já realizamos através de nossas confederações, federações e sindicatos. Precisamos discutir aqui o Brasil e as propostas dos trabalhadores. Somos protagonistas deste processo de mudanças e queremos disputar espaço para transformar o país”, disse Vagner.

Juvandia destacou a importância de reunir todos os segmentos e categorias do macrossetor. Para ela, “discutir as demandas e a forma de organização de cada setor e trocar experiências será um processo bastante rico para todos os trabalhadores”.

Fonte: Contraf-CUT