A crise econômica mundial provocada pela irresponsabilidade e ganância desenfreada dos bancos coloca na ordem do dia a necessidade de se repensar o papel do sistema financeiro. É preciso impor um rígido controle social à sua atuação, de forma a ampliar e baratear o crédito visando o desenvolvimento econômico e a geração de empregos. Essa foi a posição defendida pela Contraf/CUT no Fórum de Diálogo Mundial sobre o Impacto da Crise Financeira entre os Trabalhadores, que está sendo realizado em Genebra, na Suíça, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), com participação de representantes de governos, de bancos e de sindicatos de todos os continentes.

"O sistema financeiro que existe hoje não serve para a sociedade. A crise trouxe a oportunidade de enfrentarmos esse problema de uma vez por todas e construirmos uma solução global que coloque o sistema financeiro a serviço da população e do desenvolvimento econômico e social", disse Carlos Cordeiro, secretário-geral da Contraf/CUT, que representa os bancários brasileiros no fórum da OIT.

‘Em vez de salvar bancos, salvar as pessoas’ – O encontro mundial ocorre num momento em que os Estados Unidos e outros países desenvolvidos tomam novas medidas para estatizar grandes bancos e apertam o cerco aos paraísos fiscais, inclusive exercendo forte pressão para que a Suíça acabe com o famoso sigilo de seu sistema financeiro, grande atrativo para a lavagem de dinheiro ilícito oriundo do narcotráfico, da corrupção e da sonegação fiscal praticada em todo o planeta.

"É preciso que as sociedades democráticas do mundo todo pressionem para que se invertam as prioridades. O primeiro passo dos governos não pode ser apenas o de injetar dinheiro público para salvar bancos, os responsáveis pela crise, mas exigir contrapartidas sociais para salvar as pessoas que se tornaram vítimas dessa irresponsabilidade", propôs Carlos Cordeiro no fórum da OIT.

A avaliação dos participantes é de que a crise econômica global provocada pelos bancos é muito séria, provocando desemprego na maioria dos países, mas com impactos diferenciados entre as várias regiões do mundo.

As propostas do encontro internacional de Genebra serão levadas pela OIT à reunião do G 20 que será realizada em Londres agora em março. O G 20, do qual o Brasil faz parte, reune as vinte maiores economias do planeta, que detêm 85% da riqueza mundial.

Febraban na contra-mão – Antes da intervenção da Contraf/CUT no fórum da OIT, o representante da Febraban andou na contra-mão ao defender a posição dos bancos brasileiros, provocando mal-estar entre os participantes. João Francisco Rached de Oliveira, diretor de RH do HSBC e do comitê executivo de relações institucionais da Febraban, disse que os bancos não foram atingidos pela crise no Brasil e continuam fortes, mantendo os altos lucros dos anos anteriores. Ele afirmou que a manutenção dos empregos bancários no Brasil representa um custo muito alto e defendeu a flexibilização dos contratos de trabalho e mais desregulamentação do sistema financeiro.

A posição da Febraban recebeu duras críticas de muitas delegações presentes, inclusive do representante do governo da Espanha, que considerou um contra-senso os bancos brasileiros admitirem que estão fortes e lucrando como antes, e assim mesmo querem desregulamentar ainda mais o sistema e flexibilizar os contratos trabalhistas.

Faltam crédito e transparência – Na sua intervenção, Carlos Cordeiro reconheceu que os bancos brasileiros não foram atingidos pela crise financeira global, e atacou duramente a posição da Febraban. "O sistema financeiro brasileiro cobra as taxas de juros e o spread mais altos do mundo. Além de muito caro, o crédito é limitado e não está voltado para o desenvolvimento econômico. Os bancos recebem ajuda do governo, mas não fazem a contrapartida social. O sistema tem muito lucro, mas pouca transparência e muitas facilidades para demitir trabalhadores", criticou o secretário-geral da Contraf/CUT.

"Enquanto no resto do mundo se discute como será a participação dos trabalhadores nos conselhos de administração dos bancos, não temos nada disso no Brasil, e muito menos direito de emprego. Por isso tudo, precisamos rediscutir o papel do sistema financeiro, colocando-o a serviço do desenvolvimento econômico e social", acrescentou Carlos Cordeiro.

No final de sua apresentação, o dirigente sindical convidou as delegações estrangeiras a participarem do seminário internacional para discutir a regulamentação do sistema financeiro, que fará parte do II Congresso da Contraf/CUT, marcado para o período de 14 a 16 de abril em São Paulo.

Reunião da UNI Finanças – Nesta quinta-feira 26 acontecerá em Nyon, próxima a Genebra, reunião da UNI-Sindicato Global Finanças para discutir a preparação de ações sindicais mundiais em defesa dos trabalhadores. A Contraf/CUT estará representada pelo secretário-geral Carlos Cordeiro.

Fonte: Contraf/CUT