Brasília – O crédito bancário chega ao final de oito anos de governo Lula com expansão recorde, o que estimulou o consumo das famílias e ajudou o Brasil a superar a crise financeira internacional de 2008 e 2009.

Ao término do primeiro ano do governo Lula o saldo das operações de crédito no país estava em R$ 418,258 bilhões, correspondentes a 24,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos anos seguintes – 2004 (25,7%) e 2005 (28,3%) -, a expansão continuou, com aumento da intensidade a partir de 2006 (30,9%), último ano do primeiro mandato de Lula.

Essa relação entre crédito e PIB ficou em 35,2%, em 2007, 40,8%, em 2008, e em 45% em 2009. Em novembro de 2010, chegou a 46,3%, com saldo de R$ 1,678 trilhão. A expectativa do Banco Central (BC) para o fim deste ano é que chegue a 47%.

“O governo quis expandir o mercado interno de consumo de massa por meio da disponibilidade de crédito para as empresas, principalmente via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), e para os indivíduos. Foi uma política de governo gerar crescimento a partir do crédito”, disse o professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Reinaldo Gonçalves.

O ex-diretor do BC Carlos Eduardo Freitas avalia que a expansão do crédito veio acompanhada da redução da taxa básica de juros (Selic), que iniciou o governo em 25,50% ao ano e encerrou 2010 em 10,75%. “A taxa de juros real (Selic, descontada a inflação) despencou de 2006 em diante. Isso levou os bancos a procurarem melhores aplicações do que os títulos do Tesouro (remunerados pela Selic”. Com isso, explica Freitas, aumentou a oferta de crédito pelas instituições financeiras que antes preferiam aplicar o dinheiro em títulos públicos.

Mas a expansão recorde do crédito trouxe, recentemente, preocupações. Uma delas é o aumento do endividamento das famílias. Por isso, o governo decidiu tomar medidas preventivas, com restrições na oferta de crédito pessoal e para a compra de veículos.

“As medidas tranquilizam no sentido de que o Banco Central está olhando e monitorando o endividamento. Vão moderar a velocidade (da expansão do crédito)”, disse Freitas. Para ele, no Brasil, as pessoas estão acostumadas a esperar a atuação do governo somente quando há crise.  “Não é assim. Agora é uma prevenção”.

O economista da LCA Consultores Douglas Uemura disse que a inadimplência está baixa atualmente. Segundo o Banco Central, em novembro deste ano, a taxa de inadimplência para as famílias ficou em 5,9%, o menor nível desde junho de 2001, quando ficou em 5,5%. No caso das empresas, a inadimplência ficou em 3,6%.

Na avaliação de Uemura, entretanto, pode haver ligeiro aumento da inadimplência em 2011,. “A indústria está crescendo em ritmo mais lento, as contrações (de trabalhadores) devem mostrar moderação nos próximos meses e o ritmo de expansão da renda deve diminuir, o que afeta a inadimplência. Mas está longe de ser um cenário de crescimento explosivo da inadimplência”, afirmou.

Mas, para Gonçalves, o nível de inadimplência acende o sinal amarelo. “Estamos em uma trajetória de alto risco, com esse endividamento muito grande das famílias, das empresas e do governo. Estamos em trajetória de superendividamento generalizado no país”, disse.

Outro problema é que o aumento da procura por produtos estimula a inflação. Assim, além de prevenir a expansão da inadimplência, as medidas adotadas pelo BC podem frear a procura por financiamento de longo prazo de bens de consumo – eletrodomésticos, por exemplo, e principalmente carros. Um dos efeitos esperados é o aumento das taxas de juros, o que desestimula a tomada de crédito.

No início do governo, o saldo de crédito para a aquisição de bens estava em R$ 31,677 bilhões. Desse total, cerca de R$ 23 bilhões eram de financiamento de veículos. Em novembro deste ano, o saldo de crédito para a compra de bens era de R$ 146,198 bilhões, sendo R$ 136,302 bilhões só com o financiamento de veículos.

Além de restringir o crédito para bens de consumo, no início deste mês, o BC reverteu os estímulos adotados durante a crise financeira internacional. O BC elevou os depósitos compulsórios, recursos que os bancos são obrigados a depositar na instituição. Assim, saem de circulação R$ 61 bilhões, o que reduz a disponibilidade de crédito dos bancos.

Durante a crise financeira internacional, a atuação do BC foi de estímulo ao financiamento: reduziu os depósitos compulsórios, estimulou a compra de carteiras de crédito de bancos menores por instituições financeiras maiores e vendeu parte de suas reservas internacionais para atender exportadores com linhas de crédito. Os bancos públicos também entraram em campo para aumentar a oferta de crédito.

Fonte: Agência Brasil / Kelly Oliveira

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