Crédito imobiliário e financiamento a pequenas e médias empresas são as apostas dos grandes bancos privados para reconquistar o espaço perdido para Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômica Federal este ano. As duas áreas que até recentemente eram pouco exploradas pelos líderes do mercado devem fazer a diferença em 2010.
Em 2009, o setor privado perdeu quase cinco pontos porcentuais na participação do crédito no País, fatia que foi abocanhada pelas instituições públicas. A participação dos bancos privados (de todos os portes, incluindo os estrangeiros) no crédito total era de 59,3% em outubro, segundo dados do Banco Central (BC). Em igual mês do ano passado, foi de 65,1%.
Ao mesmo tempo, as instituições públicas avançaram sua participação de 34,9% para 40,7%. Reconquistar o espaço perdido exige que Itaú Unibanco, Bradesco e Santander apresentem crescimento de suas carteiras de crédito acima da expansão dos dois grandes bancos públicos, o contrário do que ocorreu em 2009.
No discurso, todos os grandes bancos, incluindo os públicos, trabalham com expectativas de crescimento da carteira entre 20% e 25%. No entanto, os privados se mexem para garantir uma expansão maior do total de empréstimos em 2010.
O Bradesco recentemente recriou as diretorias regionais para dar maior agilidade nas concessões de novos empréstimos. "Não temos a obsessão em sermos o primeiro, mas temos um norte definido, que é reduzir a distância que temos dos primeiros colocados", afirma o diretor executivo do banco, Milton Pelegrino. O Bradesco é a segunda maior instituição financeira privada do País e a terceira, considerando as públicas. Itaú Unibanco lidera entre os privados. Considerando todo o sistema financeiro, o BB ocupa a primeira colocação no ranking de ativos do BC.
O executivo acredita que o crédito imobiliário será um dos principais pilares do crescimento da carteira total. Os projetos em análise reforçam essa avaliação. No Bradesco, as incorporadoras apresentaram em novembro entre R$ 200 milhões e R$ 250 milhões em projetos por semana para avaliação. Pelegrino lembra ainda que a cadeia produtiva do setor de construção é muito ampla e, por essa razão, as concessões de financiamento imobiliário indiretamente ajudarão a expandir outras modalidades de crédito, como o capital de giro.
O segmento de pequenas e médias empresas é outro que deverá apresentar um crescimento acima da média no Bradesco. Para atender a esse grupo de clientes, o banco treinou 24 gerentes. Esses profissionais vão atuar nas diretorias regionais para dar o suporte técnico a produtos mais especializados, como os repasses do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outros 28 passarão pelo mesmo treinamento brevemente.
No Itaú Unibanco também foi feito um trabalho especial para atender às pequenas e médias empresas. Em outubro, o banco criou o Crescer Empresas, que oferece orientação empresarial. O suporte vai além do crédito e abrange áreas ligadas à gestão da empresa, como a melhor opção tributária. Com maior estabilidade na economia, o banco avalia que essas empresas têm capacidade de crescer e ampliar os investimentos e, assim, gerar mais negócios para a instituição.
Outra ação do Itaú Unibanco para esse público foi o desenvolvimento de produtos específicos, como fechamento de câmbio online via celular e um sistema para receber as compras feitas com cartões em suas lojas virtuais. A atenção dada ao segmento é explicada pelo fato de o crédito para pequenas e médias empresas ter crescido 18,1% nos 12 meses encerrados em setembro, expansão quase três vezes superior ao aumento de 6,2% da carteira total de pessoas jurídicas, que inclui as grandes companhias. Com todo o suporte dado às pequenas e médias empresas, a diretora de Produtos Empresariais do banco, Sandra Boteguim, espera que o segmento mantenha um crescimento expressivo em 2010.
ÍNDICE DE BASILEIA
Já o Santander não fez declarações sobre suas projeções para o crescimento em 2010 por ainda cumprir o período de silêncio de sua oferta pública realizada em outubro. No entanto, os dados do banco indicam que ele está preparado para um forte crescimento nas operações de crédito nos próximos anos. No fim de setembro, o banco registrava um índice de Basileia de 17,8%, ante os 14% do mesmo mês de 2008. O índice mede a capitalização de uma instituição financeira. No Brasil, o total de patrimônio deve corresponder, em média, a no mínimo 11% dos empréstimos. Quanto maior a Basileia, maior a capacidade de concessão de crédito do banco.
No caso do Santander, o indicador será ainda reforçado com os recursos da oferta pública. Parte dessa capacidade deverá ser destinada ao setor imobiliário, área em que o banco já demonstrou o desejo de avançar.
Itaú Unibanco e Bradesco também estão com o índice reforçado. No Itaú, o indicador estava em setembro em 16,3% e, no Bradesco, em 17,7%. Como os públicos apresentaram uma forte concessão de empréstimos no decorrer de 2009, a base de capital está menor. No caso do BB, a Basileia era de 13% em setembro, podendo chegar a 13,9% com a consolidação no patrimônio de uma emissão de bônus perpétua e uma dívida subordinada.
AGRESSIVIDADE
Entre os analistas do setor financeiro, é certo que os bancos privados serão mais agressivos nas concessões de crédito porque restabeleceram a confiança na capacidade de crescimento da economia brasileira. "O que ocorreu em 2009 foi uma anomalia de mercado, com o banco público ocupando o lugar do privado", avalia o analista da Lopes & Filho Consultoria João Augusto Salles. Ele lembra ainda que a agressividade dos privados agora é necessária porque apenas maiores volumes de operações garantirão aos bancos manter ou elevar a rentabilidade, já que as margens financeiras estão em queda por causa da concorrência.
O analista da Austin Rating Luis Miguel Santacreu tem a mesma avaliação. Para ele, o avanço dos bancos públicos em 2009 é justificado apenas pela crise externa e esse cenário não deverá se repetir no próximo ano. "Com vento favorável os bancos privados vão entrar 2010 com o pé no acelerador."
Outro fator que vai estimular novos empréstimos é que no terceiro trimestre de 2009 as taxas de inadimplência já davam sinais de estabilidade. Os dados do quarto trimestre, segundo analistas e os próprios bancos, já deverão mostrar alguma redução nos índices e a tendência é de queda para 2010.
Fonte: O Estado de São Paulo / Ana Paula Ribeiro