Embora o saldo de financiamentos de sete grandes bancos de montadoras consultados pelo DCI tenha caído 1,5% no primeiro semestre deste ano, para R$ 51,76 bilhões, essas instituições aumentaram para 26,2% a participação no total de crédito para veículos. Dados do Banco Central apontam que o estoque de recursos emprestados pelo mercado financeiro para compra de automóveis (incluindo empresas e famílias) era de R$ 197,36 milhões em junho deste ano, uma queda de 8,7% em relação à mesma etapa de 2014.

Desse total crédito, um quarto (26,2%) estava na carteira dos sete instituições consultadas pelo DCI – os bancos da Volkswagen, Mercedes-Benz, Ford, Honda, Toyota, Yamaha e General Motos (Chevrolet). No ano passado, por sua vez, essas instituições tinham uma fatia de 24,3% no saldo de crédito.

“Com menos demanda, se concede menos crédito. A queda na fabricação e nas vendas, porém, foi maior que a queda dos financiamentos dos bancos das montadoras. Logo, se comparado proporcionalmente, essas instituições financiaram mais do que antes”, avaliou Roberto Luis Troster, professor de Economia da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Na comparação entre o primeiro semestre deste ano e os primeiros seis meses de 2014, a fabricação de automóveis diminuiu 18,5%, para 1,27 milhões de unidades, e as vendas, 17,62%, para 2,05 milhões emplacamentos, de acordo com a Anfavea e a Fenabrave, entidades que representam os fabricantes e as distribuidoras de veículos automotores.

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, o cruzamento dos dados mostra que as instituições financeiras pertencentes às fabricantes de automóveis estão financiando proporcionalmente mais do que no ano passado.

“Olhando para as operações de crédito desses bancos, realmente a queda está muito mais relacionada com a demanda do que com a oferta”, apontou Giuliano Contento de Oliveira, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

No caso dos grandes bancos de varejo, por sua vez, a situação foi diferente. Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil e Santander registraram queda de 11,9% no total de financiamento de automóveis, para 110,92 bilhões em crédito.

Enquanto em 2014, os gigantes do mercado financeiro detinham 58,3% dos empréstimos, neste ano essa fatia passou para 56,2%.
De acordo com Contento de Oliveira, a queda menor do crédito nos bancos das montadoras em relação aos grandes bancos reflete a diferença de estratégia entre as instituições.

“As fabricantes conseguem juntar os ganhos operacionais [da venda de veículos] com os ganhos financeiros [de seus bancos] e acabam conseguindo viabilizar crédito a taxas mais baixas que dos grandes bancos”, ponderou.

Para os especialistas, o cenário para o crédito, mesmo nos bancos das fabricantes, será difícil. “A demanda está fraca e, por conta do cenário, a inadimplência tende a aumentar”, disse Troster.

Ganhos com juros

Mesmo com a redução da carteira de crédito, as instituições financeiras das montadoras, em linha com os pares do mercado, ampliaram os ganhos com a incidência de juros nas operações financeiras.Os dados dos balanços consultados pelo DCI mostram que a margem financeira somada dos bancos saltou de R$ 1,25 bilhão para R$ 1,46 bilhão, alta de 17,4%.

Além disso, mesmo com uma inadimplência controlada, que passou 1,1% para 1,3% no período, as instituições aumentaram os gastos com Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), um colchão formado para cobrir eventuais calotes. Segundo os dados, as despesas com PDD somada dos bancos passaram de R$ 514,20 milhões para R$ 557,46 milhões, avanço de 8,4%.

Fonte: DCI / Pedro Garcia