Os setores vão de infraestrutura a software, de trens e vagões a imóveis.
As duas ondas anteriores – a da privatização e a dos anos 2000 – aplicaram no Brasil, segundo informação da Câmara, R$ 164,7 bilhões.
DECISÃO LUCRATIVA
O investimento tem retorno, mostram as remessas de lucros de empresas espanholas compiladas pelo Banco Central a partir de 2005 -quando o confronto entre investimentos e remessas de lucros passou a ser registrado.
No caso das remessas, saíram do Brasil rumo à Espanha US$ 19,122 bilhões entre 2005 e 2011. Os investimentos no mesmo período foram de US$ 18,002 bilhões. O número inclui a megaoperação de compra da Vivo pela Telefônica. Somente esse negócio representou investimento de US$ 9 bilhões.
Só no ano passado, as espanholas remeteram para suas matrizes US$ 4,7 bilhões, cifra superior ao que foi enviado em 2008, quando explodiu a crise financeira global. Naquele ano, as empresas espanholas remeteram US$ 4,4 bilhões.
Segundo Maria Luisa Castelo Marin, diretora-executiva da Câmara Brasil-Espanha, as remessas "ajudam as empresas na Espanha, mas também faze com que muita empresa veja no Brasil oportunidades que não consegue ver na Espanha neste momento", diz Maria Luisa.
O bom desempenho tem atraído, além de empresários, profissionais. A Câmara recebe por mês cerca de cem currículos de espanhóis de nível técnico interessados em trabalhar no Brasil.
BUROCRACIA E TRIBUTOS
Só no primeiro semestre deste ano, a Câmara recebeu consultas de mais de 150 empresas. Queriam saber como podem investir no Brasil. O principal problema não é a língua ou a distância.
"Burocracia e tributos são os grandes problemas que os espanhóis enfrentam aqui. Por isso temos orientado o investidor espanhol a se associar a um empresário local. Isso facilita muito as coisas", afirma Maria Luisa.
Empresas-símbolo do capital espanhol no Brasil, os grupos Santander e Telefônica são exemplos de êxito no Brasil. Hoje, 27% do lucro auferido pelo Santander, instituição que adquiriu o ex-banco estatal Banespa, vem da operação brasileira.
É mais do que o dobro da contribuição do Santander Espanha, que é de 12%. "O Brasil é a unidade mais importante do mundo", afirma Juan Hoyos, vice-presidente do banco.
Tamanha relevância é o que tem embasado uma frase repetida à exaustão pelos executivos do banco: "O Santander não está à venda!".
Já a Telefônica, que em 2011 fez operação bilionária para comprar a Vivo, executa um plano de investimento de R$ 24 bilhões, com razoável folga.
Segundo Gilmar Camurra, vice-presidente financeiro, a dívida líquida da Telefônica equivale a 20% da geração de caixa (Ebitda) de apenas um ano. Como se vê, aqui as espanholas não veem crise.
Fonte: Folha de S.Paulo / AGNALDO BRITO