Crédito: CUT
O secretário de Meio Ambiente da CUT-RS, Marcos Todt, abriu o debate e alertou para a necessidade de a classe trabalhadora fazer a conexão entre o tema do desenvolvimento sustentável com outras questões apontadas pelos dirigentes cutistas nos dias anteriores, como o trabalho decente e distribuição de renda.
"Nas conversas que tivemos com a CSA (Confederação Sindical das Américas) e com CSI (Confederação Sindical Internacional) estabelecemos como meta levar ao menos 400 sindicalistas de todo o mundo. Além disso, nós da CUT pretendemos fazer uma marcha com milhares de cutistas, semelhantes a manifestações que já promovemos em Brasília. Nossa presença não será apenas nos debates, mas também nas ruas", diz.
Falta ousadia
Ao avaliar a atual crise mundial, a secretária do Meio Ambiente da CUT, Carmen Foro, entende que não se trata de um momento de retrocesso do capitalismo, mas sim de uma forma de reorganização. Algo que exige muita atenção dos trabalhadores.
"O sistema capitalista vende a ideia de economia verde, pinta tudo de verde, distribui pacotinhos de mudas e diz que ali está a salvação do planeta, mas, volta-se para transformar bens comuns, como o ar e a água, em mercadorias. Só muda o produto", disse.
Ela criticou também as recentes conferências mundiais climáticas pela falta de ousadia por parte dos países que já se desenvolveram e não assumiram responsabilidade pela emissão dos gases causadores do efeito estufa. E apesar do compromisso voluntário assumido pelo Brasil na 15ª Conferência do Clima (COP15), em Copanhague, as políticas nacionais para redução de danos em setores como energia e na Amazônia ainda estão distantes de vivarem práticas. "Temos desafios muito grandes e um deles é definirmos planos estaduais para a adaptação ao desenvolvimento sustentável."
Carmen acredita ainda que o documento enviado à ONU pelo país por conta da RIO+20 é tímido e exige da CUT e do movimento social uma ampla mobilização. "Devemos pressionar para que o governo brasileiro assuma a liderança e o protagonismo, não só para que a conferência aconteça, mas também para que as proposições apontem novos caminhos para a economia e o social", destacou.
"A geração de empregos, a proteção social e a taxação sobre as transações financeiras devem estar pautadas na carta final e, para isso, podemos aproveitar a Cúpula dos Povos que acontece paralelamente e estará mais disposta a preposições. O que não podemos aceitar é retrocessos, porque o mundo saberá que a PEC do Trabalho Escravo não avança no Congresso, que o Código Florestal está sendo adaptado para atender ao agronegócio", exemplificou.
O coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf)-Sul, Roberto Balen, alertou sobre a falta de um plano avançado para a agricultura familiar, fundamental para a produção de alimentos de maneira sustentável. "Os governos populares que foram eleitos, como o governo federal e o do Rio Grande do Sul, até nos recebem, mas não atendem nossa pauta", disse.
Segundo Balen, é preciso também melhorar a estrutura. "O Estado precisa investir para aperfeiçoar o sistema de produção e distribuição, para que possamos vender direto ao consumidor, sem precisar passar pelas grandes redes de supermercado, agregando maior valor ao produto."
O representante da CGIL, da Itália, Sérgio Bassoli, ressaltou que o papel dos sindicatos é buscar retomar a solidariedade e a luta comum contra um inimigo comum: o atual modelo econômico e social que afeta todo o planeta. "A RIO+20 será fundamental para estabelecer respostas que são improrrogáveis."
Já Luís Giannini e Júlio Cortejado, secretários da CTA, da Argentina, também defenderam a unidade dos trabalhadores. O primeiro destacou que o debate deve englobar a comunicação e o segundo foi outro a mostrar o momento favorável às discussões na América Latina.
"Na primeira conferência no Rio, a ECO92, vivíamos um momento de ampla maioria de governos neoliberais. Em 2012, o panorama é muito diferente, mesmo com a crise internacional. Dessa forma, devemos pressionar os governos para que assumam a responsabilidade sobre os bens naturais", disse Giannini.
Por fim, Maren Mantiovani, da organização Stop The Wall, que luta pela liberdade da Palestina frente à Israel, comentou como os israelenses aplicam o que aprenderam com os EUA em aulas de saques de recursos naturais. "A expansão da fronteira por parte de Israel ocorre também pela água. Hoje, 10% do que temos na Cisjordânia é para utilização dos palestinos e os outros 90% para os israelenses."
Para prosseguir com essa exploração, Israel criou uma empresa estatal que se apodera e maneja tal riqueza. "Os palestinos tem que comprar a água que é sua para beber, pagando mais caro que os israelenses."
Ela afirmou ainda que o Brasil já procurou o país importar a tecnologia. Diante disso, a luta do movimento sindical deve ser global, alertou. "Já há contratos com São Paulo, com a Sabesp. E há um ano uma delegação de 20 gaúchos foi para Israel descobrir como utilizar essa estrutura", afirmou.
"Precisamos pensar na globalização dessas lutas porque estamos contra multinacionais. Espero que quando vier para o Fórum Mundial Palestina Livre – que acontecerá em novembro, também em Porto Alegre – eu tome água produzida por Porto Alegre e não por um Estado que rouba os recursos de outro país", concluiu.
Fonte: Luiz Carvalho – CUT