Fernando Frazão – Agência Brasil

20 mil pessoas saíram às ruas no Rio de Janeiro - Fernando Frazão - Agência Brasil

20 mil pessoas saíram às ruas no Rio de Janeiro

Em ato no Rio de Janeiro, presidente nacional da CUT aponta que articuladores do impeachment são os mesmos que atacam as organizações dos trabalhadores – Ao encerrar o primeiro ato público após os perdedores das últimas eleições emplacarem o pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, nesta terça-feira (8), no Rio de Janeiro, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, questionou as 20 mil pessoas que acompanharam a mobilização na capital carioca.

“Alguém aqui acha mesmo que o impeachment vai trazer algum ganho para a classe trabalhadora?”, perguntou. A resposta foi um uníssono ‘não’.

Ao retomar projetos de lei defendidos pela oposição que compõe o Congresso Nacional mais conservador desde a ditadura militar, Vagner reforçou de qual lado está quem tenta dar um golpe travestido de manobra legal.

“Quem defende o impeachment defende a terceirização, quer rasgar a CLT, acabar com todos os direitos trabalhistas. Os que defendem o impeachment são os que entendem que os direitos da mulher não devem ser válidos, que nossas crianças devem estar nas cadeias e não nas escolas, que transformam o Congresso num antro contra o avanço da igualdade. São aqueles que acham que a ditadura, que matou milhões, é boa para o Brasil, que não concordam com a política de valorização do salário mínimo, que não concordam com a política de igualdade entre negros e brancos”, enumerou.

Para o dirigente, mais do que Dilma, o alvo dos setores conservadores são as políticas sociais e quem cobra para que ela prossiga, caso da classe trabalhadora e das organizações sociais que ousam lutar por mais direitos serão criminalizadas. A resposta a eles será a mobilização sem trégua.

“Quero dizer ao Cunha (Eduardo Cunha, presidente da Câmara), ao PSDB, ao DEM e a todos os golpistas, vamos impedir o impeachment nas ruas. Porque as ruas são daqueles que lutaram para derrubar a ditadura e que vão colocar o Cunha na cadeia”, afirmou Vagner.

O ato

A marcha que tomou o Rio de Janeiro, cidade de origem de Cunha, responsável por acatar e comandar o processo de golpe travestido de legalidade, começo diante da Igreja da Candelária, local que ficou conhecido pela chacina praticada há 22 anos por policiais e que se tornou ícone da violência contra jovens negros e pobres no Brasil.

A manifestação seguiu pela Avenida Rio Branco, avermelhada por bandeiras, balões e fumaça, e terminou na Cinelândia com um grande samba contra o golpe.

Com a presença da CUT, de centrais sindicais parceiros e de representantes dos movimentos populares e partidos políticos, os discursos nas ruas foram acompanhados pelos gritos de “não vai ter golpe” e “Fora Cunha”. A defesa da democracia esteve estampada nas faixas, mas bem longe de ser um cheque em branco para Dilma, já que a cobrança pela manutenção da democracia vinha acompanhada da cobrança por uma nova política econômica, conforme prega o Compromisso pelo Desenvolvimento, conjunto de propostas das centrais e empresários divulgado recentemente.

​Para o secretário nacional de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, o que está em jogo é o processo democrático brasileiro. “Não vamos permitir que ele sofra esse golpe. Sabemos da dificuldade do governo e estamos cobrando mudanças na economia, mas tirar a presidenta Dilma irá transformar o país num caos”, observa.

Presidente da CUT-RJ, Marcelo Rodrigues, também repudiou as artimanhas de Cunha. “Neste momento, a Constituição foi rasgada e o Cunha promoveu o desmonte do sistema político brasileiro. Mas se quer guerra, vai ter guerra”, definiu o presidente da CUT-RJ, Marcelo Rodrigues.

A postura do presidente da Câmara, ressalta a secretária de Mobilização e Relação com Movimentos Sociais da CUT, Janeslei Albuquerque, é a personificação dos piores personagens da política nacional. “Cunha se identifica com o que há de mais perverso, mais cafajeste e mais patife na política brasileira. Ele e todos os Caiados, Agripinos e Maias. Ele odeia, assim como a elite, o povo, as mulheres e a juventude”, afirmou.

Para refrescar a memória de muitos, o presidente da CUT Espírito Santo, Jasseir Fernandes, lembrou que a privatização promovida por quem antecedeu Lula e Dilma, traz prejuízos até hoje, como o rompimento da barragem na cidade mineira de Mariana.

“A terceirização é estratégia montada para fazer com a Petrobrás nada menos do que fizeram com a Vale do Rio Doce, que terceirizou as suas atividades com a Samarco e não mostrou compromisso com a classe trabalhadora e com a sociedade. As empresas ficam com os lucros e a sociedade com os efeitos do desastre”, salientou.

Por trás do golpe

Para o presidente da CUT São Paulo, Douglas Izzo, é preciso dar um cavalo de pau na arapuca armada pela Lava-Jato, construída para acabar com empregos. “Queremos que os corruptos sejam condenados, mas os trabalhadores da construção civil não podem pagar a conta”, disse.  

O dirigente paulista lembrou que no dia 16 deste mês haverá um grande ato em São Paulo contra o golpe, com concentração na Avenida Paulista. “Vamos dizer lá, o que dissemos aqui: Não vai ter golpe!”

Para o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, o responsável por liderar o processo de impeachment é um chantageador das empresas identificadas na Lava-Jato e que conta com a complacência de seus pares no Congresso. “É um absurdo que ainda esteja solto. Mas homens e mulheres estão se unindo com isso porque querem a retomada dos investimentos, com geração de emprego e de renda para todos. E uma das poucas empresas que pode fazer a economia girar é a Petrobras que não tem um bando de ladrões como a mídia tenta passar, mas trabalhadores que a fazem ganhar prêmio após prêmio, inclusive por ter descoberto o pré-sal.”

Fonte: CUT