A primeira parte, “Arquivos, justiça, reparação e direitos humanos na América Latina” é constituída de seis artigos e dá uma visão bastante ampla sobre o tema.
Ramon Alberch i Fugueras, renomado arquivista espanhol, contribui com reflexões e informações referentes a uma esfera que considera tão diversificada como é a vinculação dos arquivos com os direitos humanos.
Maria Luisa Ortiz Rojas, do Chile, em seu artigo, relata sobre as comissões da verdade que funcionaram em seu país, mostra o papel dos arquivos na luta por justiça e reparação e apresenta o Museo de la Memoria y los Derechos Humanos.
Já Rosa M. Palau, do Paraguai, traz um relato sobre os arquivos da polícia política do ditador Alfredo Stroessner, encontrados em 1992, e que foram fundamentais para os trabalhos da comissão da verdade naquele país e para comprovação da Operação Condor.
O artigo seguinte, de Velia Muralles, trata do Arquivo Histórico da Polícia Nacional Guatemala onde reflete sobre a contribuição da descoberta desse arquivo para a aplicação da verdade e a luta contra a impunidade em seu país.
O pesquisador Vicente Rodrigues, do Arquivo Nacional, discute a experiência do Centro de Referências das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985) – Memórias Reveladas.
A primeira parte do livro é concluída com o artigo Edgar Castro Lasso e Girolamo Treccani e trata dos acordos de paz na Colômbia e a perspectiva de uma comissão da verdade naquele país.
A segunda parte, “As Comissões da verdade e os trabalhadores”, contém quatro artigos, iniciando com o de Rosa Maria Cardoso da Cunha, que integrou a Comissão Nacional da Verdade (CNV).
A autora faz uma breve introdução sobre o tema, apresenta a CNV, suas principais conclusões e destaca o Grupo de Trabalho dos Trabalhadores/as.
O historiador Rafael Leite Correa conta como se deu a criação da Comissão da Verdade de Pernambuco, seus objetivos, pesquisas, e dá ênfase a relatoria sobre os trabalhadores e o movimento sindical.
O sindicalista da CUT Márcio Kieller, que integrou a Comissão da Verdade do Paraná, discorre sobre a sua composição, as atividades desenvolvidas com destaque para as audiências públicas com os trabalhadores.
Por fim, Girolamo Treccani trata da Comissão Camponesa da Verdade do Pará e os trabalhos desenvolvidos. Discute a questão fundiária, os conflitos pelas terras, a violência contra os camponeses, que levaram a centenas de assassinatos de trabalhadores rurais.
A terceira parte, “A aliança empresarial-policial durante as ditaduras” é formada por dois artigos. Victoria Basualdo, da Flacso, Argentina, trata entre outros temas, da responsabilidade empresarial na repressão aos trabalhadores durante a ditadura argentina.
O professor Pedro Campos, a da UFRRJ, discute em seu artigo a relação entre “empresários, Estados e os acidentes de trabalho dos operários da construção civil durante a ditadura civil-militar no Brasil”.
As pesquisas sobre as relações entre empresas e ditaduras precisam ser incentivadas e aprofundadas. Por isso, a relevância da Rede de estudos sobre “Processos repressivos, empresas, trabalhadores/as e sindicatos” surgida em um seminário organizado pela Flacso em março de 2018.
A quarta e última parte da obra “Trabalho, gênero, raça e sociabilidade no mundo dos trabalhadores” é constituída por quatro artigos que, entre outras questões, destacam o acesso aos documentos e aos arquivos. Rafael Soares Gonçalves, da PUC Rio, tratando da memória dos trabalhadores das favelas cariocas, constata que é precária a sobrevivência de fundos de arquivos sobre as lutas e o cotidiano dos seus moradores.
A professora Lidia Possas, da Unesp/Marília, tendo como fontes arquivos remanescentes de uma companhia ferroviária e entrevistas, discorre sobre a atuação das mulheres e suas ocupações no espaço público e no trabalho ferroviário.
O artigo de Álvaro Pereira Nascimento, da UFRRJ, analisa as desigualdades no mercado de trabalho provocadas por formas de discriminação de raça e gênero na sociedade brasileira.
O artigo de Lorena Almeida Gill apresenta o Núcleo de Documentação da Universidade Federal de Pelotas e pesquisas em seus acervos que tiveram essa temática como destaque. Uma primeira sobre gênero, etnia e saúde. A segunda discute a população negra em Pelotas. A terceira trata de uma fábrica da localidade e seus espaços de sociabilidade.
Esse livro se soma aos três livros eletrônicos com os artigos apresentados nas sessões de comunicações do seminário, lançados entre o final de 2016 e início de 2017. Com isso, é possível ter amplo conhecimento sobre a discussão proposta pelo 4º Seminário Internacional o Mundo dos Trabalhadores e seus Arquivos: Memória, Verdade, Justiça e Reparação.