“Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção”,
Trecho da poesia “Operário em Construção” de Vinicius de Moraes
Com o poema“Operário em Construção” de Vinicius de Moraes e cartazes espalhados no plenário com dizeres como “ensinar não é transmitir conhecimento, ensinar exige alegria e esperança, ensinar existe criticidade e ensinar exige disponibilidade para o diálogo” foi lançado na manhã desta terça (15), na sede nacional da CUT, em São Paulo, o “Núcleo Mundo do Trabalho e Educação”.
A secretária-geral adjunta da CUT, Maria Aparecida Faria, destacou que “falar em educação é muito mais do que ler ou escrever”. Para ela, educação é a compreensão da sociedade, do mundo do trabalho e do nosso papel na sociedade. “Esse novo núcleo será o espaço que teremos para discutir a educação que queremos para enfrentarmos os desafios colocados”, sintetizou.
Na verdade, o núcleo está sendo reconstruído, pois um fórum semelhante funionou por alguns anos na década de 1980, a partir da fuindação da CUT. A partir de agora, ele terá como principal objetivo realizar o debate sobre educação profissional na disputa política-ideológica junto à classe trabalhadora, para fortalecer o projeto sindical CUTista.
“Agricultor quer debater educação, metalúrgico quer debater educação, bancário quer debater educação e nós precisamos construir esta demanda tão importante para o desenvolvimento e para emancipação humana de todos os trabalhadores e todas trabalhadoras”, explicou a secretária de Formação da CUT Nacional, Rosane Bertotti, na abertura da atividade.
Com o auditório lotado de sindicalistas nacionais e internacionais, assessores e representantes da academia, foi ressaltada a importância da CUT definir uma nova estratégia de intervenção no campo da educação profissional no momento atual da retomada neoliberal e o desmonte das políticas públicas.
O governo ilegítimo de Michel Temer acabou com espaços de participação social dos movimentos organizados na construção de políticas públicas, ataca todos os dias os direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, aprovou uma Emenda Constitucional que congela por 20 anos os recursos para saúde e educação, reformou o ensino médio sem discussão nenhuma com a sociedade civil, abrindo oportunidades para privatização da educação, entre outras.
Para o dirigente da CONTEE, José de Ribamar Barroso, nós não conseguimos fazer o contraponto ideológico para barrar estes retrocessos para a classe trabalhadora, mas o núcleo pode ajudar a mudar esta realidade.
“A CUT tem um legado e precisa ser resgatado. A organização no local de trabalho é fundamental para fazermos a formação profissional de base e o núcleo nos traz esta esperança”, elogiou o dirigente.
Rosane Bertotti também destacou a importância de termos uma discussão no viés da classe trabalhadora e citou como exemplo uma apresentação que ela assistiu em San José, capital da Costa Rica na 43ª Reunião da Comissão Técnica do Centro Interamericano para o Desenvolvimento do Conhecimento em Formação Profissional (Cinterfor), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que aconteceu na semana passada. Ela contou que um representante do Senai (serviço Nacional da Indústria), em alto e bom som, disse que a qualificação profissional deve vir a partir dos empresários e que o diálogo deve ser com as empresas, que são as que pensam e atuam com este segmento.
Representante da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação), Marta Vanelli, lembrou que nesta terça (15), além da criação do núcleo, movimentos direitistas estão percorrendo o país, apresentando o projeto da Escola Sem Partido, conhecida como Lei da Mordaça, para mais de 100 Câmaras de Vereadores. Marta também enfatizou que a Reforma do Ensino Médio (MP 746) destrói o ensino e coloca a educação no processo mercadológico. Para ela, este núcleo da CUT assume um papel ainda mais importante e amplo do que aquele pensado originalmente, no ano passado, no Seminário Nacional de Educação e o Mundo do Trabalho e denuncia: “É obvio que a MP inclui a educação profissional para treinar os brasileiros e as brasileiras serem mão de obra precarizada se adequando com a Reforma Trabalhista”.
A secretária de Política Sindical e Educação da CSA (Confederação Sindical das Américas), Amanda Vilatoro citou uma frase de Paulo Freire para nortear as discussões do núcleo: “Não existe Educação neutra” e ela complementa “nem formação profissional”. “A CUT está fazendo história intervindo na disputa da formação profissional. O núcleo será um espaço de resistência e luta e a CSA ajudará no quer for preciso”, complementou.
Da esquerda pra direita: João Antônio Felício, Amanda Vilatoro, Sandra Regina Garcia, Sueli Veiga, Quintino Severo e Antônio AlmericoPara a representante da Confetam (Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal), Velani de Souza Oliveira, é desafiador este núcleo em tempos de ataques ao mundo do trabalho e da educação. “O golpe nos deixou claro que não existe a consciência de classe, como mostra o poema de Vinicius de Moraes. Precisamos resgatar a consciência de que somos capazes de transformar a sociedade que estamos inseridas”, finalizou.
Também foram lançados na atividade, a plataforma Nacional de Formação, que aglutinará memórias e registros, materiais de estudo, EAD (Ensino a Distância), Chats e Fóruns, e o curso de formação, com caráter de pós graduação para dirigentes “Sindicalismo e Trabalho” em parceria com o Dieese.
Na parte da tarde da terça, aconteceu a primeira reunião do Núcleo Mundo do Trabalho e Educação, que inclui especialistas da academia, do movimento sindical nacional e internacional.