A Central Única dos Trabalhadores realizou na manhã da última sexta-feira (20/02), um seminário regional para discutir a crise financeira internacional, sua origem e conseqüências para os trabalhadores e os caminhos para enfrentá-la.

O economista do Dieese, Ricardo Franzoi, salientou que a crise financeira internacional é mais um reflexo do sistema capitalista, e que dentro do capitalismo as crises são normais. Porém, diferente das crises anteriores, esta é a primeira crise pós liberalização dos mercados financeiros. "Nos últimos 30 anos, os EUA, que é responsável por 30% do PIB mundial, provocou várias crises com reflexo nos demais países. A partir da globalização do mercado financeiro, na década de 80, o mundo todo sofre os efeitos da crise gerada pelos EUA, que começou com o setor imobiliário. Acontece uma flutuação, com períodos de recessão e crescimento. O que caracteriza as crises – períodos de recessão – é a queda do PIB, índice que mede a produção de bens e serviços de um país, ocasionando o travamento de crédito, que é o combustível da economia", explica.

Segundo Franzoi, a chamada "globalização" financeira, garantiu que os ricos acumulassem ainda mais riqueza, gerando mais desigualdade com reflexo imediato nos empregos. Ele observa que cada país tem suas particularidades. "No Brasil, boa parte do crescimento e do PIB se dá através das exportações. Com a crise internacional, havendo queda das exportações, houve travamento da economia, O período mais crítico foi o último trimestre de 2008, que não se repetiu em 2009", coloca. Segundo o economista, a tendência é a situação melhorar: "A saída para a crise são políticas públicas e elevação dos gastos sociais por parte dos governos". Conforme Franzoi, o governo deve buscar implementar medidas tais como crédito para exportação, continuação do bolsa família, aumento do salário mínimo, desoneração fiscal, diminuição das taxas de juros – no Brasil estão as maiores taxas cobradas do mundo. "Os países causadores da crise, como EUA e também Japão, não estão conseguindo sair dela. Quem vai conseguir reverter essa crise são os pobres, assalariados, trabalhadores. Por isso, a prioridade hoje deve ser transferir renda aos mais pobres e não cortar postos de trabalho, incentivando assim o consumo interno", finaliza.

"As empresas estão usando o discurso da crise como desculpa para demitir funcionários", observa Sílvio Arend, doutor em Economia e professor do PPGDR da Unisc. Para ele, houve uma crise de confiança no sistema capitalista, e para as empresas é mais fácil demitir do que se desfazer dos investimentos nos momentos de crise. "Na região não são todas as empresas que exportam sua produção, por isso a desculpa da crise para demitir não é verdadeira. Não são todas as empresas que são afetadas", salienta.

Já o representante da CUT RS, Loricardo de Oliveira, coloca que a Central Única dos Trabalhadores está fazendo a campanha "Querem lucrar com a crise. A classe trabalhadora não vai pagar esta conta", com mobilizações em todo o país. "As empresas se utilizam do atual contexto econômico para defender seus interesses, e os trabalhadores precisam se organizar para não cair no jogo dos patrões. A nossa luta é contra o corte de empregos e redução de jornada e de salários. Queremos desenvolvimento com emprego e renda", diz.

Conforme a coordenadora da CUT Regional Vales do Rio Pardo e Jacuí, Mariane Castagnino, "os direitos e acordos coletivos foram conquistados pelos trabalhadores ao longo dos anos com muitas ações, luta e mobilização. Por isso não devemos nos deixar enganar pelos patrões em época de campanha salarial e negociações". Em tempos de crise, segundo Mariane, é que os trabalhadores devem mostrar sua força pra defender seus empregos e direitos.

Fonte: Melissa Braga – Seeb Santa Cruz do Sul e Região

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