Depois de serem aprovados no concurso, os funcionários do Banco do Brasil são chamados para o trabalho através de uma ligação ou telegrama. Eles se sentem orgulhosos de sua colocação no concurso, suas famílias os parabenizam e se tranqüilizam. Todos pensam que se iniciará uma jornada de muitas possibilidades na empresa maravilhosa que os recebe com tantos benefícios e créditos, empresa continental. Pensam que serão inúmeras as possibilidades e, depois de um treinamento mínimo de uma ou duas semanas, vão para as agências. No movimento sindical chamam este momento de primeiro "D". D de DESLUMBRE.

Deslumbrados, chegam à agência e logo percebem que são muito necessários e se perguntam como os colegas estavam se virando sem eles. Percebem que em dias de pagamento uma multidão enche a agência e os colegas mais experientes não têm tempo para ajudá-los. Ou melhor, não há tempo nem para respirar ou ir ao banheiro, e é preciso se virar.

Seis meses depois lhes oferecem uma comissão ("Ora, ora… Promovido com tão pouco tempo, devo ser muito bom mesmo!"). Em casa, novo motivo de comemoração e orgulho: uma comissão que vai mudar o nome de sua atividade – porém, na prática, a atividade continua a mesma – só que com uma jornada de 8 horas e com intervalo de uma hora de almoço ("Mas não tinham dito que bancário trabalha 6 horas? Que é lei? Conquista da luta da categoria com anos de mobilizações e greves? Ué?"). O certo seria ser comissionado sem que sua jornada fosse alterada, ou receber pela 7ª e 8ª hora de rotina. Comissão não é hora extra e, se calculada, ela não pagará estas duas horas a mais que se está trabalhando, e que se fossem horas pagas como horas extras, deveriam ter adicional de 50% conforme o acordo coletivo.

Comissionado, como ele é agora, não faz greve, por isso é melhor deixar este pensamento "vermelho" para lá. Provavelmente, comissionados não são mais bancários, pois trabalham 8 horas, alguns dias até mais (e como o ponto eletrônico incomoda!) Como algumas atividades não são possíveis após o horário, ele acaba separando aquelas que não precisam de acesso ao sistema para fazer depois do fim da jornada, ou antes dela começar, burlando o ponto eletrônico. Afinal, comissionados devem se dedicar mais.

Com mais crédito a disposição, o funcionário aumenta dívidas pessoais, compromete sua margem aumentada pela comissão e passa a temer as ameaças de descomissionamento (prática muito comum de alguns gerentes). O funcionário passa também a precisar de sua PLR (Participação nos Lucros e Resultados) para cobrir parte do endividamento. Precisa lembrar de ligar para o Sindicato, e espera que o Sindicato aceite logo qualquer acordo com o Banco para, finalmente, receber a PLR.

Ele começa a ficar esgotado e sem disposição para estudar ou para conviver mais com sua família. Fala do banco com a família bem mais do que gostaria e vê que sua vida se resume a: chefe, clientes, colegas, vendas… ou melhor, vendas, clientes, chefe, chefe, vendas, clientes… sabe-se lá a ordem da pressão. E os pobres colegas de infortúnio estão todos esgotados, alguns doentes, afastados. Os "coitados", que fazem uma tremenda falta, pois gerentes não podem repor funcionários afastados e quem está na agência fica sobrecarregado demais.

Por mais que o funcionário se esforce, não tem para onde crescer. A tão deslumbrante carreira parece inacessível agora. Da comissão fica difícil sair (nem se morrer alguém), pois quando surge uma vaga vem colega de fora, às vezes com rebaixamento de salário, apenas para mudar de cidade ou de agência (tem algumas agências que são muito piores que outras – cheias de gente, não se vence o trabalho, e a pressão é enorme). O pessoal não quer ficar no interior e sacrifica o salário para vir para uma cidade maior. O funcionário se sente, então, "desiludido". No movimento sindical chamam este momento de segundo "D". D de DESILUSÃO.

O funcionário se inscreve, então, no TAO (sistema de talentos e oportunidades), em que o banco analisa currículos para promover funcionários. O sistema é muito concorrido, milhares se inscrevem buscando uma oportunidade… doce ilusão. No movimento sindical, chamam o TAO de "Tenta Amanhã Otário".

O funcionário vê que sua agência é um inferno e que seus colegas ficam doentes com freqüência – pelo menos um deles falta, quando não dois ou três no mesmo dia. O tempo passa e ele não consegue ir para um lugar melhor. As pressões são as mais variadas: o gerente cobra o cumprimento de metas de vendas dos produtos bancários e o funcionário sente-se esgotado, ou deprimido, pois os clientes o xingam, falam alto na agência. A maioria está lá com problemas, com pressa e raiva e querem soluções, não espera. Os clientes se estressam, pois a espera é inevitável, mais ainda em dias de pagamento. A agência é pequena e não comporta tantas pessoas dentro. Não há espaço físico e, em algumas, falta ar.

O funcionário percebe que é uma tolice a sonhada jornada de seis horas, pois a lei não será cumprida e todos acham normal trabalhar oito ou mais horas por dia, sem receber horas extras. Normal é ser explorado, normal é ser desrespeitado, é não cumprir a lei quando se trata de direito trabalhista.

Chega, então, um "bendito" novo funcionário na agência. E o antigo funcionário tem ainda que ensiná-lo e sorrir para mais um querendo crescer por lá. As responsabilidades, dívidas pessoais e metas só aumentam. Os funcionários não vencem as pressões e procuram a CASSI (plano de saúde dos funcionários). Quando o já antigo funcionário pára pra pensar, fica desesperado. Tenta estudar para outro concurso, afinal, se foi selecionado entre milhares, pode passar novamente. No movimento sindical chamam este momento de terceiro "D". D de DESESPERO.

Caros colegas, dispor de tempo para viver, ter um ambiente de trabalho saudável e ganhar dinheiro suficiente é qualidade de vida. O Banco do Brasil ainda é do povo brasileiro e deve servir de exemplo para os demais bancos do país, respeitando os direitos de seus funcionários.

Artigo de Ana Smolka, dirigente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e funcionária do Banco do Brasil.

Fonte: Contraf-CUT

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