Alçado por um golpe à condição de presidente da República, Michel Temer (PMDB) agora vive dias de agonia à frente de um governo moribundo por não ter sido capaz de acelerar a entrega de dois produtos fundamentais: a Reforma Trabalhista e a Reforma Previdenciária.
A avaliação é do presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, para quem os financiadores do golpe decidiram optar por alguém com maior popularidade (segundo pesquisa Datafolha de março deste ano, Temer é rejeitado por 55% dos brasileiros) e blindagem superior.
Portanto, explica Vagner, é mais provável que a escolha no caso da queda de Temer não seja pelos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ou do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), mas mire a ministra do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, que se reuniu no início de maio com empresários para discutir reformas.
Diante desse cenário, o dirigente aponta que o foco da luta da classe trabalhadora deve ser, em primeiro lugar, derrubar as reformas e, depois, a realização de eleições diretas com a participação do povo. E aponta que há clima para nova Greve Geral.
Para ele, somente esse cenário seria capaz de reestabelecer a democracia e a confiança na frágil conjuntura política e econômica. Confira abaixo a entrevista:
Qual peso dos atos no próximo dia 24, em Brasília, para a retomada da democracia?
Vagner Freitas – O dia 24 não é o fim de uma trajetória, mas dá continuidade à nossa luta. Fizemos uma grande Greve Geral, os atos de domingo foram bons e o dia 24 já tinha sido chamado antes mesmo da gravação da JBS comprometendo o Temer.
Porém, as manifestações, é bom frisar, são focadas na proposta do governo das reformas Trabalhista e Previdenciária. Esse é o ponto central dos atos do dia 24. Claro, também iremos defender as Diretas Já, o Fora Temer e a assembleia nacional Constituinte. Mas o que dá unidade a esses protestos é a questão da retirada das propostas.
O trabalhador precisa entender que o motivo de uma parcela da direita brasileira, junto com a mídia, de querer colocar e agora tirar o Temer é pura e simplesmente para fazer reformas. A parcela da mídia e da direita que agora quer o fim do governo Temer é porque não tem condições de entregar o produto, fazer as reformas. E quer colocar no lugar dele qualquer um que seja, de maneira indireta, um outro que venha a fazê-las.
Por isso as reformas e as Diretas Já estão absolutamente juntas. Se você tem o Fora Temer e eleição indireta, significa que as reformas continuam, causando um grande prejuízo, tanto para o Estado brasileiro, quanto para os trabalhadores e a economia. O dia 24 se reveste de maior importância por conta da conjuntura política que vivemos.
O trabalhador não pode aceitar o golpe dentro do golpe. Quando pensa ‘por que ao invés de só discutir nossos direitos vai lá discutir política?’ Porque uma coisa ter a ver com a outra. Se consegue colocar o Temer para fora, mas adotam a eleição indireta, as reformas Trabalhista e da Previdência passam.
Conseguimos barrar isso até agora, então, temos que continuar construindo, mobilizando, acredito em um ato de muita gente, mas precisa dar continuidade. Temos que estar em luta até alcançarmos as eleições diretas, porque é a chance que temos de eleger presidente e um Congresso Nacional que não seja aliado a quem quer fazer as reformas.
A CUT dialoga constantemente com seus interlocutores no Congresso. Como está hoje a situação do parlamento em relação às reformas?
Vagner – A agenda das reformas continua e amanhã pela manhã a CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) vai discutir no Senado a Reforma Trabalhista. Esperamos que a oposição consiga obstruir esse tema. Querem fazer à revelia do povo, mas 90% dos brasileiros são contra. Por isso é importantíssimo o ato e a participação de todos.
A situação do Temer cria condições para uma nova Greve Geral?
Vagner – Cria. A Greve Geral é atrelada às reformas. Fizemos dia 28 e podemos fazer outra porque estamos dizendo que não vamos aceitar o ataque aos direitos trabalhistas e à aposentadoria. Claro que hoje a Greve Geral também acrescentaria a bandeira pelas Diretas Já. Ou conseguimos barrar as reformas ou teremos, inevitavelmente, outra Greve Geral.
A CUT cobra, em caso de saída de Temer, eleições diretas, mas isso depende de mudança constitucional ou da cassação da chapa Dilma-Temer. Qual você acha o caminho mais viável?
Vagner – O primeiro artigo da Constituição diz o poder emana do povo e em nome dele deve ser exercido. E o povo quer votar. Há uma proposta do deputado Miro Teixeira que defende esse caminho, do voto popular, mas o importante é sairmos da crise.
O Brasil precisa ter uma luz no fim do túnel, o país precisa voltar a crescer, ter desenvolvimento, parar o desemprego, parar essa bandalheira política. Como um golpista indiciado manda uma proposta de retirada de direitos para um Congresso majoritariamente corrupto? Não cabe isso.
A única forma de voltarmos à normalidade política é com um governo que tenha credibilidade e legitimidade. Para isso precisa ser eleito e precisa também fazer a eleição de um novo Congresso Nacional. Porque não adianta fazer a eleição do presidente da República no Congresso que está aí. Nossa proposta é eleição geral e Constituinte para fazer a reforma Política.
Roberto Parizotti