Crédito: AL-RS
Na abertura do evento, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ivar Pavan (PT), afirmou que um dos desafios atuais é compatibilizar desenvolvimento com proteção ambiental: "Isso só se viabilizará com a intervenção do poder público, ancorado na democracia", ponderou. Segundo ele, pelo fato de o Brasil ter adotado as políticas defendidas pelo FSM, teria sido um dos últimos países a entrar na crise mundial e dos primeiros a sair.
A mesa de painelistas do seminário foi formada pelo geógrafo inglês David Harvey; pela cientista política norte-americana Susan George; pelo economista e secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, Paul Singer, e pelo coordenador nacional da CUT, João Felício.
Economia solidária
Para Paul Singer, a curto prazo o Brasil precisa reduzir o desemprego para fortalecer os sindicatos, os movimentos sociais, e o lado da sociedade que quer mudanças. "A crise financeira ainda não está bem resolvida. No Brasil ela praticamente acabou, e neste ano, provavelmente a economia volta a crescer", analisou. E acrescentou: "Há países estagnados, também socialmente, e a economia neoliberal mostra-se ofensiva, o que pode levar a um novo episódio de crise financeira".
Ao falar sobre alternativas para o desenvolvimento da sociedade, Singer manifestou-se sobre o crescimento da economia solidária brasileira, afirmando que "o sonho não é só um sonho, está ao nosso alcance". Ele considera que a economia solidária dá certo porque tem recebido incentivo e apoio, mas também porque "dá certo em felicidade humana, e não apenas em reais ou dólares".
O economista afirmou que a realidade histórica mostra que é possível sair da crise deixando de lado alguns dogmas neoliberais. ´"É preciso garantir para a nova geração trabalho decente e mais democracia. Esta é a grande tarefa". Ao concluir, também revelou otimismo em relação ao desenvolvimento da sociedade e existência humana, dizendo ser preciso ter fé na racionalidade humana e na inteligência dos trabalhadores. "Temos boas chances de ganhar", encerrou.
Relações trabalhistas
O coordenador nacional da CUT, João Felício, defendeu a discussão de acordos que considerem não somente as necessidades imediatas dos trabalhadores, mas também as mudanças que se pretende fazer no mundo. O sindicalista considera que o modelo econômico neoliberal fazia com que os trabalhadores ficassem na trincheira, não para atacar, mas tão somente para se defender.
"Estamos apostando que o neoliberalismo não retome mais o poder político no Brasil. Na atual fase, temos que sair da defensiva, ir para o ataque para construir a sociedade que queremos".
O representante da CUT afirmou ainda que a solução não estará em um governo ou um partido. "É preciso questionarmos que tipo de socialismo e que tipo de sociedade queremos".
Crise além da economia
Para a cientista política Susan George, a situação vivida no mundo não é apenas uma crise, mas várias: além da econômica, existiriam crises ecológicas e de conflitos internacionais, dentre outras. "Haverá novos motivos para conflitos, não só ocupacional, como no Iraque, mas devido a novas situações, como a necessidade de acesso a alimentos", ponderou.
A cientista política criticou a especulação financeira, por considerar que não contribui para a economia real e o bem social. Em sua explanação, Susan ressaltou que os ganhos do setor triplicaram desde a década de 20, e que a ciranda financeira acaba por ditar as regras para toda a sociedade.
"Por isso a conjuntura social está tão mudada, com tanta gente na pobreza. Um dos principais motivos é a especulação com commodities como milho, soja e trigo, e a transferência de terras para a produção de combustível", analisou.
Sobre a questão ambiental, Susan alertou ser preciso evitar que se chegue ao ponto em que não mais será possível retroceder. "O Planeta vai continuar e pode se sair muito bem sem nós", destacou, defendendo uma nova ordem de valores para o mundo, com a ecologia em primeiro lugar, a sociedade livre e democrática em segundo, e por último a economia, sempre a serviço da sociedade.
A respeito da economia a serviço da sociedade, Susan sugeriu medidas como o fechamento dos paraísos fiscais, "pois neles estão trilhões de dólares, pertencentes a poucas pessoas, e que não retornam em benefícios públicos", e o reflorestamento em troca do perdão de dívidas de países pobres.
Aliança humana
O professor de geografia humana da City University – Nova Iorque, David Harvey, defendeu a transformação do sistema vigente em uma nova ordem social, não dominada pelo capital. "A ideologia neoliberal diz que os problemas são sua falta, você é responsável. Os únicos que não são responsáveis são os pertencentes à classe capitalista, porque inventaram o comunismo capitalista", ironizou, apontando que em 2007 dois milhões de pessoas perderam suas casas nos Estados Unidos, representando prejuízo de US$ 40 bilhões.
"Já Wall Street concedeu bônus de US$ 32 bilhões àqueles que trouxeram a crise para o sistema financeiro. Ganhar bônus por fracassar, não é incrível?", admirou-se. "Para mudar o mundo, precisa-se de poder. Precisamos de uma grande aliança humana. Não podemos permitir que uma pequena parcela da classe capitalista domine tudo", concluiu.
Fonte: Agência de notícias AL/RS