Os Estados Unidos se tornaram o novo centro da epidemia do novo coronavírus no mundo. Com cerca de 400 mil casos, o país conta com 12.912 mortes. No mundo, a doença afetou 1.450.343 pessoas e matou 83.568, segundo a Johns Hopkins University, que faz o levantamento em tempo real dos números da pandemia.
Segundo levantamento feito pelo jornal americano The New York Times, realizado com base em dados divulgados pelos estados, as taxas de contaminações e morte pela Covid-19 são muito maiores na população negra dos Estados Unidos. As diferenças de incidência são desproporcionalmente maiores do que em brancos.
De acordo com a pesquisa, os números de afrodescendentes infectados e mortos podem ser ainda maiores, pois as estatísticas são preliminares porque várias cidades e estados não reportam a etnia dos novos casos e mortes de Covid-19. Mas, onde é feita esta distinção racial, a disparidade entre negros e brancos é alarmante.
No estado de Illinois, 43% das pessoas que morreram pela doença e 28% das que testaram positivos eram afro-americanas, um grupo que compõe apenas 15% da população estadual. No Michigan, um terço dos pacientes é negro e 40% das mortes são dessa população, que representa 15% dos habitantes do estado. Em Lousiana, onde os afro-descendentes também representam um terço da população, 70% dos mortos pela Covid-19 eram negros e negras.
A Carolina do Norte e a Carolina do Sul divulgaram que a taxa de infecção na população negra excede a taxa da população em geral. Para especialistas consultados pelo Times, a disparidade entre os números é causada pela desigualdade social e racial de longa data no país.
Situação no Brasil
Em seu artigo “Negros e negras podem ser as maiores vítimas da pandemia no Brasil”, escrito em março deste ano, o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT e diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, Almir Aguiar, já alertava para os riscos da população afrodescendente se tornar a maior vítima do Covid-19 no Brasil.
“A desigualdade no país é mais um agravante na luta contra esta catástrofe pandêmica. Milhões de pessoas vivem em palafitas e favelas, muitas vezes com famílias grandes em pequenos cômodos, vivendo sem tratamento de esgoto, água potável de qualidade, com crianças brincando no meio de lixões. E, como comprovam os números oficiais, a desigualdade no Brasil tem cor. Em meio a esta massa de gente sem condições mínimas de saúde, sanitárias e de vida, estão, em sua grande maioria, negros e negras”, argumenta o sindicalista em seu artigo.
Almir lembrou ainda que a atual política econômica do ministro da Economia Paulo Guedes e do presidente Jair Bolsonaro de corte em investimentos sociais e dilapidação do estado agravam ainda mais o drama da pandemia no Brasil.
‘Está em jogo a proteção de milhões de vidas e são necessárias ações urgentes, principalmente nas favelas, periferias e nos grotões de miséria do Brasil. Isto inclui medidas para resguardar a economia, mas com justiça social através do resgate do estado de bem-estar social e dos investimentos públicos, e todo o extremo oposto ao que tem feito o governo Bolsonaro”, critica.
“Como nos EUA, em nosso país os negros e as negras serão os mais atingidos porque estão na base da pirâmide social, inteiramente excluídos. Esta pandemia expõe ainda mais a desigualdade secular em nossa sociedade e que se aprofunda ainda mais com a atual política econômica ultraliberal do ministro banqueiro Paulo Guedes”, completa Almir.