Conhecido como geração ‘nem-nem’, em 2017, esse grupo representava 23% do total de 48,5 milhões de jovens brasileiros, o que significa 11,2 milhões de pessoas que não trabalham nem estudam. De um ano para o outro, esse contingente cresceu 5,9%, o que equivale a 619 mil pessoas a mais do que o registrado em 2016 (21,9%).
Em 2014, antes do golpe de Estado que colocou no poder o ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) e aprofundou a crise política e econômica no País, o total de jovens que nem trabalham e nem estudavam correspondia a 13,9% das pessoas entre 15 e 29 anos – 6,8 milhões de jovens.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) divulgados nesta sexta-feira (18) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Redução da ocupação
De acordo com IBGE, entre 2016 e 2017, o número de jovens que trabalhavam recuou de 35,7% para 35%. Já o total de jovens que estudavam e trabalhavam caiu de 14% para 13,3%.
Não estudam
Em 2017, 25,1 milhões de jovens não estavam matriculados em nenhum tipo de curso de ensino regular, pré-vestibular, técnico de nível médio ou de qualificação profissional. Desses, 64,2% eram pessoas de cor preta e parda.
Desilusão com o futuro
Os dados da Pnad oferecem também informações sobre os motivos alegados pelos jovens para não estarem estudando. Entre os homens, 49,4% afirmaram que não estudavam porque trabalhavam ou porque estavam buscando emprego. Entre as mulheres, o percentual foi de 28,9% dos casos.
O segundo motivo mais alegado entre as mulheres para não estudarem são os afazeres domésticos e os cuidados de pessoas (24,2%).
Já no caso dos homens, o segundo motivo mais citado (24,4%) para não estudarem é a falta de dinheiro para pagar a mensalidade, o transporte, o material escolar ou outras despesas educacionais.
Esse é o caso do baiano Felipe Buisine, 26 anos, que teve de parar o curso de Bacharelado em Direito em uma universidade privada porque não tinha como pagar o financiamento. Ele resolveu trancar a faculdade no 8º semestre para não aumentar a dívida e hoje trabalha como motorista de aplicativo.
“Infelizmente, tive de escolher entre o estudo ou o trabalho. Até porque eu preciso do dinheiro pra quitar o financiamento do Fies em torno de R$ 60 mil. Tenho um ano e meio para pagar e, provavelmente, não conseguirei se não estiver trabalhando.”
Para ele, hoje em dia, ninguém mais consegue trabalhar na área que escolheu no curso de graduação. “Quando consegue, ganha uma mixaria. Daí tem de escolher se sustenta a faculdade ou se sobrevive.”
“Eu estou rodando por aplicativo aqui em Salvador e vejo gente formada em engenharia, designer, direito, administração, pessoas bem instruídas que estudaram em escolas boas ou fizeram faculdade pública, mas que estão trabalhando como motorista de aplicativo por causa da crise.”
Desmotivado, o jovem Felipe estuda como alternativa para o futuro uma saída a que muitos brasileiros recorreram nas décadas de 1980 e 1990 para driblar a desigualdade e a falta de oportunidades: cursar inglês em outro país.
“Eu tenho 26 anos e, sinceramente, penso em sair do país para fazer um curso de inglês, porque aqui não dá mais, não.”
“Hoje em dia, faculdade, no Brasil, é ilusão. Você investe cinco anos da vida e não tem o retorno que pensa que vai ter.”
Tatiana Melim e Luciana Waclawovsky