a2c9ae13-6d75-4878-aa8a-6c6679c79e62
a2c9ae13-6d75-4878-aa8a-6c6679c79e62WILSON DIAS/AGÊNCIA BRASIL

Brasília – A presidenta Dilma Rousseff fez sua segunda aparição pública após ter sido afastada do cargo na noite de ontem (23), com muitos aplausos e homenagens por parte de agricultores familiares, militantes, parlamentares e ex-assessores. O ato aconteceu durante cerimônia de abertura do 4º Congresso Nacional da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil (Fetraf), em Brasília.

Embora organizado previamente, o evento terminou sendo marcado pela defesa do governo da presidenta, onde os participantes atribuíram conquistas da agricultura familiar nos últimos 13 anos aos governos de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Fetraf diz não reconhecer o governo do presidente interino Michel Temer. A organização é ligada a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Ovacionada pelo público, a presidenta disse, em discurso, que as gravações publicadas ontem pelo jornal Folha de S.Paulo são uma prova do “caráter golpista desse processo de impeachment”.

O jornal revelou conversas do agora ex-ministro do Planejamento Romero Jucá em que ele sugere ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado um pacto para impedir o avanço da Operação Lava Jato. “Vamos ficar atentos para desfazer todas as iniciativas desse governo provisório e interino, em especial, a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Essa talvez seja uma das medidas mais graves tomadas pelo governo provisório”, disse Dilma.

A presidenta Dilma Rousseff destacou  que a gravação que mostra Jucá defendendo o seu afastamento, defende nitidamente um pacto nacional com o objetivo de interromper as investigações da Lava Jato. “Um pacto com caráter golpista e conspiratório que é este impeachment”, afirmou.

Governo sem representação

De acordo com Dilma, “em pouco mais de uma semana o governo já fez muitas coisas de forma incorreta. Um governo sem representação dos pobres, sem escutar agricultores familiares, sem mulheres, sem negros, que delega ao pó as lutas pela igualdade racial, a luta das mulheres, a luta dos direitos humanos, a luta da reforma agrária”.

Segundo ela, “se alguém ainda não tinha certeza que há um golpe em curso, baseado no desvio de poder, na fraude, as falas incriminadoras do Jucá e quem está por traz dele eliminam qualquer dúvida”. Para a presidenta, a gravação escancara “o desvio de poder, a fraude e a conspiração do processo de impeachment promovido contra uma pessoa inocente, sem nenhum crime de responsabilidade operante”.

A presidenta também fez uma referência ao presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem já chamou de “pecado original do golpe”. “O Jucá acabou de revelar que o impeachment é a melhor estratégia para parar a Lava Jato. Agora, um dos principais articuladores confessa involuntariamente: ‘sou golpista, somos golpistas, o golpe está em curso’. Aliás, Jucá diz na gravação uma frase muito pesada: ‘Michel é Eduardo Cunha’. Fica assim muito evidente o caráter espúrio desse impeachment”, acrescentou.

Fortalecimento da democracia

Demonstrando ânimo e força de vontade, Dilma Rousseff disse ter a certeza de que juntos, os brasileiros vão “derrotar os golpistas” e ajudar a  “fortalecer a democracia nesse país”. “Nós vamos voltar, de uma forma ou de outra”, acentuou. Após o discurso, a presidenta afastada desceu do palco e caminhou entre a plateia sob aplausos e palavras de ordem em defesa da agricultura familiar.

O evento contou com a presença de aproximadamente 1,2 mil representantes da agricultura familiar das cinco regiões do país do Brasil, que estão acampados no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade Sarah Kubitschek, em Brasília, para participar de oficinas temáticas para o fortalecimento da agricultura familiar – taos como reforma agrária, produção de alimentos saudáveis, fortalecimento das mulheres da agricultura e permanência dos jovens no campo.

Segundo a organização do evento, que é patrocinado pela Caixa Econômica Federal e também teve apoio da CUT e do governo do Distrito Federal, o objetivo do congresso é formalizar a luta social em defesa dos interesses da agricultura familiar.