Diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, fala sobre a importância de se defender a Caixa e os bancos públicos
“Nesse momento, precisamos resistir, resistir, resistir e virar o jogo”. Foi dessa forma que o diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Junior, abriu o quarto painel do 37º Congresso Nacional dos Empregados da Caixa Econômica Federal (Conecef), evento online realizado neste sábado (7), cujo tema era “A Caixa que queremos para o futuro do Brasil”.
Para Fausto, a luta a ser travada nesse momento não é só contra o governo Bolsonaro, mas também contra uma parte importante do Congresso Nacional e de um setor da sociedade que olha pela lógica privada.
O alerta feito pelo diretor do Dieese é para o risco de aprovação no Congresso da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 32, sobre a chamada Reforma Administrativa, uma ameaça direta aos serviços públicos prestados à sociedade. “A Caixa é mais do que um banco. É de certo modo uma grande agencia publica, aquele ente público que leva serviços necessários à população. Esse aspecto precisa ser priorizado nas nossas falas e na compreensão do que é a Caixa. É o oposto do que o atual presidente da Caixa diz, que fala que a Caixa tem que ter mais lucro. O mais importante é o resultado social da Caixa, de uma instituição que vem construindo o Brasil para os mais pobres. É ela que leva o benefício que os outros não podem levar”, destacou Fausto.
Números
Alguns números foram apresentados pelo diretor do Dieese para demonstrar a importância da Caixa e dos bancos públicos para a população e o país. “Mais de 60% das agências vêm dos bancos públicos. Quanto mais profundo a gente vai para o Brasil, mais longe ficam os bancos privados”, ressaltou Fausto. O diretor também informou que a Caixa responde por 20% do crédito do país e 27% do crédito para pessoa física. “A Caixa é responsável por 69% do credito imobiliário. São pessoas que dificilmente conseguiriam crédito para comprar suas moradias”, pontuou.
Na pandemia, foram mais de 120 milhões de pessoas atendidas pela Caixa em curto espaço de tempo. “Qual banco que teria a competência para fazer o pagamento do auxílio emergencial? A caixa movimentou quase 400 bilhões de reais na pandemia. Se não fosse a Caixa, a pandemia seria certamente muito pior”, afirmou Fausto.
Privatização indireta
O diretor do Dieese alertou para o que chama de privatização indireta. “Nem sempre a privatização é direta. É o caso da Petrobras, que sofre um desmonte gradual. E chama a atenção de como a Caixa vem perdendo a participação na operação comercial”, disse. Como exemplo do desmonte que a Caixa sofre, Fausto citou a redução do quadro de funcionários e mesmo a mudança nas regras do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). “A Caixa é a gestora do FGTS, um dos dois maiores fundos públicos do Brasil. O FGTS está sendo desconstruído pelo governo, é a mudança da retirada do saque. Precisamos denunciar porque isso é que viabiliza financiamento imobiliário”, ressaltou o diretor do Dieese.
A privatização dos Correios, proposta aprovada na Câmara e que será votada no Senado, é um alerta feito por Fausto. “A população não entende a privatização dos Correios. Só os Correios chegam no fundão do Brasil. Só a BR Distribuidora chega nesse fundão. Assistimos que o crescimento novamente se concentra nos estados do sul do país. As empresas que estavam no Nordeste começam a realocar. Precisamos explicar isso, sem as estatais, perdemos a capacidade de interferir na distribuição regional das riquezas”, alertou Fausto.
A retomada do crescimento econômico após a pandemia concentra avanços do neoliberalismo sobre três áreas: a logística, a produção de energia e o setor financeiro. No Brasil, esse avanço representa a tentativa de privatizar as grandes empresas públicas. “Estamos em meio de uma enorme revolução tecnológica. A pandemia acelerou essas mudanças. São mudanças que passam por áreas importantes como setor financeiro e o de logística. A principal bola da vez é a privatização dos Correios. O outro lado é o setor financeiro e a Caixa está sendo atacada. O grande embate é por energia e estamos vendendo Petrobras e sistema Eletrobras. Vamos ver que no mundo que surge após a pandemia o que está sendo vendido é o setor enérgico, o da distribuição e o setor financeiro. Precisamos resistir e saber jogar. Saber o que é estratégico e o que precisa ser preservado”, concluiu.
Fonte: Contraf-CUT