Crédito: Seeb Rio de Janeiro
O presidente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Almir Aguiar, negro e bancário do Bradesco, fala sobre discriminação e da coincidência de ter nascido em 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
O que significa para você esta coincidência de fazer aniversário neste dia 20?
Tenho muito orgulho deste fato. Ano passado fui homenageado pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio (Alerj), com o diploma Zumbi dos Palmares (foto). Tenho orgulho de ser negro e de ter conquistado tudo o que eu almejava, na medida do possível, com muita luta e trabalho.
Existe discriminação racial nos bancos?
Isto fica muito evidente quando você entra numa agência bancária e raramente vê um bancário ou bancária negro. Geralmente estão na retaguarda e nos departamentos. Mas este problema ocorre em todos os setores da economia.
Alguns anos atrás, o Ministério do Trabalho foi acionado contra o Shopping Iguatemi porque não havia nenhum trabalhador negro. Houve uma intervenção para reverter esta realidade, justamente em Salvador, a cidade com maior número de negros do país.
As estatísticas de mortalidade de jovens e adolescentes negros são assustadoras. O que você fazia quando tinha 12 anos? Você diria que pertenceu a um grupo de risco?
Nasci em casa, nas mãos de uma parteira. Isto foi uma situação de risco. Mas fora isto, nunca me senti assim. Estudei em escola pública e, lá, sentia a discriminação: os professores davam menos atenção aos alunos negros.
Percebia que, mesmo sendo uma escola pública, havia muito menos estudantes negros. Talvez porque tivessem que ajudar os pais em casa, cuidando dos irmãos menores, ou porque tinham que, já cedo, trabalhar. Mais tarde, já trabalhando no banco, talvez tenha sofrido algum tipo de discriminação porque fui colocado para trabalhar em um departamento e não numa agência.
Recentemente numa assembléia uma bancária me dirigiu palavras de cunho racista. Ela está sendo processada. Acho que isto é importante para mostrar que o racismo é crime e que precisa ser banido.
O que fazer para acabar com o racismo?
O problema da exclusão nos negros vem de longe. Com a abolição da escravatura, os assalariados passaram a ser, em sua maioria, imigrantes europeus. Os negros foram marginalizados, passaram a viver em guetos. Até hoje existe uma grande exclusão.
São necessárias políticas públicas de inclusão voltadas para a população negra. A polícia entra em uma comunidade, mas o Estado não leva para lá o saneamento básico, a saúde e a educação. Para mim, sobretudo a educação, é fundamental garantir a inclusão social deste segmento.
Fonte: Seeb Rio de Janeiro