De acordo com o levantamento, o montante gasto pelas famílias com juros em 2017 superou os R$ 291,3 bilhões gastos com alimentação fora de casa, os R$ 154,3 bilhões dos gastos com transporte urbano e os R$ 129,9 bilhões pagos em aluguel.

“São os bancos agravando a já absurda desigualdade social no Brasil”, critica Juvandia. “E fazem isso também quando demitem milhares de bancários, agravando a crise de desemprego que faz com que um em cada quatro brasileiros esteja à procura de um emprego.” Desde 2016 os bancos extinguiram 41.304 postos de trabalho, período em que viram seus lucros crescerem como sempre.

De acordo com Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomércio-SP, os gastos das famílias com juros devem continuar em alta, reforçado pela baixa concorrência bancária no Brasil. Diante do crédito escasso, bancos cobram quanto querem para emprestar, mesmo pagando menos para captar dinheiro, já que a taxa oficial de juro no Brasil, a Selic, está baixa. Em 2017, as despesas com juros absorveram 10,8% da renda das famílias, contra 9,5% no ano passado.

Bancos cobram risco de não receber, mesmo com inadimplência em queda

Carvalho explica que uma série de fatores influencia a taxa cobrada. “Uma delas é o risco que os bancos dão a uma operação, o que aumenta em momentos de incerteza. Como tivemos uma recessão grande, esse risco de não pagamento aumentou, o que foi colocado dentro da taxa de juros”, explicou em reportagem de O Globo.

A inadimplência no Brasil, no entanto, está em queda: foi de 3,3% em maio, menos que os 4% registrados 12 meses atrás pelo Banco Central.

Já entre as empresas, os gastos com juros no ano passado foram de R$ 120,8 bilhões, queda de 3% – um indicativo da retração no ritmo da atividade econômica, que inibe a tomada do crédito.

Para o professor Silvio Paixão, da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), para reduzir o peso dos juros na renda das famílias e das empresas, seria necessário haver a conjugação de três fatores: o crescimento do emprego, o que reduziria a percepção de risco por parte dos bancos; o aumento da renda disponível; e a maior oferta de crédito. “A perspectiva não é de queda, porque a renda das pessoas não aumentou. Elas então precisam fazer uso do crédito e, como não há espaço para amortizar essa dívida, acabam renovando essas operações”, avalia o professor na reportagem de O Globo.

“Mais uma razão para os brasileiros analisarem bem em quem votarão nas eleições de outubro”, diz Juvandia. “Qualquer programa de governo sério tem de ter propostas para a redução dos absurdos juros cobrados no Brasil, um dos mais altos do mundo. O fortalecimento dos bancos públicos, para fazer concorrência à taxa imposta pelos privados, é outro fator fundamental para o desenvolvimento do país.”

Fonte: Contraf-CUT