Consequências do desmonte da Petrobras no setor dutoviário: em apenas 4 anos, a estatal terá pago em aluguel o que recebeu pela venda
Há mais de um ano (em junho e agosto de 2016), o blog comentou aqui e aqui, detalhes em nota sobre a venda da malha de dutos de 2.050 km da da subsidiária TAG (Transportadora Associada de Gás) da Petrobras, instalada na região Sudeste, a de maior consumo do país, que tinha sido separada na empresa NTS (Nova Transportadora Sudeste) para o fundo financeiro canadense Brookfield.
O negócio depois de idas e vindas de recursos judiciais foi fechado pelo valor de US$ 4,23 bilhões. Pois bem, às vésperas da divulgação do balanço (resultados do 2º trimestre e 1º semestre) da Petrobras, nas entrelinhas das estimativas dos negócios, entre receitas e despesas da estatal, vem à tona, a estimativa feita pelo banco Credit Suisse, que a Petrobras terá agora que arcar com os custos relativos à contratação da capacidade de transporte nesta malha de dutos da NTS (que foi vendida à Brookfield), no montante despesa de US$ 1 bilhão por ano, que já deve estar no balanço do 2º trimestre deste ano.
Veja bem, vendeu a malha de 2 mil km de dutos por US$ 4,23 bilhões e agora já paga US$ 1 bilhão por ano de aluguel para usar esta malha que hoje transporta gás apenas, para, a agora cliente Petrobras. Ou seja, só em aluguel, em apenas 4 anos, a estatal terá devolvido o dinheiro recebido com a venda da malha instalada dos gasodutos.
É um desmonte e uma desintegração ardilosa das empresas subsidiárias (parte da holding) d Petrobras. Um crime de lesa pátria que deverá ser revisto em algum momento. No meio de tantas informações fragmentadas que explodem na mídia comercial e corporativa, é preciso algum trabalho, mas não muito, para se descobrir nas entrelinhas as negociatas.
Não se está falando de negócios e parcerias para construção de algo novo, uma infraestrutura, uma indústria, mas neste caso, é entrega do que já está pronto, vendido a preço vil, para ser alugado pela estatal como único cliente a preços na estratosfera, porque se trata de um negócio de monopólio. Se não pagar o preço pedido pelos novos donos da malha de dutos, a estatal não tem como escoar os milhões de m³ de gás extraído dos campos de petróleo das bacais de Santos (e Pré-sal) e de Campos.
Roberto Moraes, 58 anos, professor e engenheiro do IFF (ex-CEFET) em Campos dos Goytacazes,RJ. Pesquisador do NEED-IFF.