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temos_vagas.jpgClima de terror instalado após crise quer fazer acreditar que o trabalhador tem que escolher um ou outro. – São Paulo – As páginas dos jornais, desde que se instalou a crise financeira internacional, estão coalhadas de más notícias. Demissões, redução de salários, cortes, férias forçadas. As boas notícias – sim, elas ainda existem – passam ao largo das manchetes, quando muito em pequenas notas divulgadas de forma tímida.

Que há crise, não resta dúvida, mais fortemente instalada em alguns setores. No entanto, a reação pode ser mais rápida do que o esperado e tem empresa que nem foi prejudicada, mas está aproveitando o clima de terror para demitir e até mesmo recontratar por salários mais baixos.

Apesar de o Brasil ter uma das economias que menos sofreu no mundo com a crise, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), as demissões em massa têm arrasado o mercado de trabalho. Os empregos formais registraram em dezembro seu pior desempenho nos últimos dez anos, com o fechamento de 654.946 vagas com carteira assinada. O maior estrago ocorreu na indústria, que perdeu 273.240 vagas. O número de empregos nas montadoras brasileiras registrou em janeiro deste ano a terceira queda consecutiva. Somados os três meses de cortes, o setor aponta eliminação de 5.500 vagas. No comércio, depois de um final de ano dispensando trabalhadores em vez de contratar, como ocorre normalmente, o setor iniciou 2009 com um aumento de mais de 40% nas demissões.

"A crise não atingiu em cheio o Brasil, o patronato continua ganhando e muito. Via de regra, não há razão para demitir", diz o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, ressaltando as 400 dispensas no Santander em janeiro, apesar do lucro crescente do banco em 2008.

Faxina – Em momentos como esse, os empregos são tratados como algo secundário, erro crasso num país que tem sua economia eminentemente doméstica. Ao ponto de, ao se referir a um boato sobre demissões no Safra – demissões que não foram confirmadas -, o jornal Folha de S.Paulo dar como manchete da nota o termo "Faxina" (5 de fevereiro, coluna Mercado Aberto).

Para o sociólogo Gilson Caroni Filho, a maneira como a crise internacional tem sido noticiada não obedece a qualquer procedimento mais sofisticado. Em seu artigo "O terror econômico da grande imprensa", publicado pela agência Carta Maior, Caroni diz que não há qualquer preocupação por parte da imprensa em manter a imagem do próprio discurso como "imparcial" e "objetivo".

"O jornalismo de campanha pretende instalar o terror através dos conhecidos padrões de ocultação, inversão e fragmentação. Manchetes que ignoram a apuração para obter impacto não revelam incompetência, mas disposição de submeter o leitor e/ou telespectador à desinformação, ao fatalismo de profecias que se auto-realizam", comenta Caroni.

A mesma Folha de S.Paulo chegou a decretar na semana passada o fim da era de aumento real de salários, ciclo iniciado em 2004. A Rede Globo de Televisão fez uma enquete em que pergunta ao trabalhador se ele prefere reduzir seu salário ou perder o emprego. "Ora, que enquete fajuta é essa? A resposta está dada, é claro que todo mundo que preservar seu emprego. Na verdade, matérias desse tipo só servem para reforçar o discurso dos empresários de que é preciso reduzir os salários para manter os empregos", diz o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino.

Boato ou realidade – Em tempos de crise, a boataria ganha força, alimentada pelo receio dos trabalhadores e o oportunismo de alguns maus empresários. Foi o que aconteceu com a nota publicada pela Folha de S.Paulo. O jornal afirmava que naquele dia, 5 de fevereiro, aconteceriam 400 demissões, o que causou pânico entre os empregados. No entanto, o banco negou e o setor de homologação do Sindicato não detectou qualquer onda de desligamento em massa naquele banco.

Por outro lado, o Sindicato tem informações de que o Santander transfere do Real para as grandes concentrações do banco, como os Casas (Centros Administrativos), funcionários que serão dispensados. O objetivo é desligar o bancário de seu ambiente de trabalho, de forma que sua demissão não cause protestos.

"Esse é o momento de o bancário estar mais próximo do Sindicato do que nunca. Denunciar manobras como essas é fundamental para que a entidade possa agir em defesa dos direitos dos trabalhadores", afirma Marcolino. Informações confiáveis devem ser procuradas na sede da entidade, com os dirigentes sindicais ou nos veículos de comunicação do Sindicato, como a Folha Bancária e o site. "Estamos monitorando as dispensas e diante de qualquer situação anormal o Sindicato procura a direção do banco para saber o que está acontecendo", informa Marcolino. "A categoria bancária, além da crise financeira, está passando por três grandes processos de fusão e isso causa ainda mais insegurança aos trabalhadores. Só juntos, mobilizados, vamos superar essa fase com o menor desgaste possível." 

Boas novas: confira algumas notícias que dão conta de que o Brasil vai bem apesar da crise

Indústria – A produção industrial brasileira encerrou 2008 com expansão de 3,1%. O setor automotivo, que já havia tido o melhor ano da sua história em 2007, bateu novo recorde no ano passado, com a venda de 2,82 milhões de veículos, um acréscimo de 14,5%. No mês de janeiro, a produção de veículos disparou 92% ante dezembro e, assim mesmo, as revendedoras de automóveis registraram filas de compradores.

Comércio – O setor também pode comemorar o ano de 2008. A venda na rede de comércio varejista no Brasil aumentou em 4,2% em comparação com 2007, que já havia crescido 6,3% sobre 2006. Nos shopping centers, as vendas foram 9,5% maior no ano passado. Até o comércio eletrônico se deu bem com um faturamento de R$ 8,2 bilhões, 30% acima de 2007.

Bancos – O sistema financeiro continua muito bem de saúde, com lucratividade bem acima da média registrada por outros setores. Os bancos que já anunciaram seu balanço do ano passado – Bradesco e Santander – bateram novos recordes e ganharam, juntos, R$ 9,2 bilhões. Alta de 33,4% para o Bradesco e 3,68% para o Santander. A previsão do mercado financeiro é que o lucro consolidado dos quatro maiores bancos do país em 2008 deve crescer 15%. Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Unibanco devem ganhar, juntos, R$ 29 bilhões.

Exportações – As exportações também continuam de vento e popa no Brasil. Em 2008, a balança comercial teve superávit de US$ 24,7 bilhões, apesar da disparada das importações. Só na primeira semana deste mês, as exportações somaram US$ 2,74 bilhões, e as importações, US$ 2,27 bilhões.

Fonte: Seeb-SP /Fábio Jammal Makhou e Cláudia Motta