O empréstimo da União Europeia (UE) para socorrer os bancos da Espanha terá vencimento de 15 anos, taxa de juro de 3% ao ano e começará a ser pago somente em 2017. A informação é do jornal espanhol "El Mundo" em sua edição desta quarta-feira (13). O valor final e os detalhes do pacote de resgate de até 100 bilhões não serão conhecidos antes da próxima semana, quando será concluída uma auditoria do setor bancário encomendada pelo governo.

Três dias após o pedido oficial de socorro do governo da Espanha, a agência de rating Fitch anunciou o rebaixamento de mais 18 bancos do país, enquanto nos mercados financeiros os juros cobrados por títulos da dívida pública espanhola atingiam o nível mais alto de sua história. Mas a cinco dias das eleições na Grécia, que podem definir se Atenas fica ou sai da zona do euro, o foco da turbulência parece cada vez mais se deslocar para uma próxima vítima: a Itália.

O caos da economia da zona do euro cresceu ontem, com a degradação da situação espanhola e com as suspeitas crescentes sobre a solidez da Itália. A nova jornada de más notícias começou pela manhã, quando a Fitch anunciou o rebaixamento em bloco. Na segunda-feira, as notas do Santander e do BBVA, os dois maiores do país, já havia sido reduzida. Ontem, outras 18 instituições foram reclassificadas, entre as quais "os bancos muito expostos ao setor financeiro e de construção e aqueles com base de capital pequena".

Entre as instituições mencionadas, estão Caixabank, Sabadell e Bankia, todos classificados como BBB. Mare Nostrum, Liberbank e Unicaja receberam a nota BBB-, a última antes da perda do grau de investimento.

A decisão trouxe ainda mais instabilidade à Espanha. Nos mercados de dívida, o prêmio de risco das obrigações soberanas chegou ao ponto mais alto desde a adoção do euro: 6,8% para papéis com validade de 10 anos. As más notícias obrigaram o ministro da Economia, Luis de Guindos, a admitir que o país continua a enfrentar a desconfiança dos investidores. Para ele, a Europa enfrenta dias de "enorme volatilidade e tensão" às vésperas da eleição na Grécia, domingo, quando uma eventual vitória da extrema esquerda pode levar o país a sair da zona do euro.

Ainda sobre o resgate da Espanha, não está resolvido se os ? 100 bilhões virão do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), que será extinto dia 30, ou se do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o fundo que o sucederá a partir de julho.

Próxima vítima

Não bastassem as dúvidas que pairam sobre os dois países, cresce na Europa o temor de que a Itália seja contagiada. Na segunda-feira, a ministra de Finanças da Áustria, Maria Fekter, afirmou que o sistema bancário italiano também pode ser obrigado a pedir um resgate similar ao espanhol nos próximos dias.

"A Itália deve sair desse dilema econômico de altos déficits e dívida. Mas, naturalmente, é possível que o país precise de um auxílio, diante das taxas elevadas que a Itália já enfrenta para refinanciar sua dívida nos mercados", afirmou a ministra a uma rede de TV.

O comentário provocou a ira do primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, contra a falta de solidariedade na União Europeia. "É totalmente inapropriado que um ministro de Finanças de um país-membro comente dessa maneira a situação de outro país-membro. Me recuso a fazer qualquer comentário sobre as declarações", disse Monti.

O problema é que no mercado de obrigações as dívidas da Itália também alcançaram juros acima do considerado sustentável pelos mercados. Ontem, a taxa para títulos com validade de 10 anos chegou a 6,2%, trajetória bem parecida à taxa cobrada da Espanha há dois meses.

Para analistas, a crise na UE está se aprofundando nos últimos dias sem nenhuma intervenção dos dois países mais importantes, Alemanha e França. Nos bastidores, sabe-se que a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, François Hollande, negociam reformas na governança europeia, mas desde o resgate da Espanha nenhum comentário sobre as propostas na mesa foi feito.

"A situação da Espanha, por exemplo, é pior do que a da última semana", avaliou Nordine Naam, analista do banco francês de investimentos Naxitis.

Fonte: O Estado de S.Paulo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *