A premência da questão foi posta em destaque pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, que rebaixou os títulos de onze bancos espanhóis – entre os quais os do Santander, o maior da zona do euro em termos de capitalização de mercado. A S&P atribuiu sua decisão a preocupações em torno dos efeitos do encolhimento da economia espanhola e advertiu que cinco outros bancos correm o risco de sofrer rebaixamento semelhante.
Uma autoridade do Ministério da Economia disse na segunda-feira que o setor bancário espanhol está discutindo a criação de uma organização privada que assumirá os ativos podres dos bancos. Entre esses ativos estão empréstimos não quitados, como créditos não honrados remanescentes da implosão do mercado imobiliário. A nova organização aliviará também os bancos do encargo de tentar vender imóveis arrestados e os permitirá concentrar-se em fornecer crédito ao setor privado.
A autoridade, que falou sob a condição de manter seu nome em sigilo, em cumprimento às regras do ministério, acrescentou que o governo não injetará qualquer volume de recursos dos contribuintes na criação dessa organização, limitando-se a formular as regras de seu funcionamento. Os bancos poderão transferir ativos podres para a nova instituição apenas se já tiverem reservado dinheiro para cobrir os prejuízos causados por eles.
Não se sabe em que medida esse sistema ajudará os bancos do país, uma vez que muitos estão sem recursos e precisarão levantar capital para fazer as provisões previstas. A Irlanda, que, a exemplo da Espanha, sofreu o colapso de seu mercado imobiliário, criou um "banco podre" desse tipo em 2009. Usou, no entanto, dinheiro do contribuinte para comprar das instituições os ativos podres a preços reduzidos.
Um fator que reforçou as preocupações em torno da Espanha foi o recente anúncio do Instituto Nacional de Estatística de que o país entrou oficialmente em recessão no primeiro trimestre deste ano, quando a economia encolheu 0,3% comparativamente aos três meses anteriores. A contração segue-se à queda semelhante registrada no último trimestre do ano passado e conduz a Espanha à sua segunda recessão nos últimos três anos.
O estouro, em 2008, de uma bolha imobiliária que impulsionou a economia por mais de uma década sobrecarregou os bancos, principalmente os bancos de poupança (conhecidos como "cajas"), com enormes volumes de empréstimos não quitados. O Banco de España, o BC do país, diz que o setor ainda está curvado ao peso de cerca de ? 175 bilhões em ativos imobiliários "problemáticos". Há preocupações de que, num momento em que a economia em encolhimento da Espanha cobra seu preço sobre os bancos, o governo, e possivelmente os bancos internacionais, sejam obrigados a intervir para salvar o setor.
O governo já vem pressionando os bancos a fortalecer suas finanças por meio de fusões e lançou normas que exigem que os bancos façam reservas de um total estimado em ? 50 bilhões a mais em provisões até o fim de 2012 para cobrir seus ativos imobiliários podres.
No fim da semana passada, a S&P rebaixou a classificação de risco do país em duas marcas, de ‘A’ para ‘BBB+’, atribuindo a medida ao agravamento do déficit público, a preocupações em torno do sistema bancário e às sombrias perspectivas da economia.
No domingo, dezenas de milhares de pessoas saíram em passeata por toda a Espanha para protestar contra o pacote de reformas emergenciais e de medidas de austeridade. Mas, em discurso pronunciado naquele dia, o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, disse que o governo continuará a promover reformas, semana por semana, sustentando que a gravidade da situação exigia essa providência.
O ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos, reuniu-se ontem com o comissário antitruste da União Europeia, Joaquín Almunia, em Bruxelas, segundo uma porta-voz do Ministério da Economia que pediu anonimato. Ela preferiu não dar detalhes sobre a pauta de discussões.
Menos de três meses depois de enrijecer a legislação a fim de obrigar os bancos a reconhecer prejuízos mais profundos no setor imobiliário, a Espanha procura novas maneiras de convencer os investidores de que os prejuízos dos bancos não sobrecarregarão as finanças públicas.
Fonte: Valor Econômico